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PF engrossa caldo de problemas pré-Copa

Renta Mariz

A quatro meses da Copa, com o governo dependendo do Congresso para aprovar leis mais duras contra protestos violentos e atraso na construção dos Centros Integrados de Comando e Controle (CICCs), conforme mostrou o Correio na edição de ontem, a segurança no Mundial tem outra pendência: a insatisfação de delegados da Polícia Federal (PF).

Eles se reunirão em abril, em Vila Velha (ES), para discutir o assunto. Um grupo conseguiu incluir entre os temas do encontro a proposição de que a PF não atue em grandes eventos, alegando desvio da função investigativa. A falta de uma divisão clara de tarefas com o Exército é outro ponto que acirra ainda mais a disputa interna travada pelos dois órgãos por mais verbas.

Presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal (ADPF), Marcos Leôncio Ribeiro confirmou que o assunto está na pauta da reunião. Ele disse, porém, não acreditar na vitória, que tem de ser chancelada por pelo menos 65% dos delegados, da proposta que prevê uma Copa sem a PF. "Em geral, a maior parte da associação acredita que a PF deva participar dos grandes eventos, mas há debate sobre como deve se dar essa participação", afirma Leôncio. "Hoje, há vários delegados atuando na segurança das delegações das seleções.

Uma corrente concorda, outra acha que o delegado não deveria ir para a rua, mas sim fazer a coordenação. Isso será debatido e todas as deliberações serão apresentadas ao diretor-geral (da PF), ao Ministério da Justiça, à presidente da República ou em forma de um projeto de lei ao Congresso Nacional, dependendo de cada assunto."

Para piorar o quadro, permanece sem solução a briga entre PF e Exército, travada desde os Jogos Panamericanos no Rio de Janeiro, realizados em 2007, sobre o comando da segurança em grandes eventos no Brasil.

Desde que a presidente Dilma Rousseff sinalizou, ainda em 2012, que colocaria mais poder e orçamento nas mãos do Ministério da Defesa, diante da greve realizada à época pela PF, a briga se acirrou — embora, oficialmente, o discurso seja de trabalho em sintonia. "Essa queda de braço continua existindo, porque grandes eventos são vistos pelas instituições como uma grande oportunidade para se modernizar. A verdade é que ficam brigando, até criticando a atuação do outro, para conseguir mais recursos", diz Leôncio.

Recursos

Na PF, há um sentimento de injustiça, a cada repasse destinado pelo governo ao Ministério da Defesa no bojo da segurança nos grandes eventos — sobretudo por meio dos projetos de defesa cibernética e combate ao terrorismo. "As Forças Armadas vêm recebendo mais recursos para ficar de stand by. Quer dizer, só se acontecer um problema é que o Exército entra.

E, quando entra, ainda há a falta de esclarecimento sobre onde termina defesa nacional e começa segurança pública", diz Leôncio. A tradição de comando das Forças Armadas é algo que incomoda os policiais federais. Nos bastidores, integrantes da PF comentam que, dentro de salas de controle na Copa das Confederações, o clima era carregado. O ponto de tensão, quando havia atuação prática conjunta com militares, era a questão do comando.

Depois de uma atuação elogiada pela presidente Dilma Rousseff na Rio+20, em meados de 2012, o Exército ganhou pontos com o Planalto. Com um calendário de grandes eventos pela frente, que só terminam com os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro, em 2016, a briga com a PF se tornou mais intensa.

Para se ter uma ideia, em menos de três anos de existência, a Secretaria de Segurança de Grandes Eventos (Sesge) tem o terceiro chefe, o delegado da PF Andrei Augusto Passos Rodrigues. Ele assumiu a Sesge, que é vinculada ao Ministério da Justiça, depois que o antecessor, delegado Valdinho Jacinto Caetano, renunciou ao comando após uma crise com o Ministério da Defesa. O perfil conciliador de Rodrigues pesou na escolha da presidente, além do fato de o policial ter feito a segurança de Dilma na campanha de 2010.

"Hoje, há vários delegados atuando na segurança das delegações das seleções. Uma corrente concorda, outra acha que o delegado não deveria ir para a rua" – Marcos Leôncio Ribeiro, presidente da Associação Nacional dos Delegados de Polícia Federal

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