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Rede de Bolsonaro na ‘teia’ do motim


Adriana Fernandes, André Borges
e Leonencio Nossa

/ BRASÍLIA


Um grupo político ligado ao deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ) esteve na linha de frente da comunicação e da logística do motim que parou a Polícia Militar do Espírito Santo no início deste mês, segundo levantamento do Estado em conjunto com uma equipe de especialistas em redes sociais.

Entre os nomes que constam desta rede de apoio estão o ex-deputado federal Capitão Assumção e o deputado federal Carlos Manato (SD-ES), aliados de Bolsonaro no Estado. A Polícia Federal investiga a origem do movimento, que durou do dia 4 até 14 de fevereiro, período em que ocorreram 181 homicídios na Grande Vitória e em cidades do interior. Um relatório parcial da PF, de 17 de fevereiro, ao qual a reportagem teve acesso, cita os nomes de Assumção, de Manato e de assessores. O documento alerta para a possibilidade de falta de policiais nas ruas de Vitória durante o carnaval.

A paralisação dos militares é considerada ilegal e mais de mil agentes da corporação estão sendo processados.

O Estado identificou uma intensa troca de mensagens entre pessoas ligadas ao grupo, influente na PM capixaba, corporação que agrega 10 mil homens. O levantamento coletou informações produzidas por internautas e rastreou as interações de pessoas e entidades. Para isso, teve a ajuda de uma equipe formada por mestres e doutores nas áreas de Sociologia e Comunicação Digital. Recorde. Publicações do próprio Bolsonaro atingiram recordes de visualizações nos dez dias de paralisação.

Apenas um vídeo divulgado pelo deputado no dia 6 de fevereiro, terceiro dia do motim, foi visualizado por 2 milhões de pessoas. Nele, Bolsonaro critica o governo do Estado, defende a polícia, alerta para a possibilidade de o movimento se espalhar para outros Estados e faz propaganda do nome do Capitão Assumção, que, segundo aliados, almeja voltar à Câmara em 2018.

Atuação. A movimentação na internet antecede a presença massiva de familiares dos policiais na frente dos batalhões da Polícia Militar, um cenário que ganhou corpo a partir da manhã do sábado, dia 4. No dia anterior, sexta-feira, o ex-deputado Capitão Assumção, braço direito de Bolsonaro no debate de segurança pública na Câmara entre 2009 e 2011, divulgou no Facebook uma lista de reivindicações da categoria e as primeiras imagens de mulheres que faziam protesto na frente de um batalhão no município da Serra.

"Já que os militares não podem se manifestar, os familiares estão fazendo por eles", escreveu. O post teve quase 300 mil compartilhamentos. O exdeputado usa foto de Bolsonaro na capa da conta no Facebook. Procurado desde a terça-feira, Assumção não foi localizado. Na noite do mesmo dia, véspera do início do motim, o empresário Walter Matias Lopes, militar desligado da polícia, alertou seus seguidores: "Amanhã a Polícia Militar vai parar. Pior Salário do Brasil".

Em seguida, convocou: "Você, admirador da Polícia Militar, está convidado para participar do movimento amanhã". Matias é companheiro de Izabella Renata Andrade Costa, funcionária comissionada do gabinete de Carlos Manato, que é pré-candidato ao governo do Espírito Santo com o argumento de que, assim, dará palanque a Bolsonaro. Além de também incentivar a manifestação, Izabella engrossou as fileiras em frente aos quartéis e ajudou a distribuir alimentos às mulheres, segundo publicou em sua conta no Facebook.

Na manhã de sábado, divulgou vídeo de "transmissão ao vivo" do protesto. Marido de Izabella, Matias Lopes também tem pretensões eleitorais em 2018. Quer tentar uma cadeira na Assembleia Legislativa.

Ao Estado, disse que foi apenas um "espectador". "Não sou líder nem cabeça de movimento. Nem eu nem a Izabella", afirmou, referindo-se à sua companheira. "Estou servindo apenas de mediador de um conflito." Logo após a conversa, Matias e Izabella limparam as mensagens publicadas no Facebook.

Questionado sobre as publicações disseminadas pelas redes sociais, o governo do Espírito Santo informou que tem procurado identificar a dimensão do uso político antes, durante e depois do motim e que fez alerta às forças federais.

