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Crise Epidêmica e Crise dos Estados

CRISE EPIDÊMICA E CRISE DOS ESTADOS

Amazonino de Andrada

 

 

A ideologia neoliberal, dominante a partir dos anos 1980, trouxe o conceito de Estado Mínimo, substituindo o de Estado Nacional nas estruturas organizacionais dos Países.

No Brasil, estas ideias coincidiram com a mudança dos Governos Militares pela denominada Nova República, que nos levou à Constituição de 1988.

As marcantes diferenças trazidas nesta substituição foram o domínio das finanças para todos segmentos da vida nacional, a predominância das ações privadas, a redução (quando não a eliminação) de instituições voltadas para soberania nacional, e o encolhimento das ações em prol da cidadania – saúde, educação, habitação e mobilidade – colocadas em regime de competitividade, ou seja, tendo o lucro no lugar da eficácia como motor das gestões.

Esta onda não se concentrou no Brasil. Na verdade, graças aos Governos Militares, que tinham na segurança e desenvolvimento os princípios da administração nacional, aqui só passamos a senti-la com as campanhas políticas e nas eleições ocorridas sob a nova Constituição.

> As crises, desde 1987 até 2002, foram imputadas aos erros das gestões e desequilíbrios localizados (crise no México, no sudeste asiático, na Rússia, na moeda europeia etc). A crise 2008/2010 foi a primeira a reconhecer o desajuste entre ativos reais e virtuais, mas não obteve, das diversas autoridades responsáveis pelas economias e finanças, a resposta adequada ao problema e, ainda pior, desconheceram sua extensão e profundidade.

Foi neste cenário que surgiu, sem qualquer relevância se saber natural ou produzido em laboratório, o vírus que assombra hoje o Planeta.

Ele encontrou Estados despreparados, mínimos, e economias fragilizadas, financeirizadas.

Dados obtidos no Google, que afirma tê-los da Organização Mundial de Saúde (OMS), dão conta que neste Domingo de Páscoa foram confirmadas 1.789.985 infecções pelo Covid 19, resultando em 109.823 falecimentos.

Se adotássemos os parâmetros usuais para catástrofes sanitárias e epidêmicas, os socioeconômicos, certamente encontraríamos em países pobres, os africanos, asiáticos e os latino-americanos os mais graves e maiores atingimentos. Mas não é o que se depreende dos resultados obtidos no Google.

São os Estados que substituíram suas estruturas de Estados Nacionais pelas de Estados Mínimos, aqueles que mais privatizaram as ações típicas dos Estados, os países que apresentam os mais danosos resultados.

Neste momento são os Estados Unidos da América (EUA), o mais rico e poderoso do Planeta, o campeão de mortes: 20.601. Pois foi naquela nação onde o Estado mais se ausentou de suas responsabilidades com a população, para concentrar-se nas ditadas pelo capital financeiro.

Arriscaria afirmar que Richard Nixon (20/01/1959-09/08/1974) – Gerald Ford (09/08/1974-20/01/1977) foram os últimos presidentes do Estado Nacional estadunidense. A partir de Jimmy Carter até Barack Obama (1977-2017), gradativa porém sistemática e progressivamente, os EUA foram perdendo poder para as finanças internacionais.

Analisemos esta questão, após apresentar mais alguns dados, por ordem decrescente do número de falecimentos atribuídos à infecção: Itália (19.468), Espanha (16.972), França (13.838), Reino Unido – UK (9.875), Irã (4.474), Bélgica (3.600), China (3.339), Alemanha (2.871), Holanda (2.737), Brasil (1.141), Turquia (1.101) e Suíça (1.079).

Excetuando a China, onde aparentemente a crise epidêmica está contida, pode-se observar que há uma identidade, com a exceção que confirma a regra, nestes países com mais de mil casos fatais. A exceção é, claramente, o Irã, um Estado Nacional religioso. Todos abriram mão dos Estados Nacionais pelos Estados Mínimos. Casos de verdadeira transformação, como o Reino Unido (UK) após Margareth Thatcher, e daqueles que ainda seguraram algumas conquistas obtidas enquanto Estado Nacional, como a Alemanha.

Também podemos melhor analisar estes dados pelo indicador: morte pela epidemia dividida pela população. Com mortes por mil habitantes, a enumeração anterior teria a seguinte ordem, para os dez mais atingidos: Espanha, Itália, Bélgica, França, Holanda, UK, Suíça, EUA, Alemanha e Irã.

A questão da ação do Estado, que prioriza (ou deve priorizar) a eficácia e a ação privada que prioriza o lucro, pode também ser observada na quantidade de leitos hospitalares por mil habitantes. Infelizmente não obtive dados de todos estes países, mas temos a Alemanha, com 8,3 leitos/mil habitantes, a de melhor posicionamento visto por este recurso. Seguem: França (6,5), Itália (3,4), Espanha (3,0), EUA (2,9) e UK (2,8).

Países que priorizam o atendimento, como o Japão (13,4 leitos/mil habitantes), Coreia do Sul (11,5), Ucrânia (8,8), Cuba (5,2) não tiveram, em face de suas populações, tão grave crise epidêmica.

Fica comprovada uma situação onde Estados Mínimos, dirigidos pelo sistema financeiro, mostram sua ineficácia. Desde a eleição de Donald Trump, temos observado nos EUA um embate na recuperação do Estado Nacional, embora a mídia local e internacional, quase integralmente nas mãos das finanças internacionais, desvirtue, ironize e descaradamente minta sobre os fatos lá ocorridos.

 

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