Laura Bonilla
Quase um ano depois da ocupação militar e policial que tirou dos narcotraficantes o controle da Rocinha, a maior favela do Brasil, situada em uma região de classe média alta do Rio de Janeiro, as autoridades inauguraram em 20 de setembro, em clima de festa, a primeira unidade policial permanente.
A Rocinha, com cerca de 70 mil habitantes e onde a Polícia não conseguiu colocar os pés durante mais de três décadas, conta agora com sua primeira Unidade de Polícia Pacificadora (UPP), com agentes especialmente treinados para fazer frente aos problemas da comunidade.
No entanto, reconquistar esse território íngreme e com ruelas em labirintos, abandonado pelo Estado e nas mãos do narcotráfico, é um enorme desafio, e os frutos serão vistos em vários anos, advertem as autoridades.
A favela registrou 12 mortes violentas no decorrer deste ano, sendo a última a de um policial de 25 anos que fazia o patrulhamento da comunidade a pé, na semana passada.
Só se pode passar de carro em 20 por cento desse enorme bairro e, por isto, ele deve ser patrulhado em motocicleta e, principalmente, a pé, com apoio de rádio, disse aos jornalistas o major Edson Santos, novo comandante da UPP da Rocinha. Foram também instaladas 100 câmeras de vigilância na comunidade, acrescentou.
Desde a ocupação, há 10 meses, “a situação já melhorou muito. Pode-se caminhar pelas ruas com tranquilidade, o que antes não se podia fazer. Mas ainda há um longo caminho a percorrer”, disse à AFP Edwirges Mattoso Kneip, uma aposentada de 63 anos nascida na Rocinha.
“Agora existem bandidos roubando as casas, não posso deixar minha casa sozinha. Antes a lei do narcotráfico dizia que dentro da favela não se podia roubar” e castigava cruelmente os ladrões, acrescentou a ex-empregada de uma padaria, vestindo uma camiseta com a bandeira olímpica e o logo Rio-2016, presente do governo do Estado.
A UPP da Rocinha será a 28ª instalada em uma favela do Rio de Janeiro, desde 2008, quando teve início a estratégia de ocupação dessas comunidades para melhorar a segurança antes da Copa do Mundo 2014 e dos Jogos Olímpicos 2016, no Rio de Janeiro.
“A comunidade da Rocinha nos aceitou. Há algumas críticas contra as UPPs. Sabemos que as mudanças não ocorrem de imediato; vamos percebê-las quando as crianças de hoje tiverem 15, 16, 20 anos”, disse o comandante-geral da Polícia Militar, Erir Ribeiro Costa Filho.
Aproximadamente 6.770 policiais estão lotados nas Unidades de Polícia Pacificadora instaladas no Rio desde 2008. O governo espera alcançar 40 UPPs até 2014.