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SEGURANÇA – Recessão desfaz mito de que setor cresce com violência

JOÃO JOSÉ OLIVEIRA

 

As empresas de segurança privada no Brasil mantiveram o crescimento de faturamento nos anos recessivos de 2015 e 2016. Mas o ritmo de expansão foi inferior ao registrado de 2012 a 2014 e alimentado mais por reajustes salariais da mão de obra – que representa mais de dois-terços dos recursos movimentados nessa indústria – do que por incremento de vendas.

É o que mostra estudo da Federação Nacional das Empresas de Segurança e Transporte de Valores (Fenavist), a ser divulgado hoje. Para a entidade, essa tendência permanece em 2017.

 

"Existe o mito de que o setor cresce com a violência. Mas o que ocorreu é que houve um encolhimento. A recessão levou as empresas a cortarem custos", diz o presidente da Fenavist, Jeferson Furlan Nazário. Segundo o Atlas da Violência 2017, divulgado este mês pelo Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), o Brasil registrou 59.080 homicídios em 2015, consolidando um aumento de patamar no indicador para perto de 60 mil assassinatos por ano.

 

Entre 2005 e 2007 esse número ficava entre 48 mil e 50 mil. Alguns Estados do Norte e Nordeste, como Rio Grande do Norte, tiveram crescimento superior a 100% nas taxas de homicídio entre 2005 e 2015.

 

Nazário afirmou que as incertezas políticas estão atrapalhando a retomada da demanda por segurança privada no Brasil porque empresas e setor público aguardam definições para voltarem a investir. "Acredito que vai demorar mais um pouco para o setor retomar crescimento".

O número de empresas no setor de segurança privada no país em 2016 diminuiu 0,8% ante 2015, para 2.561. O número de postos de trabalho teve retração mais significativa, de 631 mil para 598,5 mil pessoas em 2016.

Depois de crescer 87,4% de 2010 a 2014, ou 17% por ano, em média, o avanço do faturamento apurado pela Fenavist para as empresas de segurança privada no Brasil foi de 3,75% em 2016, quando atingiu R$ 36 bilhões. A evolução ano passado foi determinada basicamente pelos reajustes salariais determinados pela legislação, aponta Nazário. Isso ocorre porque o preço cobrado pelas empresas de segurança leva em conta a quantidade de vigilantes contratados pelos clientes. Mesmo assim, as empresas não conseguiram repassar integralmente aos clientes os reajustes salariais pagos aos funcionários.

 

Em 2016, a média do aumento salarial do vigilante foi de 11,15%. No mesmo ano, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC) subiu 6,58%. "Nos últimos cinco anos, o setor deu reajustes 8,32% acima da inflação", apontou o executivo. O comportamento dos clientes também mudou, comprimindo as receitas do setor, diz o presidente da Fenavist. Segundo ele, o cliente privado passou a adotar o mesmo critério da administração pública no momento de contratar uma empresa de segurança: comparar apenas preço.

 

 "A mudança de atitude do contratante segue pelo mesmo atalho do público, por meio do pregão denominado sistema de contratação japonês, em que o contratante faz oferta do preço e, uma vez aceito, ele faz nova redução até ser

contratado pelo preço que ele mesmo estipulou."

 

O estudo da Fenavist aponta que investimentos em equipamentos e frota foram feitos ao longo de 2016 apenas para manter a infraestrutura. O número de carros-fortes diminuiu de 4,5 mil em 2015 para 4,3 mil em 2016. O pico foi em 2013, com 4,8 mil veículos. Já entre os carros de escolta armada, eram 3,4 mil unidades em 2014 e 2015, subindo a 3,6 mil em 2016. O setor de segurança privada comprou 12,9 mil armas de fogo novas – sendo 15,8% adquiridas por empresas de curso de formação de vigilantes. O setor comprou ainda em 2016 mais de 10,1 milhões de munições.

 

Desse total, quase 89% foi adquirido pelo segmento de formação de vigilantes.

Para Nazário, há ajustes na legislação que podem melhorar a competitividade das empresas. Ele dá como exemplo a aprovação do Estatuto da Segurança Privada, que pode combater empresas clandestinas, que alimentam a tendência de preços "inexequíveis". "Com a nova regulamentação, a Polícia Federal terá sob tutela dela todo o escopo de segurança privada relacionada à tecnologia. Hoje, esse segmento está em uma área cinzenta.

 

Por isso, tem sido explorado por empresas que não são de segurança, que não têm os custos que as empresas de segurança privada têm que arcar, pela regulamentação. Isso cria uma competição desigual", diz Nazário.

 

O Estatuto da Segurança Privada, de autoria do Senado, já passou na Câmara, mas voltou aos senadores por ter sofrido alterações. O texto agora está na Comissão de Assuntos Sociais do Senado. "Esperamos a aprovação ainda neste ano", diz o presidente da Fenavist.

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