André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos, especialista em terrorismo
e conflitos de baixa e média intensidade.
O fato de o Brasil estar se preocupando com a segurança para os próximos grandes eventos que ocorrerão a partir de julho deste ano, nos deixa mais aliviados. Especialmente, quando buscamos integração para troca de informações com outros órgãos de países que possuem reconhecida experiência nesta área e verificamos parte do treinamento das equipes de contraterrorismo. Neste sentido, os lamentáveis atentados de Boston tiveram grande impacto e trouxeram uma outra percepção às autoridades governamentais sobre as ameaças e riscos iminentes que corremos em um mundo globalizado.
O episódio de Boston, nos mostrou três realidades distintas, que encaixam-se perfeitamente em nossa preparação. Em primeiro lugar, vimos que, mesmo com um aparato de segurança tecnológico avançado e com todo o caráter preventivo das medidas de segurança, as ações terroristas persistem e, de forma inesperada. Em segundo lugar, o grande número de policiais locais e agentes federais envolvidos na operação de identificação e captura, estimado em 60 mil, de forma direta e indireta, situação em números absolutos que não chegamos nem perto por deficiência de recursos humanos.
Em terceiro, e o fator mais importante foi a pronta resposta das autoridades em buscar pistas, identificar os culpados e prendê-los em tempo recorde. E isto só foi possível, graças a colaboração irrestrita da população, considerada os olhos e os ouvidos do FBI que auxiliaram nas buscas prestando informações que permitiram a localização dos suspeitos. Uma das heranças de Edgar Hoover.
Mas, para infelicidade nossa, este é um ingrediente que culturalmente nós brasileiros ainda não possuímos. No Brasil, muitos segmentos sociais ainda tem desconfiança da Polícia e por consequência, receio em colaborar com esta. Os militares, considerados as instituições mais confiáveis do país, e envolvidos na segurança destes eventos também não possuem no raund na busca e coleta de informações dentre a população, até por não ser atribuição constitucional destes.
Ainda sob os efeitos deste caso, voltam-se as discussões sobre a aprovação da Lei anti terrorismo, a ser examinada pelo Congresso Nacional. Com certeza, seria uma medida de grande importância mas não fundamental assim como não o são as equipes de contraterrorismo. Elas devem estar preparadas mas só se tornam fundamentais após a ocorrência de um atentado, situação que esperamos sinceramente, que não aconteça.
Nesta conjuntura, parece-me que uma rede de colaboradores das comunidades seria uma nova força extraordinária agregada as já existentes, um exercício de cidadania envolvendo a nação como um todo, a exemplo do que ocorre em outros países, não apenas nos EUA. O maior problema, é desenvolver na população brasileira. este espírito de colaboração com os órgãos de segurança, um paradigma a ser quebrado em décadas de desconfiança e em algumas casos, de temor.