Cel Swami de Holanda Fontes
O Exército Brasileiro, por intermédio do Centro de Comunicação Social do Exército (CCOMSEx), conduziu, em setembro de 2018, o painel “Pavimentando a estrada da Comunicação Social do Exército Brasileiro para o futuro”. E, por que o painel?
É possível entender o presente e imaginar o futuro estudando a História e acompanhando as transformações da humanidade. Normalmente, o gênero humano transfigura-se após momentos de grande comoção.
Ajusta comportamentos depois de uma guerra e modifica diversos aspectos psicossociais após uma crise no campo econômico. Dessa forma, estudando essas transformações, é possível fazer uma análise de como caminha a sociedade e imaginar o que pode vir pela frente.
Alguns estudiosos analisaram o passado e o presente e estimaram o que viria adiante. Um deles foi Alvin Toffler, no livro A Terceira Onda, em 1980. O autor dividiu a evolução da sociedade em ondas, vinculando aspectos psicossociais vigentes ao modelo econômico em andamento.
A 1ª Onda abordou a revolução agrícola. Naquele período, a comunicação social restringia-se ao ambiente de onde surgia a informação, limitando-se à pequena sociedade e à comunidade na qual viviam as pessoas. A visão do mundo era limitada.
A 2ª Onda caracterizou-se pela revolução industrial. A informação circulava por jornais, rádios, revistas e canais de televisão. Possuindo alcance maior, a informação era distribuída em massa.
A 3ª Onda trata da "Era do Conhecimento", período em que a informação e o know-how são predominantes, ocorrendo a desmassificação dos meios de comunicação.
Cada país encontra-se em momentos distintos nessas ondas. Os Estados Unidos, por exemplo, podem já ter ultrapassado a 3ª. Alguns transitam entre a 2ª e a 3ª e outros ainda podem estar na 1ª. Longe de querer ser um futurologista ou de concorrer com o renomado autor, mas me apropriando de algumas de suas ideias e utilizando seu raciocínio como base, algumas indagações podem ser feitas para o Brasil: em qual onda nosso País se encontra e como seria a 4ª Onda?
Fruto da dimensão territorial e das desigualdades sociais, pode-se dizer que há várias ondas atuando, simultaneamente, em diversas regiões brasileiras. Contudo, o início da 2ª Onda aconteceu na década de 1950 e pode ter atingido seu ápice nos anos 70, com o “milagre econômico”, nos governos militares.
A educação, a saúde, a expectativa de vida e o bem-estar social passaram por grandes transformações, e para melhor. Naquele período, o rádio popularizou-se ainda mais e deixou de ser o meio exclusivo de comunicação. O Brasil passou a ter grandes jornais e os primeiros canais de televisão, atingindo novos públicos.
Entre os anos de 1980 e 1990, com a globalização, as comunicações foram impulsionadas pelas novas tecnologias. Na década de 1990, a Internet começou a ganhar espaço e os celulares iniciaram sua corrida rumo à popularização, surgindo outros meios comunicacionais. Além disso, houve aumento do acesso aos trabalhos produzidos pela comunidade científica dos países desenvolvidos e evolução em diversas áreas do conhecimento.
De 2000 a 2010, videoconferências, redes sociais, e-mails, entre outros meios, tornaram-se parte da vida nacional. Atualmente, o indígena da aldeia mais isolada, o agricultor do sertão nordestino ou do mais distante rincão e o pescador das praias mais remotas podem ter acesso à informação, seja por antena parabólica, seja por smartphone.
Conforme abordado anteriormente, as “ondas” têm como referência o momento econômico. Seria abusar da capacidade de reflexão dizer que a comunicação social ultrapassou o modelo econômico preponderante do Brasil e que estaria adentrando a 4ª Onda?
No que se refere a esse questionamento, não se pode dizer que o País esteja tão avançado a ponto de já estar na 4ª Onda, mas é possível fazer suposições do que poderá ocorrer na comunicação social. Apesar de ser um risco prever, com precisão, como será o futuro, não custa imaginá-lo baseado em uma análise prospectiva.
Já percebeu que os canais abertos de TV estão perdendo espaço para outras alternativas e que as agências de jornalismo estão reduzindo seus quadros?
Para a comunicação social, a 4ª onda estaria caracterizando-se pelo fortalecimento das mídias sociais, das Fake News (notícias falsas) e do pós-verdade? Ou pela acirrada competição entre os meios de comunicação, que garimpam informações na Internet, diminuem seus quadros de profissionais e passam a contar com colaboradores (pessoas comuns que produzem informação ou a registram no dia a dia e a disponibilizam em diversos meios de comunicação, em tempo real)?
Um dado é certo: no cotidiano, a velocidade entre o nascimento da informação e seu destino é extremamente rápida. Além disso, o número de pessoas com acesso à informação também aumentou. Há casos em que a notícia chega ao mundo praticamente natimorta.
Outro fato interessante é que, aparentemente, as crianças já nascem com o “chip do conhecimento” dos meios eletrônicos. Não é incomum vê-las, já aos dois anos, ligando sozinhas o tablet e escolhendo os desenhos animados. Também não é atípico ver pessoas andando pelas ruas e assistindo aos programas ao vivo, onde quer que estejam, uma vez que a informação chega, paulatinamente, a mais faixas etárias e a lugares diferentes.
Sobre as Fake News, tão em evidência nos dias atuais, elas já estão alterando o comportamento das pessoas ao analisarem uma informação e ao verificarem sua veracidade e a credibilidade da fonte.
Nesse caso, pode-se fazer uma analogia rudimentar com a proeza alcançada pelo cineasta George Orson Welles, há 80 anos, durante um programa de rádio. Em 1938, nos Estados Unidos, a rádio CBS transmitiu a ficção “A Guerra dos Mundos”, dramatizando em forma de programa jornalístico a invasão da Terra por marcianos. A narração concedeu um tom realista à transmissão.
Tal feito gerou grande temor no seio da população norte-americana, quando várias pessoas desavisadas acreditaram no que estava sendo divulgado. Na atualidade, guardadas as devidas proporções, verifica-se a quantidade de notícias falsas que iludem a população, levando as pessoas, muitas vezes, a decidirem erradamente, por acreditarem que estão com subsídios adequados e informações corretas.
Com o ápice da 4ª Onda, a sociedade, provavelmente, não disporá de capacidade para absorver a enorme gama de informações disponibilizadas. Estas, aliás, serão efêmeras. As pessoas não terão tempo para avaliar todo o conteúdo e não reterão tanto conhecimento.
Com o tempo, poderão cansar-se, não dando a devida atenção ao que estará circulando nas diversas mídias. Onde surgir um vazio, algo ocupará esse espaço. Por isso, há necessidade de se valorizar a produção e o trâmite da informação para que o usuário a veja com confiança.
Assim, devido à trivialidade da informação, os donos dos meios de comunicação, a sociedade e todos os interessados deverão adotar novas estratégias a fim de que a informação não perca a credibilidade, seja útil e atenda às necessidades da natureza humana. Parafraseando Alvin Toffler, se não soubermos adotar uma estratégia para corrigir alguns senões da comunicação social na 4ª onda, poderemos ser parte da estratégia de alguém, que poderá utilizá-la para fins escusos.
Assim, sempre a um passo a frente, o CCOMSEx já está levantando novas estratégias para se adaptar a nova realidade. Caso a comunicação, ou mídia ou o 4º poder, deseje permanecer surfando na crista da onda, terá que se reinventar.