Amauri Meireles
Coronel Reformado da PMMG
Ex-Comandante da Região Metropolitana de BH
Dentre os dados estatísticos contidos no 8º Anuário de Segurança Pública, do Fórum Brasileiro de Segurança Pública, destacam-se: “A polícia brasileira matou, entre os anos de 2009 e 2013, média de seis pessoas por dia no Brasil. Em cinco anos, foram ao menos 11.197 mortes provocadas – número maior do que a polícia americana matou em 30 anos – 11.090.”
O leigo poderia perguntar: isso é bom ou ruim? Já o profissional da área dirá: e daí?… É o típico caso em que a notícia faz mais estragos que a informação!
O texto, sob a óptica da segurança subjetiva (crença na ausência de riscos), induz o leitor ao etnocentrismo (quando o outro é considerado inferior) às avessas. Serviu para aumentar o clima de insegurança, a sensação de insegurança, a síndrome de próxima vítima. Ora, são culturas distintas, com características peculiares e a notícia não considerou a relativização de que fala Roberto DaMatta. Qual seria a contribuição se os dados se referissem aos baixos índices do Japão em relação aos EUA? Ou de índices mais baixos do Brasil em relação à Venezuela ou à Colômbia? O sensacionalismo afeta a credibilidade, a confiança da população em sua força de proteção. Pode prestar-se à divulgação do anuário, mas, certamente, contribuirá para elevação do nível de insegurança.
Já, sob o aspecto da segurança objetiva (ausência de riscos), ao apresentar números absolutos, a contribuição é de enorme inutilidade. Digo, contribui apenas para aumentar a intranquilidade. Quem é profissional da área de defesa da sociedade sabe ser fundamental considerar aspectos componentes, determinantes e condicionantes da violência, principalmente a criminal.
No Brasil não se tem uma política pública, de base, que corrija a criação de adolescentes e jovens sem o sentimento de pertencimento em relação às normas estatais e, por pior que pareça, em uma estrutura onde a violência contra o policial não é considerada negativa. A polícia dos EUA não precisa recuperar morros/comunidades dominados pelo crime organizado, nem realizar grandes operações para apreensão de armas ilegais, o que leva a enfrentamentos armados, por si só graves e letais. Será que a polícia estadunidense agiria de forma diferente se tivesse de enfrentar tais desafios sociais, que ela não deu causa? Os resultados estatísticos da polícia estadunidense seriam diferentes?"
Não acredito em má fé, mas, ignorância na produção da informação. Não se consideraram as conseqüências da informação bruta. Penso que a origem estaria em alguns equívocos já sedimentados. Assim, em qualquer lugar do mundo, por mais que a polícia mate, por mais que policiais morram, o crime estará sempre presente e em números coerentes com a realidade cultural. A instituição-polícia jamais acabará com o crime. Sua função é prevenir (inibir vontades e obstaculizar oportunidades) e reprimir (dominar e prender). Não atua nas origens, na formação de cidadãos. Que, em nosso país, praticam o desrespeito aos valores sociais e desobediência às regras sociais. Uma vergonhosa incivilidade, uma grave hemorragia social que o Estado tem sido incompetente para estancar.
E policial mata, e policial morre!