Daniel Bramatti e José Roberto de Toledo
O desastre nuclear no Japão consolidou uma maioria entre os brasileiros contrária ao uso da energia atômica para gerar eletricidade no País. São 54%, dos quais 7 em cada 10 são "totalmente contra" e os demais, "parcialmente contra". A oposição a esse tipo de produção de energia cresceu 5 pontos após o acidente na usina de Fukushima.
Esses são alguns dos resultados da sondagem Global WIN (uma rede mundial de empresas de pesquisa) sobre o uso de energia nuclear. Ainda segundo a pesquisa, uma fatia ainda maior dos brasileiros, 57%, mostrou-se preocupada – metade deles muito preocupados – com a possibilidade de um acidente nuclear acontecer também no Brasil. O grau de preocupação é superior à média mundial, de 49%.
Possível explicação para isso é que 40% não sabem dizer se o governo brasileiro controla adequadamente a segurança das usinas de Angra 1, 2 e 3. Além desses, 19% acham que não há controle adequado. Só 41% confiam nas medidas de segurança oficiais.
O governo federal estuda construir mais quatro centrais nucleares para produzir eletricidade no Brasil. A decisão final dependerá, segundo o ministro da Ciência e Tecnologia, Aloizio Mercadante, das consequências do acidente japonês.
No mundo. A reação negativa à energia atômica não se restringe ao Brasil. Na média mundial, o porcentual daqueles que são contrários às centrais nucleares cresceu 11 pontos após o tsunami provocar o colapso da usina japonesa e a contaminação de trabalhadores, da água e do solo por radiação. Foi de 32% para 43%.
A oposição às centrais atômicas varia muito de país para país: de apenas 24% na Coreia do Sul a 90% na Áustria. O Japão foi onde mais cresceu o porcentual dos que são contra: de 28% para 47% (40% ainda apoia esse tipo de produção de energia).
Entre os brasileiros, 14% não souberam responder, 12% se disseram totalmente favoráveis ao uso da energia nuclear, 20% parcialmente a favor, 15% parcialmente contra e 39% totalmente contra. O apoio é maior entre os mais ricos e escolarizados. Já o crescimento dos que são contra a energia nuclear veio principalmente de quem não tinha opinião sobre o assunto.
A pesquisa mostra que 98% dos brasileiros tomaram conhecimento do terremoto no Japão, e 93% ficaram sabendo do vazamento de radiação. Ambos os resultados ficaram acima da média mundial. A TV foi a principal fonte de informação sobre o terremoto e o tsunami para 94% dos brasileiros. Em segundo lugar ficou a internet, com 3%.
O Brasil é um dos países mais otimistas no prognóstico sobre o que acontecerá com o Japão após a sequência de desastres. Para 49%, os japoneses vão se recuperar rapidamente e voltar ao nível de desenvolvimento anterior ao terremoto. A eles se somam 13% de brasileiros que acham que o Japão vai sair ainda mais forte da crise. Só 31% apostam no contrário.
PARA ENTENDER
A pesquisa foi realizada pela Global WIN em 47 países de todos os continentes entre 21 de março e 10 de abril. No Brasil, o levantamento foi feito pelo Ibope, instituto que representa a rede no País. As técnicas de entrevista variam de local para local. Em alguns países foram feitas pelo telefone, em outros, pessoalmente, e houve locais onde a plataforma foi a internet.
As amostras variam de 500 a 2,7 mil entrevistas por país. No Brasil, o Ibope entrevistou mil pessoas no método face a face. A margem de erro também varia conforme o tamanho da amostra local, de 3 a 5 pontos porcentuais, para mais ou para menos. No mundo todo foram entrevistadas 34 mil pessoas.
Como não havia pesquisa anterior para comparar, o questionário incluiu uma pergunta sobre qual a opinião do entrevistado sobre a energia nuclear antes do terremoto no Japão.