Henrique Coelho e Marco Antônio Martins
O novo secretário de Segurança do Rio, Roberto Sá, tomou posse nesta segunda-feira (17). Ele substitui José Mariano Beltrame, que pediu demissão na semana passada. Em seu primeiro pronunciamento, Sá afirmou que fará reuniões periódicas de avaliação dos números da criminalidade, com foco nas UPPs.
Ele afirmou ainda que o projeto continua, mas que eventuais ajustes serão feitos. "Vamos focar e intensificar nas investigações (para apreender) de fuzis e armas de alto poder explosivo, juntamente com outras polícias, em uma "coalizão do bem"", garantiu o secretário.
Segundo ele, a sua gestão vai focar na preservação da vida e na valorização do profissional de segurança pública. "A gente vai fazer com que essa gestão do conhecimento valorize o policial civil e o militar que estão lá na ponta".
Entre as ações de combate ao crime organizado, está prevista uma investigação mais intensa sobre o uso de armas de grosso calibre e explosivos por grupos criminosos. "Eu quero algo a exemplo do que era a Delegacia de Repressão a Armas e Explosivos (DRAE). Essas são as armas usadas na lógica do terror, como fuzis e explosivos", explicou Sá.
O novo secretário da pasta ainda fez questão de agradecer ao seu antecessor. "Quero fazer um agradecimento especial ao José Mariano Beltrame, por ter me dado liberdade em seu assessoramento e por ter me chamado para ser subsecretário", afirmou Roberto Sá, em suas primeiras palavras como secretário empossado.
Roberto Sá disse que mudanças pontuais na equipe ocorrerão. "Ainda irei conversar com os dois", disse Roberto Sá, sem deixar claro quem serão os nomes que ocuparão a Chefia de Polícia Civil, que teve a saída de Fernando Veloso na última semana, e o comando da Polícia Militar, atualmente comandada pelo coronel Édison Duarte.
O secretário afirmou que vai fortalecer as UPPs, mas a forma que isso será feito ainda será discutido. "São necessidades das UPPs que vamos ver com monitoramento, como realocação de recursos, que independe de dinheiro", explicou Sá, acrescentando que vai prezar por mais integração com a polícia civil.
Olimpíada permitiu "troca de informações"
O ministro da Justiça, Alexandre Moraes, disse, durante a cerimônia, que o estado avançou muito na questão de inteligência. "A olimpíada permitiu que trocássemos todas as informações necessárias para que, a partir do momento que os protocolos sejam assinados, possamos partir para operações conjuntas", explicou Moraes.
Segundo ele, vem sendo feito um mapeamento de homicídios em cada capital, assim como a apreensão de armas, de baixo e alto calibre. "Fechamos o mapeamento em cada uma das capitais. Segurança pública é união, é cooperação. Vamos fechar dois planos relativos à homicídios e violência doméstica de um lado, e das fronteiras brasileiras do outro", disse ele, ressaltando que o presidente Michel Temer determinou que todo apoio possível fosse dado ao Rio na questão de segurança pública.
Ainda de acordo com Moraes, é necessário fazer o mapeamento da criminalidade organizada, contando com a ajuda do Depem e das secretarias de administração penitenciária. "Isso será feito para que aqueles que cometem crimes graves, usam fuzis, fiquem mais tempo presos. Não é possível que alguém que desfila com um fuzil seja condenado a 5 anos e 4 meses e saia da cadeia com 11 meses. Vamos apresentar um projeto para que crimes com armas pesadas ou grave ameaça tenham a obrigatoriedade de pelo menos metade da pena", explicou o Ministro da Justiça.
Na última sexta-feira, o ministro da Defesa, Raul Jungmann, afirmou que seria feito um plano emergencial de segurança, e que o Rio tinha papel fundamental no plano, pela sua importância no cenário nacional.
Dívidas
O novo secretário assume o cargo com o desafio de controlar uma dívida de R$ 100 milhões. Técnicos do governo calculam que, se juntar esse valor com o déficit das polícias Civil e Militar, o rombo atinge R$ 500 milhões. A maior parte da dívida se refere a atrasos no pagamento de fornecedores de equipamentos para as polícias e a contas que não foram pagas.
Além de gerir os gastos, o novo secretário precisará administrar duas polícias sem previsão de pagamento de salários para o fim do ano. Desde quinta-feira (13), Sá ouviu delegados e coronéis da PM na sede da Secretaria no Centro do Rio.
Motivação sem investimento
Nas conversas com os candidatos à chefia da Polícia Civil e ao comando da Polícia Militar, Roberto Sá falou da intenção de retomar o programa de metas, implantado durante a gestão Beltrame, que media o desempenho dos policiais e dava prêmios a quem atingisse metas estipuladas pela secretaria.
A escolha dos nomes também passou por definir quem está mais apto a cobrar desempenho dos agentes. O secretário procurou por um gestor capaz de motivar as tropas sem previsão de investimento neste fim de ano.
Até sexta (14), a dívida apenas da Secretaria de Segurança estava em R$ 100 milhões, de acordo com o Portal da Transparência. Toda a área de segurança estadual, reunindo as polícias, a administração penitenciária e os bombeiros, tem uma dívida que chega a R$ 1 bilhão.
Perfil
Roberto Sá ocupou a Subsecretaria Operacional da Secretaria de Segurança do Rio durante toda a gestão Beltrame. Sá foi major da Polícia Militar do Rio.
Após se envolver em um caso de auto de resistência na favela de Manguinhos, na Zona Norte do Rio, deixou o Bope (Batalhão de Operações Especiais) e passou a ser lotado em outras instituições. Entre elas, a Assembleia Legislativa (Alerj).
Aprovação de Cabral
O policial integrou a segurança do Legislativo do Rio durante a presidência do então deputado Sérgio Cabral. O ex-governador deu aval ao nome de Sá para substituir Beltrame.
Formado em Direito pela PUC-Rio, Roberto Sá entrou na Polícia Federal em 2004. Passou dois anos na Superintendência da PF no Acre, antes de vir para a equipe de Beltrame, em 2007.
Em 2014, foi indicado por Cabral para ser secretário de Segurança do Espírito Santo, mas não aceitou o convite do governador Paulo Hartung (PMDB). Na mesma época, Beltrame indicou o auxiliar para assumir a Segurança nos estados do Ceará e do Rio Grande do Sul. Novas recusas, até aceitar a proposta na semana passada.
Roberto Sá é casado com uma professora e tem duas filhas universitárias.