A Evolução do terrorismo durante o surto do Covid-19/20
André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos
alwi.war@gmail.com
Os ataques terroristas contra países do ocidente em 2020 arrefeceram com registros de episódios esporádicos na França e Áustria, embora não menos impactantes do que as ações em anos anteriores. Parcela disso, é creditada as medidas de isolamento social, consequência do surto de Covid-19, onde aglomerações de pessoas em locais públicos, alvos preferenciais dos extremistas, reduziram sensivelmente, somadas as abordagens policiais sistemáticas aqueles que descumprissem as determinações governamentais.
Contudo, a estimativa dos órgãos de inteligência europeus é de que as ações terroristas perpetuadas por grupos jihadistas tendem a aumentar no período pós-pandemia, especialmente na França, onde o presidente Emmanuel Macron defendeu o direito de livre expressão por meio da confecção de caricaturas, após a morte do professor de história Samuel Paty, decapitado nos arredores de Paris por ter mostrado uma caricatura de Maomé numa aula sobre liberdade de expressão.
Esta perspectiva acarretou na necessidade de maior reforço de segurança das fronteiras externas comuns entre os países europeus e no Espaço Schengen, uma área de livre trânsito incluindo grande parte destes países. Contra um inimigo invisível e imprevissível, existem dúvidas que tais medidas possam proporcionar uma segurança satisfatória.
Atualmente, as ações terroristas tem se concentrado com intensidade nos países de origem dos grupos jihadistas. Na Nigéria, o Boko Haram matou 110 camponeses na aldeia de Koshobe, a nordeste do país além de sequestar dezenas de mulheres que trabalhavam nos campos naquela área, considerado pela Organização das Nações Unidas (ONU) o maior massacre dos últimos anos. No Afeganistão, o Talibã realizou um atentado com carro bomba a uma base militar das forças de segurança daquele país, na cidade de Ghazniu, resultando em 30 vítimas fatais e outros 24 feridos.
Neste contexto, apenas um episódio isolado foi registrado na Arábia Saudita, na cidade de Jidá, com a explosão de uma bomba próxima a delegações diplomáticas de diversos países durante as comemorações aos soldados mortos da Primeira Guerra Mundial, resultando em quatro feridos graves.
Todavia, uma das maiores preocupações da comunidade de inteligência é a sofisticação tecnológica das ações terroristas, que já estão ocorrendo, de forma dissimulada, por meio de ataques de ransomware a Estados e empresas privadas.
Em relatório global confeccionado pela CrowdStrike 2020 (Global Security Attitude Survey: Insights into Security Transformation and Prevalent Attack Vectors in a Work-from-Anywhere World), entre as principais descobertas deste ano está um medo crescente de invasões de estado-nação e ataques de ransomware na sequência de surtos de COVID-19 cujo aumento foi de 71%, com 56% das organizações relatando um ataque de ransomware nos últimos 12 meses, o que acarretou em altos custos para atualizaram seu software de segurança e infraestrutura para reduzir o risco de um ataque futuro.
Agências de inteligência estimam que em meio a estes ataques, cerca de 20% possam estar relacionadas a organizações terroristas, no papel de ciberatores. A ação mais comum neste contexto é o roubo de dados sigilosos estatais e empresariais, exigindo pagamento de resgate como forma de captação de recursos.
O relatório aponta, ainda, que 27% das vítimas optaram por pagar o resgate, com uma média de US $ 1,1 milhão pago por cada ataque. As comparações regionais mostram apenas uma disparidade modesta, com a APAC sendo a mais atingida, com pagamentos médios de US $ 1,18 milhão. EMEA ficou em $ 1,06 milhão de dólares, enquanto os EUA foram mais baixos com uma média de pouco menos de $ 1 milhão de dólares pagos a invasores.
Esta conjuntura vai além dos métodos tradicionais até o momento conhecidos. Caso tais estimativas forem comprovadas, estaremos caminhando a passos rápidos para um ataque ciberterrorista em um futuro próximo, inaugurando um novo ciclo do terrorismo internacional.