Ao vivo. A reportagem procurou Bolsonaro desde terça-feira para comentar as questões relacionadas à crise no Espírito Santo e enviou perguntas ao deputado. O deputado, que informou que estava no Rio, não respondeu aos questionamentos e disse que só se manifestaria sobre o assunto ao vivo e desde que a conversa fosse gravada em vídeo.

 

Assessores são ligados a Forças Armadas e ABIN

DAIENE CARDOSO
 

Capitão da reserva do Exército, o deputado Jair Bolsonaro (PSCRJ) tem sua base eleitoral ligada a setores militares, como os ex-policiais identificados na rede de apoio ao motim no Espírito Santo. A maior parte da sua equipe de funcionários na Câmara, inclusive, também é formada por pessoas que já foram ligadas às Forças Armadas ou à polícia.

Como pré-candidato à Presidência, intensificou a presença nas redes sociais e costuma responder diretamente aos internautas. O assédio também cresceu. Em dias de votação na Câmara, costuma ser abordado com pedido de foto ou para gravar vídeos. "Tem gente que vem aqui e fica o dia inteiro para abraçá-lo e apertar a mão dele", contou Telmo Broetto, ex-agente da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) e capitão reformado, funcionário de Bolsonaro há 15 anos.

 

Entrevista


‘Ganhei ou perdi? Acho que fiquei neutro. Votos não vão cair em mim’
Carlos Manato, deputado federal (SD-ES)

 O deputado federal Carlos Manato (SD-ES) negou ao Estado ter incentivado o movimento que parou a Polícia Militar do Espírito Santo, disse que ficou neutro tanto antes quanto durante os protestos. Afirmou ainda que não lucrou politicamente com a crise na segurança. Defensor do armamento da população, ele apresentou projeto de anistia dos policiais e mostrou uma mensagem por WhatsApp em que Jair Bolsonaro confirma a aliança nas próximas eleições. Manato é pré-candidato ao governo do Espírito Santo, hoje comandado pelo peemedebista Paulo Hartung.

Como avalia o fato de algumas pessoas que participaram do movimento, como a Izabella Costa e o Capitão Assumção, serem próximas ao senhor?

O Capitão Assumção é policial militar aposentado. Ele tem uma ligação muito grande com a polícia e todos os movimentos, porque é candidato a deputado federal de novo.

O (Walter Lopes) Matias (ex-soldado da PM) me ajuda nas redes sociais, nas minhas coisas. O que eu sempre converso com eles: "Se vocês cometerem algum crime, assumam e respondam por ele. É problema de vocês. Cada um vai pagar o preço da sua irresponsabilidade."

Mas o fato de ter uma pessoa no protesto em frente a um quartel, como a Izabella, que trabalha em seu gabinete, não pode ser interpretado como um envolvimento do senhor?

Zero envolvimento. Nunca pedi para eles deixarem de fazer. A Izabella é esposa do Matias. Ela trabalha para mim em Vitória, no Espírito Santo. Cuida de redes sociais.

Na sua opinião, essa rede se aproveitou politicamente da crise para levantar o nome de Bolsonaro e as bandeiras dele?

Ele (Bolsonaro) não foi lá. Qualquer coisa que ele faz tem no mínimo 1,5 milhão de interações. E ele tem dois celulares, que não param, tamanha a quantidade de (mensagens no) WhatsApp.

Como o senhor viu a exploração política da crise no ES?

Eu ganhei ou perdi? Eu acho que eu fiquei neutro. O Capitão Assumção é que levou toda a glória, os votos vão cair nele. Não em mim. Tive um desgaste natural da sociedade civil organizada que não concordou com a posição do projeto (de anistia). De cem (pessoas), entre e-mail, WhatsApps, Facebook, 80 concordaram com minha atitude e 20, não.

 

Nota DefesaNet

Recomendamos a leitura da matéria publicada, sexta-feira (24FEV2017).

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Na matéria DefesaNet identica como apoiadores um amplo leque de atores:

"Cumplicidades entre Políticos (da esquerda à direita), Polícias, Milícias e Gangues levou a um show macabro. A participação da imprensa também tem sido observada, em especial órgãos que dão apoio a partidos de esquerda e em especial o PCC"


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