A Polícia brasileira lançou a maior operação contra o crime em uma enorme favela após a ocorrência de pelo menos 40 assassinatos na região de São Paulo, incluindo a aparente execução de diversos policiais.
A “Operação Saturação”, lançada em 29 de outubro dentro e nos arredores da favela Paraisópolis, no sul da cidade, com 80 mil habitantes, tem como objetivo “interromper o enorme fluxo do tráfico” e reduzir o número de assaltos e roubos, disse o secretário estadual de Segurança Pública, Antônio Ferreira Pinto.
Cerca de 600 policiais fortemente armados do batalhão de choque da Polícia Militar – uma força estratégica de reação rápida – foram enviados para vasculhar a área adjacente ao sofisticado bairro do Morumbi.
“O objetivo é combater o crime organizado, destruir sua estrutura”, disse à AFP o Major Alexandre Gasparian, que supervisiona a operação, em seu posto de comando perto do estádio do Morumbi, na manhã do dia 30 de outubro.
Ele disse que a operação de repressão teria “duração indeterminada” e seria estendida a outros bairros dessa enorme metrópole com 20 milhões de habitantes, que é também a capital financeira do Brasil.
Apenas no dia 29 de outubro, pelo menos dez pessoas sofreram disparos de armas de fogo em São Paulo e uma outra na cidade próxima de São Bernardo do Campo, a maioria por agressores em carros ou motos.
Em setembro, o número de crimes na região subiu para 144, frente a 71 no mesmo mês do ano passado, e pelo menos 40 pessoas morreram em tiroteios desde o dia 25 de outubro, segundo dados da segurança pública do estado.
Mais de 80 policiais foram executados na região este ano, a maioria em emboscadas quando não estavam a serviço.
Muitos desses assassinatos de policiais foram seguidos de mortes indiscriminadas, a tiros, de supostos traficantes ou assaltantes, as quais as famílias das vítimas acusam, sem provas, de retaliação por parte da Polícia Militar.
Gasparian disse à AFP que desde o início da operação a Polícia prendeu duas pessoas, apreendeu 125 quilos de maconha, dez quilos de cocaína, 50 pacotes de drogas sintéticas e cinco armas de fogo ilegais.
Na manhã seguinte, a vida seguia como sempre na Rua Doutor Laerte Setúbal, a principal avenida de Paraisópolis, quando a Polícia instalou 12 postos de controle na favela.
A favela é um emaranhado de construções, onde as casas passam por reformas que denotam claramente o aumento do poder aquisitivo de seus habitantes.
“Não temos grandes problemas aqui. É seguro. Há até bailes à noite: funk, pagode, samba. Ninguém é perturbado a não ser que realmente procure por isto”, disse Valéria Silva, 30 anos.