Alexandre Hisayasu
O Brasil é o País mais perigoso do mundo para transportar dinheiro em carros-fortes e guardá-lo em empresas de segurança. A afirmação é da Associação Brasileira de Empresas de Transporte de Valores (ABTV). Ela é baseada nos últimos ataques de criminosos feitos com o uso de armas potentes, como fuzis e metralhadoras calibre .50 – capazes de derrubar helicópteros –, explosivos e estratégia de guerra, que levaram cerca de R$ 140 milhões em ao menos quatro ações.
“É um fato. Você não ouve relato desse tipo de assalto no resto do mundo. Tanto a carro-forte quanto a bases das empresas”, disse Marcos Paiva, presidente da ABTV.
Segundo ele, as empresas de transporte de valores estão investindo na própria segurança para reforçar os prédios onde funcionam as suas bases, que guardam grande quantidade de dinheiro para ser transportado para bancos e empresas. “A tendência é aumentar a segurança das estruturas. Temos limitações legais, mas estamos trabalhando dentro daquilo que é possível. Investimos R$ 400 milhões nos últimos cinco anos no País em relação a esse aspecto”, disse Paiva.
O Estado visitou uma empresa de transporte de valores. Logo na entrada, a novidade é um portão capaz de aguentar, junto com a blindagem da guarita e das paredes, tiros de fuzil e de metralhadoras. Dentro, há um verdadeiro labirinto com detectores de metais e esquemas especiais de segurança, onde uma porta de aço não abre sem que a primeira esteja completamente fechada.
Outro detalhe é que a espessura da porta dos cofres foi bastante reforçada, com muitas camadas de aço. E se os criminosos ainda conseguirem passar por todas essas barreiras, que incluem pontos estratégicos com escudos que suportam tiros de calibre .50, os locais onde fica o dinheiro ainda têm máquinas de neblina, além de módulos de uma espuma de poliuretano, que isola o cofre com uma camada muito grossa, que só é possível retirar três dias após o uso.
“Esse investimento todo visa a não só a proteção do dinheiro, mas também a do nosso funcionário”, disse Paiva.
Ele defende um investimento maior no setor de inteligência das polícias e mais compartilhamento de informações. “Não podemos esperar a onda de assaltos passar. Não basta apenas reagir quando o crime acontece. É preciso investir em inteligência para prender o bandido antes. A Polícia Civil fez isso há dois meses, antecipou-se e apreendeu uma grande quantidade de armas pesadas.”
Crimes. A sequência de ataques às empresas de transporte de valores começou em março, na sede da Protege, em Campinas; depois, em abril, na Prosegur, em Santos; em julho, também na Prosegur, em Ribeirão Preto. A última ação aconteceu em Santo André, em agosto. Neste último caso, nada foi levado.
Segundo a apuração do Departamento de Investigações Criminais (Deic), as ações foram coordenadas pelos mesmos mentores. Antes negada pela Secretaria da Segurança Pública, a polícia investiga a participação de integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC) nos crimes, conforme o Estado revelou em julho.
Para a polícia, os ataques cessaram após a ação em Santo André, graças às prisões de nove suspeitos pelo Departamento Estadual de Prevenção e Repressão ao Narcóticos (Denarc) e a apreensão de várias armas, incluindo um fuzil .50.
Em nota, a Secretaria da Segurança afirmou que as polícias tomaram todas as providências necessárias para reprimir os assaltos. “Causa estranheza a declaração do presidente da associação, que participou de diversas reuniões do grupo de trabalho composto por integrantes da SSP, polícias Civil e Militar e seis representantes da ABTV.” A pasta diz que um encontro com associação – já agendado – poderá ser revisto após as declarações de Paiva.
Ações criminosas. Depois do ataque à Protege, em Santo André, outros Estados registraram megarroubos a empresas de valores como os praticados neste ano em São Paulo. A polícia suspeita que as ações podem ter sido coordenadas pelo mesmo grupo de criminosos. As semelhanças são muitas: os bandidos usaram caminhões para impedir a chegada da polícia, bloquearam as vias de acesso às empresas, portavam fuzis e armas de grosso calibre e tinham especialistas em explosivos entre o bando.
Em setembro, a sede da Prosegur, em Marabá, no Pará, foi atacada. Cerca de 30 criminosos usaram dois caminhões roubados que serviam para transportar madeira para chegar à empresa, na madrugada de uma segunda-feira.
Dez homens vieram nos caminhões, enquanto os outros ficaram do lado de fora para dar cobertura aos comparsas. Foram usados explosivos para abrir os cofres. Na fuga, os veículos foram incendiados para dificultar a chegada da polícia. O valor roubado não foi divulgado. Dias depois da ação, um suspeito foi preso com R$ 300 mil.
Na semana passada, bandidos armados assaltaram um carro-forte na divisa das cidades de Salgueiro e Cabrobó, em Pernambuco. O carro da empresa Preserve foi cercado pelos criminosos, que deram tiros de fuzil e renderam os vigilantes. O valor roubado não foi divulgado. A Polícia Civil está à procura de suspeitos, mas ninguém foi preso até agora.
Para Marcos Paiva, presidente da Associação Brasileira de Empresas de Transporte de Valores (ABTV), os bandidos são do crime organizado. “Eles vão para os lugares onde há mais facilidade. Eles migram de um lugar para outro.”
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