Por Brian Winter
SÃO PAULO (Reuters) – A polícia de São Paulo está tentando prender manifestantes de uma facção violenta antes do início da Copa do Mundo, em duas semanas, usando escutas telefônicas e outros mecanismos de vigilância para evitar confrontos que prejudiquem o torneio.
O secretário de Segurança Pública de São Paulo, Fernando Grella, disse à Reuters que a polícia está preparando possíveis acusações criminais contra um pequeno número de líderes dos manifestantes, que, segundo ele, estão conspirando para “cometer atos de violência, quebrar, depredar, agredir pessoas”.
O trabalho de inteligência ainda não está finalizado, por isso não está claro se os promotores irão concordar em fazer acusações que resultariam em prisões preventivas, declarou Grella.
A probabilidade de manifestações violentas é uma das maiores preocupações do governo brasileiro e da Fifa à medida que se aproxima o dia 12 de junho, início do Mundial.
Brasileiros revoltados com o gasto de dinheiro público no torneio, entre outras queixas, vêm organizando protestos periódicos há um ano. Embora a maioria dos manifestantes sejam pacíficos, vários protestos resultaram em embates com a polícia e vandalismo, que as autoridades atribuem a um pequeno número de estudantes e outros jovens.
A "intensa operação de inteligência" descrita por Grella é uma das mais abrangentes das forças de segurança do país, mas as agências federais também estão reunindo informações sobre os manifestantes.
Grella afirmou que a polícia usou imagens de câmeras de vigilância e registros internos para identificar os manifestantes mais violentos e, em alguns casos, grampearam seus telefones e monitoraram suas mídias sociais e e-mails.
O objetivo, ele disse, é identificar casos de violência premeditada e organizada que constituiriam “associação criminosa” – acusação semelhante à de conspiração mais comumente utilizada no Brasil contras facções do crime organizado.
Se os promotores concordarem em fazer as acusações, alguns líderes dos manifestantes poderiam ser detidos imediatamente e presos por um período de alguns dias ou mais, afirmou Grella.
“É um policiamento preventivo que garante o direito de manifestação e a liberdade de expressão, ao mesmo tempo em que procura organizar esses movimentos de forma que eles perturbem o menos possível a vida do cidadão e evidentemente evitar os atos de violência”, disse o secretário.
Ele disse que preparar um processo contra os manifestantes é “difícil, mas não impossível”.
“Quero crer com a sua conclusão talvez nas próximas semanas possamos ter eventualmente alguns pedidos de prisão”, acrescentou.
CETICISMO
Duas fontes de alto escalão do Ministério Público, que teria que aprovar as acusações criminais contra os manifestantes, declararam estar céticos quanto à legitimidade das acusações de conspiração.
A professora universitária Esther Solano, que estudou os protestos ao longo do ano passado, disse que, de forma geral, eles não têm uma liderança e uma organização, tornando difícil para a polícia identificar arruaceiros em potencial.
“O que (a polícia) está tentando fazer parece excessivo”, disse ela. “Isso mostra a pressão que a polícia e os políticos estão sofrendo para evitar uma grande bagunça durante a Copa do Mundo”.
O Ministério da Justiça, que supervisiona a polícia em todo o país, não respondeu de imediato a pedidos de comentário.
Indagado se as manifestações podem ser maiores do que aquelas que atraíram centenas de milhares de pessoas às ruas em junho passado, durante a Copa das Confederações, espécie de aquecimento da Copa do Mundo, Grella declarou: “É difícil dizer”.
Ele declarou, entretanto, que o dia 12 de junho, quando a seleção brasileira estreia contra a Croácia na Arena Corinthians, em São Paulo, “é o que mais nos preocupa” em termos de manifestações.
Grella disse não ter recebido indicações de uma ameaça em particular de terroristas internacionais ou facções do crime organizado do Brasil.