Carlos Amorim
Publicado em 20/10/2016
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A guerra das facções: PCC divulga comunicado para informar que está lutando contra outras organizações criminosas em vários estados. O “salve geral” garante: “somos mais de 25 mil integrantes espalhados pelo país”. E a matança continua.
O Primeiro Comando da Capital (PCC), a maior organização criminosa do país, anuncia que há uma guerra entre diversas facções brasileiras. Um comunicado do grupo, chamado de “Salve Geral de 10 de Outubro”, está circulando no sistema carcerário desde a semana passada. É manuscrito em folhas de caderno escolar (quatro páginas, ao todo) e distribuído de mão em mão.
O documento foi redigido em português precário, com muitos erros intencionais e em letra de forma, para dificultar uma eventual investigação a respeito da sua autoria. Como vem sendo copiado de forma improvisada pelos presos, com a grafia piorando muito, se torna cada vez mais difícil compreender o significado do “Salve Geral”. É assinado por “Sintonia Final”, que corresponderia ao comando da organização.
A liderança do PCC é atribuída a Marcos Herbas Camacho, o Marcola. Ele sempre desmentiu essa condição, mas as autoridades juram que é quem manda na facção. É chamado de “O Artista” por seus supostos correligionários. Marcola está atrás das grades há muitos anos. E não está longe de atingir o limite de encarceramento previsto nas leis do país: 30 anos em regime fechado.
Será solto em pouco tempo, como foram soltos alguns dos líderes históricos do Comando Vermelho (CV): Escadinha, Paulo Maluco, Carlinhos Gordo, Willian (o “Professor”), Isaias do Borel e vários outros. A liderança de Marcola no PCC foi autenticada pelo governo paulista: na rebelião de 2006, um grupo oficial de negociação foi enviado de avião ao Presídio de Presidente Bernardes, interior de São Paulo, para pedir o fim da violência da facção, que resultou na morte de várias dezenas de pessoas, inclusive muitos policiais e autoridades públicas, nas ruas de São Paulo.
Uma fonte, que conhece bem a facção paulista, me mandou uma cópia da “nota oficial ” do PCC, via WhatsApp. A leitura permite perceber que a luta entre as quadrilhas ligadas ao narcotráfico se desenrola em pelo menos cinco estados: Rondônia, Roraima, Maranhão, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina.
O Rio de Janeiro e o CV não são citados. Aliás, fora o PCC, nenhuma outra facção é nominada. Mas este autor sabe que existem muitas:
– CV Nordeste;
– “Bonde do 13”;
– Organização Plataforma Armada (OPA);
– PCC do Sul;
– Sociedade Anônima (SA);
-Terceiro Comando;
– a ADA e coisas que tais.
Existiria até um Terceiro Comando da Capital (TCC), dissidência da facção paulista, comandado por um criminoso conhecido como “Geleia”.
O “Salve Geral” faz uma revelação: “somos 25 mil integrantes espalhados pelo país”. É a primeira vez que um número desse porte chega ao conhecimento público. Antes, só uma letra de música, na voz de Mano Brown, dos Racionais MC, citava “50 mil manos”. Parece um exagero, mas na grande rebelião do PCC, em 2006, 40 mil detentos nos estados de São Paulo, Paraná e Mato Grosso do Sul atenderam à ordem da facção para “virar as cadeias”.
Outra coisa que se percebe é o tom “politizado” do texto. “Sintonia Final” fala em opressores, capitalismo, direitos do povo e garante que o inimigo é a polícia e os agentes do governo. “Contra esses vai toda a nossa fúria”, conclui.
A facção paulista faz um apelo à união dos criminosos brasileiros. Mas ameaça com retaliações diretas e implacáveis. Se comporta como o “partido do crime”, alcunha pela qual gosta de ser reconhecida. Fiz adaptações no texto a seguir, para que possa ser compreendido, corrigindo o idioma sem comprometer o “estilo” e as “ideias”.
Acompanhe:
“Salve Geral de 10 outubro 2016: Ass) Sintonia Final” |
O “Salve Geral de 10 de Outubro” foi apreendido no Centro de Detenção Provisória (CDP) de Mongaguá, município da Baixada Santista, litoral de São Paulo, região onde o PCC controla o tráfico de drogas.
Ao que tudo indica, o enfrentamento, que já vitimou dezenas de detentos, é entre o CV (Comando Vermelho) e seus aliados nos estados e o PCC, além de outras facções locais. Na madrugada de sexta-feira (21OUT2016), houve novo confronto, desta vez em Rio Branco, a capital do Acre. A galeria do presídio Francisco Oliveira Conde onde estavam presos ligados ao CV, foi invadida e incendiada. Houve tiroteios nas ruas da cidade. Na contabilidade da polícia, 13 pessoas morreram – até agora. O governo local diz que dois agentes penitenciários são suspeitos de fornecer armas aos detentos.
Nota DefesaNet
O jornalista Carlos Amorim, com grande experiência em várias mídias, produziu dois livros básicos, para os estudiosos de violência criminal no Brasil.
– O Assalto ao Poder – O Crime Organizado (Editora Record)
– PCC – A Irmandade do Crime (Editora Record)
O editor
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