Marcos de Moura e Souza
De Belo Horizonte
Autoridades de Minas Gerais começaram a investigar indícios de que criminosos ligados ao PCC, gangue criminosa de São Paulo, estariam estendendo seus negócios pelo território mineiro. As suspeitas são que pessoas do grupo estejam adquirindo postos de combustíveis no sul de Minas para lavar dinheiro.
No Estado de São Paulo, a prática já é conhecida das autoridades. Postos, juntamente com falsas cooperativas de transporte público em micro-ônibus e com imóveis, têm sido um meio a que o PCC vem recorrendo para legalizar recursos ilícitos.
"Nossa preocupação agora é o PCC entrar no Estado", disse ao Valor o promotor de Justiça Renato Froes A. Ferreira, do Centro de Apoio Operacional das Promotorias de Justiça de Defesa da Ordem Econômica e Tributária. Segundo ele, o Ministério Público recebeu recentemente donos de postos da região reclamando de concorrentes vendendo combustível abaixo do preço e cujas suspeitas estão sendo investigadas.
Na Secretária de Estado da Fazenda, a informação é que na última operação contra esquemas de sonegação na venda de etanol, em julho na região no município de Campo Belo, no sul de Minas, surgiram suspeitas de que alguns postos já poderiam estar nas mãos do PCC.
Especializada no combate ao crime organizado, a promotora de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Beatriz Lopes de Oliveira, diz que a facção guardou em seus primeiros anos de atuação dinheiro obtido com o crime, em especial com o narcotráfico, em cofres escondidos em imóveis alugados, em veículos abandonados ou enterrados. Eram o que os próprios criminosos chamavam de "minerais".
Mas com a polícia fechando o cerco a esses esconderijos, o modo de operação foi se refinando e a lavagem de dinheiro passou a ser mais frequente. "Nas cooperativas de perueiros tem gente do PCC", diz, citando um ramo usado para esquentar o dinheiro. A compra e venda de imóveis é outro caminho utilizado.
"Começamos a verificar que uma das atividades que o PCC usa para lavar é a dos postos. Por quê? Porque é muito fácil fazer a troca de titularidade e porque a fiscalização é difícil", afirma a promotora. "Eles sempre usam o nome de um laranja, gente que não tem ficha, mas que também não tem mínimas condições econômicas para ser dona de uma posto".
Segundo ela, esse tipo de transação tem sido identificado não só na capital, mas também em cidades importantes do interior paulista como Campinas, Araçatuba e Presidente Prudente. "Tem postos que são adquiridos pela facção que são de grandes bandeiras e aí é que está a sofisticação", diz Beatriz. "Um posto de uma marca conhecida serve até de escudo mais eficiente para os criminosos do PCC."
Juntamente com a lavagem de dinheiro, continua Beatriz, o Ministério Público identifica muitas vezes nesses postos a prática da sonegação fiscal e da adulteração das bombas para ludibriar os clientes. Paulo Miranda, presidente da Federação Nacional do Comércio de Combustíveis e de Lubrificantes (Fecombustíveis), diz que o último mapeamento feito pelo sindicato das distribuidoras apontou que mais de 70 postos em São Paulo já são de propriedade do PCC.
Ele confirma que o alvo não são só os postos chamados "bandeira branca". "Às vezes, eles adquirirem um posto que tem um contrato de exclusividade de compra de 300 mil litros por mês de uma grande distribuidora. Colocam o preço na bomba lá embaixo e compram mais 300 mil de fora. Com isso, lavam dinheiro de assaltos a banco, do tráfico e ganham com a venda de combustível que vêm em caminhões roubados".
Segundo ele, as informações são partilhadas com MP e Secretaria de Estado da Fazenda. São Paulo tem o maior número de postos do país, cerca de 8,5 mil. Minas tem a segunda maior rede, com 4 mil.