Anderson Bandeira
Quase dez dias depois de uma onda de violência tomar as ruas de Natal, no Rio Grande do Norte, provocada pela crise no sistema penitenciário, o Estado voltou nesta terça-feira, 9, a registrar ataques e mortes. Bandidos incendiaram uma base da Polícia Militar e tentaram atacar um ônibus. Horas antes, três presos haviam sido assassinados na Penitenciária Estadual de Alcaçuz, em Nísia Floresta, na região metropolitana de Natal.
A onda de violência teve início depois que o governo do Estado começou a instalar bloqueadores de celular na Penitenciária de Parnamirim. Os atentados são feitos por integrantes do Sindicato RN, facção que controla a maioria das unidades prisionais.
De acordo com a direção da Penitenciária de Alcaçuz, que é o maior presídio do Rio Grande do Norte, foram assassinados os presos Luciano Cunha Gomes, Alexsandro Barros de Andrade e Anderson Freitas de Andrade. A direção da penitenciária não informou se as mortes têm relação com a briga entre facção criminosas – além do Sindicato RN, as cadeias do Estado abrigam integrantes do Primeiro Comando da Capital (PCC).
Em Natal, a retomada dos ataques dos bandidos começou com o ataque a uma base da PM no bairro de Pajuçara, na zona norte da cidade. Segundo a polícia, cinco homens teriam participado do crime. A base estava fechada quando foi atacada. Testemunhas contaram aos policiais que um bando chegou ao posto policial e, após arrombar as portas, queimaram colchões. Antes de deixar o lugar, o grupo gritou na rua o nome da facção criminosa.
Versão. Mesmo com os relatos das testemunhas, a Secretaria Estadual da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed) afirmou após o atentado que o crime não teria relação com os ataques registrados anteriormente no Estado. Ainda segundo a versão da polícia para o caso, um suspeito de ter participado do crime foi preso. Ele teria “problemas mentais”.
O outro ataque registrado em Natal aconteceu no bairro de Mãe Luiza, na zona leste. Conforme relatos de testemunhas, um adolescente e três homens teriam tentado incendiar um ônibus pela manhã. A polícia também apura se esse caso tem ligação com as ações do Sindicato RN.
Desde o começo dos atentados, no dia 29 de julho, a Secretaria da Segurança já registrou oficialmente 107 ataques criminosos em 37 cidades do Estado. A ação dos bandidos fez com que o governador do Estado, Robinson de Faria (PSD), pedisse ao governo federal o envio de tropas das Forças Armadas para que a ordem fosse restabelecida no Rio Grande do Norte.
Ao todo, o presidente em exercício, Michel Temer, determinou o envio de 1,35 mil homens do Exército e do Corpo de Fuzileiros Navais da Marinha. Os militares foram distribuídos principalmente em áreas frequentadas por turistas na capital. O Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República também informou o envio de agentes da Agência Brasileira de Inteligência (Abin) e da Polícia Federal (PF), a fim de identificar e prender os autores dos atentados.
Com a chegada das tropas das Forças Armadas, o transporte público feito pelos ônibus em Natal foi retomado pelas empresas. Até esta terça, 108 pessoas já foram presas sob suspeita de envolvimento direto nos ataques.
Ao todo, 21 chefes da facção criminosa suspeitos de envolvimento na onda de violência foram transferidos do sistema prisional do Rio Grande do Norte para penitenciárias federais.
Cinco perguntas para General Ronaldo Pierre Cavalcanti Lundgreen, secretário da Segurança Pública do Rio Grande do Norte
1. A ajuda do Exército foi pedida logo após a saída da Força Nacional. As polícias do Rio Grande do Norte têm como cumprir a missão de manter a segurança?
Estou há três meses na função. O que vejo é que o Estado não deu atenção à segurança pública por um período muito longo: 10, 15 anos. A gente vê policiais militares com 12, 15 anos de serviço, que ainda são soldados, não teve uma progressão. A gente vê o sistema penitenciário, sob controle da Secretaria da Justiça, com menos vagas que o necessário, presídios lotados, que começaram a ter fugas frequentes. Então, tudo isso fez com que ficasse mais difícil ainda a gestão da segurança pública.
2. O senhor atribui os altos índices de criminalidade às fugas?
Também. Mas nós também fizemos apreensão de duas toneladas de drogas em um Estado com 3,5 milhões de pessoas. O Estado consome isso ou já é um local de passagem e a gente não sabe ainda?
3. A crise atual não é consequência só da instalação dos bloqueadores?
Não. E não serão os bloqueadores que vão resolver. Para o controle do sistema penitenciário, precisa criar mais vagas.
4. É possível colocar em prática ações sem o apoio do Exército nas ruas?
O Estado tem condições de se manter sozinho? Sim. O que precisamos, e esse é nosso plano, é manter o conceito de polícia comunitária.
5. É possível instalar bloqueadores em todos os presídios do Estado?
É. Só precisa ter dinheiro.