O crescimento da criminalidade no entorno das usinas nucleares de Angra dos Reis já é uma preocupação concreta na Câmara Federal. Um pedido de audiência pública na Comissão de Minas e Energia foi protocolado em meados do mês passado após uma denúncia de que bandidos armados estariam impedindo o acionamento e a manutenção de sirenes instaladas na região e usadas em treinamentos de emergência.
A ação dos criminosos ocorre, principalmente, no bairro Frade, distante cinco quilômetros da Central Nuclear Almirante Álvaro Alberto (CNAA), conjunto formado por Angra 1, Angra 2 e Angra 3 (em construção). No Plano de Emergência Externo (PEE) da Central Nuclear, essa área é denominada Zona do Plano de Emergência (ZPE) 5, a segunda mais próxima às usinas.
A presença ostensiva de bandidos armados impactou, entre julho e outubro, o acionamento de, ao menos, duas sirenes instaladas nas proximidades do Morro da Constância, localizado no Frade. O deputado federal Luiz Sérgio (PT), que solicitou a audiência, pede ainda a intervenção da Força Nacional de Segurança no local.
– A operacionalidade do sistema de alerta está ameaçada em caso de necessidade. Se você tem uma comunidade como a do Frade, que precisa ser evacuada, e nessa comunidade as pessoas estão amedrontadas por causa do tráfico, isso não pode acontecer. Portanto, é preciso pedir a intervenção da Força Nacional para garantir que o plano de emergência seja factível – explica o deputado.
Além de não permitir o acionamento remoto e a presença de técnicos para manutenção, os traficantes também impedem a distribuição de material informativo sobre o Plano de Emergência Externo, que acontecia de casa em casa.
Um levantamento, em fase de conclusão, realizado pelo Núcleo de Estudos em Conflito e Sociedade (Necso) da Universidade Federal Fluminense, aponta o crescimento de crimes em Angra dos Reis. De acordo com o estudo havia, em 2015, cerca de 30 comunidades no município onde se observava a presença ostensiva de traficantes armados.
MILÍCIAS TAMBÉM ATUAM
Para o cientista político e professor do Laboratório de Estudos sobre Política e Violência da UFF de Angra, André Rodrigues, nota-se também indícios da atuação de milícias na região. – Em relação a homicídios, a região da Costa Verde, especificamente Angra dos Reis, é muito violenta há uma década.
Mas tem havido uma reconfiguração dos grupos criminosos e dos territórios, além de uma mudança na maneira de atuação. Talvez pela entrada de armamentos de grosso calibre e pela reorganização de mercados ilegais, que são fatos mais recentes – explica André Rodrigues.
Os teste sonoros no entorno das usinas são realizados uma vez por mês, sempre no dia 10. De acordo com as denúncias recebidas pelo gabinete do deputado, os testes não ocorreram em julho, agosto, setembro e outubro.
O comandante do 33º BPM (Angra dos Reis), coronel Damião Cruz Portella, admitiu, também em nota, que as sirenes estão sendo furtadas e que planeja ações para identificar e prender os criminosos responsáveis pelos atos de violência.
Portella disse ainda que está buscando parceria com a Prefeitura de Angra dos Reis para que possa implementar ações mais efetivas na região. A Defesa Civil estadual, responsável pelo acionamento das sirenes, afirmou que diariamente são realizados testes silenciosos, e uma vez ao mês o sonoro.
No entanto, garantiu que não há registros de intercorrência nos acionamentos. Já a Eletronuclear não confirmou a impossibilidade de os técnicos realizarem a manutenção in loco. Em nota, disse que a violência na região é um problema de segurança pública e que espera uma solução por parte das autoridades competentes.