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Brasil Atômico – A energia nuclear no Brasil

Joaquim F. De Carvalho

O Brasil pode cobrir seu consumo de energia elétrica apenas com fontes renováveis de energia primária, sem apelar para usinas nucleares.

Isso não significa que se devam negligenciar as aplicações de radioisótopos na medicina, na agricultura, na indústria e na pesquisa científica. Essas aplicações têm importância crescente e deveriam ser tratadas prioritariamente nos orçamentos federais e estaduais, para ciência e tecnologia.

Apesar de toda a polêmica desencadeada pelas organizações ambientalistas, a alternativa mais interessante para ampliar o sistema elétrico brasileiro seria a de explorar potenciais naturais da Amazônia, tais como o potencial hidrelétrico, o turismo ecológico e o extrativismo.

Se o governo adotar uma política energética inteligente e rigorosamente aplicada, as empresas públicas e o empresariado do setor de geração elétrica deverão se transformar nos maiores defensores do ecossistema amazônico, pois alterações causadas por "plantations" e projetos de pecuária e de exploração mineral comprometerão o potencial hidrelétrico, inviabilizando as próprias hidrelétricas.

De acordo com a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), o potencial hidrelétrico brasileiro é de 261 mil MW, dos quais 172 mil ainda não estão em aproveitamento.

Considerando-se que a região amazônica detém 65% do potencial hidrelétrico não aproveitado e se admitindo que, por motivos de caráter social e ambiental, os planos de expansão sejam reformulados, visando a limitar em 80% o aproveitamento desse potencial, ainda assim o Brasil poderá adicionar uma capacidade hidrelétrica de 137,6 GW aos 71,2 GW já instalados, perfazendo uma capacidade hidrelétrica total de 226,5 GW (incluindo as pequenas centrais hidrelétricas).

É importante notar que o aproveitamento do potencial hidrelétrico amazônico ocuparia menos de 1% (um por cento) da área da região, ou seja, menos do que ocupam alguns desses grandes projetos agrícolas ou de pecuária, contra os quais os ambientalistas não se manifestam.

Por outro lado, segundo um levantamento feito pelo Centro de Pesquisas de Energia Elétrica da Eletrobrás (Cepel), com a consultoria das firmas Camargo-Schubert Energia Eólica e True Windows Solutions, o potencial eólico brasileiro para ventos com velocidade média superior a 7 m/s é de 143 mil MW.

A interligação do sistema hidrelétrico com o sistema eólico permitiria que parte da energia gerada pelas centrais eólicas fosse "armazenada" – isto é, acumulada na forma de água nos reservatórios hidrelétricos – de maneira semelhante às malhas termoeólicas de alguns países europeus, nas quais a energia dos parques eólicos permite que se economize gás natural ou óleo combustível. Esse sistema poderia operar em sinergia com usinas termoelétricas a biomassa, pois a frota automotiva brasileira é em grande parte alimentada com etanol, forçando a produção do bagaço de cana (subproduto do etanol) em escala suficiente para alimentar termoelétricas de pequeno e de médio portes, totalizando, em conjunto, uma capacidade da ordem de 10 mil MW por volta de 2012, segundo a União da Indústria da Cana-de-Açúcar (Unica).
Como, de acordo com o IBGE, a população brasileira deverá se estabilizar em 215 milhões de habitantes, por volta do ano 2040, o sistema integrado hidro-eólico-térmico (a bagaço) teria um potencial suficiente para oferecer eletricidade à população, em termos per capita, em quantidades equivalentes às de países de alto nível de qualidade de vida.

Portanto, ao contrário da França e do Japão, que não têm alternativa, o Brasil não precisa correr o risco de gerar em centrais nucleares a energia elétrica de que precisa ou precisará.

MESTRE EM ENGENHARIA NUCLEAR E DOUTOR EM ENERGIA PELA USP, FOI DIRETOR INDUSTRIAL DA NUCLEN (ATUAL ELETRONUCLEAR)

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