As usinas nucleares brasileiras estão entre as mais eficientes do mundo. Servem de referência internacional porque, entre outras questões, o país se preocupou em dominar a tecnologia de construção, operação e manutenção dessas usinas. O Brasil avançou também na produção do combustível. Isso fará com que Angra 3 consiga, por exemplo, gerar mais energia que Angra 2, da qual deveria ser apenas uma cópia.
O fato de as usinas se concentrarem em uma área relativamente pequena (hidrelétricas com a mesma capacidade certamente precisariam ocupar espaços bem maiores) possibilita que o seu funcionamento seja acompanhado com várias lentes de aumento.
Há décadas todo o entorno das usinas é monitorado para se detectar qualquer variação de radioatividade (observando-se a radiação natural). Esse trabalho até contribuiu para a recuperação ambiental das áreas adjacentes.
Em face da preocupação rigorosa com a segurança e os riscos da central nuclear, a possibilidade de acidente passou a ser encarada como remotíssima pelos que, indiretamente, deveriam contribuir para estender esse padrão às estradas de acesso à região. A estrada Rio-Santos vive às voltas com interrupções de tráfego devido a queda de barreiras, deslizamentos, afundamento de pistas, etc. E as poucas vias alternativas são malconservadas.
O problema não é novo, mas um acidente como o ocorrido em Fukushima, no Japão, obriga as autoridades responsáveis pelo setor nuclear a reverem procedimentos e parâmetros relativos à segurança. Especificamente no caso do funcionamento das usinas de Angra, a Eletronuclear, estatal que as administra, cogita reforçar o sistema de fornecimento de energia elétrica para situações de corte na rede principal. Os geradores a diesel não podem estar em locais vulneráveis a intempéries e, ainda assim, é preciso ter uma reserva da reserva, como ficou evidenciado em Fukushima. Uma pequena central hidrelétrica, em rios nas proximidades das usinas, poderá cumprir essa função.
Quanto à retirada das pessoas, na hipótese de situação crítica, a opção marítima, que não fazia parte do plano de emergência, merece agora ser avaliada, com a construção de píeres nas áreas próximas às usinas. No entanto, é fundamental que as vias terrestres estejam sempre desimpedidas. A rodovia Rio-Santos e as estradas estaduais e municipais secundárias não podem continuar sendo mantidas como tal.
Após tantos anos de funcionamento das usinas, os órgãos reguladores deveriam ter a documentação em dia em relação ao licenciamento ambiental e comissionamento das instalações nucleares. Sem isso, a sociedade acaba sendo surpreendida ao saber que algumas compensações para a construção de Angra 3, previstas inicialmente, já não seriam mais obrigatórias.
Ou seja, para que não se repita, em nenhum grau, o acidente de Fukushima deixa lições que devem ser levadas muito a sério no programa nuclear brasileiro.