SAMANTHA LIMA DO RIO
Colaborou PAULA LEITE
Novidade do setor de petróleo e gás americano, os reservatórios de "tight oil", antes inacessíveis por questões tecnológicas e econômicas, fornecem hoje aos EUA 4 milhões de barris de óleo por dia –o quíntuplo de 2010.
Desde então, os novos reservatórios levaram a produção de 5,5 milhões para 8,5 milhões de barris diários, segundo a Administração de Informações de Energia.
O volume extraído dali diariamente representa o dobro da produção no Brasil e oito vezes os 500 mil barris que a Petrobras obtém da camada pré-sal, inacessível até 2006.
O "tight oil", ou óleo "preso", em tradução livre, é extraído do folhelho, rocha em que o óleo entranhado nos poros tem dificuldade de se deslocar rumo ao poço.
É a mesma rocha do gás de xisto, que levou a produção nos EUA a subir 20% desde 2008, para 688 bilhões de metros cúbicos ao dia, tirando da Rússia a liderança no gás.
Até seis anos atrás, não se tinha domínio da tecnologia para extrair óleo e gás de folhelhos, e, com a cotação do barril em US$ 60, a atividade era financeiramente inviável.
A escalada do preço (o barril está acima de US$ 100) e o desenvolvimento de métodos de extração desse óleo tornaram-no realidade nos EUA.
São duas as novas técnicas, usadas conjuntamente.
Uma delas é perfurar também poços horizontais, o que aumenta a conexão dos reservatórios, ajudando o óleo a se deslocar para poço produtor –o caminho criado para levar o óleo à superfície.
A outra é a injeção de areia e água nos reservatórios, que abre os poros dos folhelhos e empurra o óleo para o poço.
Pesa também para a diferença de produtividade o fato de que, nos EUA, as reservas de petróleo pertencem ao dono do terreno sob o qual se encontram. Cabe a ele ditar o ritmo de sua exploração.
Já no Brasil, as reservas pertencem à União e são disputadas em leilões da ANP. Os leilões eram anuais, mas, desde 2007, a única área oferecida no pré-sal foi o campo de Libra, na bacia de Santos, em 2013, arrematado pela Petrobras e quatro estrangeiras.
PARALELAS
A exploração do "tight oil", nos EUA e do pré-sal no Brasil ocorreram em paralelo, e a comparação é irresistível.
As opiniões, porém, divergem. Adriano Pires, do Centro Brasileiro de Infraestrutura, afirma que, se não tivesse ocorrido a suspensão de leilões, o ritmo de descobertas e de produção seria maior.
Alexandre Szklo, professor da Coppe-UFRJ, diz que havia alta expectativa mundial em relação ao que o Brasil poderia estar produzindo.
"Mas, por ser um setor baseado em pequenos produtores, a indústria americana responde mais rapidamente."
Para o geólogo John Forman, ex-diretor da ANP, não havia como o pré-sal ter dado um salto. "O desafio tecnológico aqui é muito maior."
É a mesma visão da Petrobras, que ressalta o crescimento da produção diária no pré-sal em dez vezes desde 2010. A área responde hoje por 22% do petróleo do país.
A expectativa da empresa é chegar aos 2,1 milhões de barris, ou metade da produção total, em 2020