Search
Close this search box.

ENERGIA – Desperdício de água acende debate sobre desafios da geração hídrica

Decisões estratégicas influenciadas pelos movimentos ambientalistas provam ser desastrosas para o país.

Nota DefesaNet

Artigo para ser lido, guardado e lembrado pelo desastre que foi imposto ao país pelos ambientalistas, em especial em Belo Monte.

O Editor

Robson Rodrigues e Fábio Couto
Valor
06 Fevereiro 2023

Ano após ano, o Brasil tem aproveitado cada vez menos a água das hidrelétricas para geração de energia e parte significativa desse volume é jogado fora. O fraco crescimento da demanda associado a um cenário hidrológico favorável, com chuvas abundantes; a sobreoferta de energia causada pela entrada de usinas eólicas e solares; a falta de reservatórios para armazenamento; e a restrição para exportação de energia excedente a países vizinhos são alguns dos fatores que ajudam a entender o cenário.

Janeiro foi o pior mês da história em relação ao não aproveitamento de água para geração de energia, segundo dados do Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS).

Foram desperdiçados 9.404 megawatts-médios (MWm), montante superior a toda produção da usina de Itaipu no mesmo período.

O contexto tem desafiado cada vez mais o ONS a aproveitar essa energia. A solução muitas vezes tem sido o vertimento turbinável, uma forma técnica de dizer que a hidrelétrica está liberando água sem gerar energia.

A relação existente entre vertimento turbinável e o excesso de água liberada que excede a capacidade máxima de uma usina gerar energia tem sido cada vez maior ao longo dos anos, inclusive em períodos secos, como em 2021, quando o Brasil passou por uma crise hídrica (ver gráfico abaixo).

Fazer previsões para geração eólica e solar é difícil. Quando há vento ou insolação, essas usinas são priorizadas na operação do sistema, o que faz com que a hídrica seja menos necessária. O ex-diretor da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel) Edvaldo Santana não considera razoável o volume de energia não aproveitado.

“Os dados de janeiro de 2023 são assustadores. As hidrelétricas tinham disponibilidade de 96 GW médios e geraram 53 GW médios.

Porém, 17 GW médios foram vertidos e, desses, 9 GW médios deveriam ter passado pelas turbinas. Isso corresponde ao consumo de toda região Sul do Brasil. A oferta de hoje é para uma carga que só acontecerá em 2031”, afirma.

Santana frisa que a oferta de energia se expandiu na direção das fontes renováveis não hídricas (eólicas e solares, basicamente), o que significa muita energia inflexível, e deve aumentar mais com a obrigação de contratação de térmicas da lei da Eletrobras. “A expansão tem sido determinada por subsídios desnecessários, o que faz a tarifa aumentar mesmo com o brutal excedente de energia. O consumidor pagará caro pela sobra”, alerta.

Os dados da Aneel mostram que para 2023 está prevista a entrada em operação de 9,45 GW. Deste total, 8,7 GW são de eólica e solar. Especialistas apontam que estas fontes têm deslocado a geração hidrelétrica, já que são bastante competitivas por receberem subsídios pagos pelos consumidores.

O diretor-geral do ONS, Luiz Carlos Ciocchi, diz que a sobreoferta puxada por eólicas e solares poderá, no futuro, gerar excesso de energia que o país não conseguirá aproveitar. “A manutenção de subsídios para fontes já bastante competitivas acaba distorcendo e cria um aumento desproporcional da oferta perante o consumo. O crescimento da oferta não lastreado pelo aumento da demanda pode chegar a uma situação com geração demais para carga de menos.”

Ciocchi reforça que hoje não há desperdício, já que este excedente de água não pode ser utilizado porque as usinas geram de acordo com a demanda e a diferença estocada. Entretanto, o Brasil impôs restrições à construção de novos reservatórios, ou seja, perde capacidade de guardar água. As maiores usinas do sistema são empreendimentos a fio d’água, ou seja, não têm reservatório com condição ampla de armazenamento.

“O ONS opera o sistema que está entregue e não foi responsável pelo planejamento, execução e diretrizes estratégicas e políticas da construção destas usinas. Então quando a água chega em Belo Monte, Santo Antônio e Jirau, temos que gerar. Se não tem demanda para esta energia, tem que verter sem gerar”, explica.

Para ele, o Brasil deveria rediscutir a estratégia de construção de hidrelétricas com reservatório. Fazendo eco às posições de Ciocchi, o pesquisador sênior da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Roberto Brandão, concorda que foi um erro impedir a construção de novos reservatórios, apesar de encontrar razoabilidade nos argumentos ambientais contra.

Brandão explica que, no mês de janeiro, a abertura das comportas das usinas ocorreu antes dos reservatórios encherem completamente. Trata-se de uma ação planejada do ONS para controle de cheias, que consiste em manter um volume de espera nos reservatórios para evitar ou minorar inundações.

Uma alternativa seria vender a sobra aos países vizinhos. Nos últimos dias o Brasil ampliou a exportação para o Uruguai e a Argentina para valores acima de 1.100 MW médios, uma maneira mais racional de aproveitar essa energia, mas há limitações nas integrações. O vice-presidente da Comissão de Integração Energética Regional (CIER), Celso Torino, diz que esses valores de energia desperdiçada são expressivos e devem fazer parte de um estudo de oportunidades.

“Seja sob a ótica da integração na América Latina ou do mundo face à questão do combate ao aquecimento global, vejo como oportunidade a transformação dessa energia não aproveitada em efetiva integração do Brasil com os demais países”, frisa.

Ciocchi diz que é uma visão de futuro que as hidrelétricas exerçam o papel de baterias do sistema. Entretanto, elas foram projetadas para gerar energia e não há uma solução hoje de como remunerar esses empreendimentos que funcionariam como pilhas. Porém, durante o webinar de lançamento do Fórum Brasileiro de Líderes em Energia, o presidente da Eletrobras, Wilson Ferreira, se posicionou de outra maneira.

“As fontes intermitentes [eólica e solar] existem graças às hidrelétricas e ao sistema de transmissão, mas é inadequado a forma como está acontecendo hoje.A hidrelétrica, que foi feita para ser base do sistema, por ter o menor custo, está sendo onerada pelo GSF [risco hidrológico], porque não é despachada em sua totalidade, e fica fazendo papel de pilha do setor com custos absurdos e desgastes nas máquinas”.

Compartilhar:

Leia também
Últimas Notícias

Inscreva-se na nossa newsletter