Nota DefesaNet Excelente série de OESP publicada no dia 11 Outubro 2013. – PCC – Montou 'Conselho de Administração' Link – PCC – Gangue negociou paz entre grupos cariocas Link – MARCOLA – Foi o PCC quem reduziu a criminalidade Link O Editor |
Marcelo Godoy
O Estado de S.Paulo
O crime paulista negociou a paz entre as três principais facções do Rio: Amigos Dos Amigos (ADA), o Comando Vermelho (CV) e o Terceiro Comando (TC). Dois homens da cúpula do PCC – Roberto Soriano, o Tiriça, e Rogério Jeremias de Simone, o Gegê do Mangue – trataram com Antonio Francisco Bonfim Lopes, o Nem, líder da ADA e chefe da Rocinha.
A conversa ocorreu com Nem ainda em liberdade, em 24 de setembro de 2010, antes de a Rocinha ter sido pacificada. Um emissário do PCC havia sido enviado ao Rio para cumprir a missão. O PCC queria ganhar mais dinheiro, pois a guerra no Rio atrapalhava seus lucros. "O crime fortalece o crime", disse Gegê do Mangue para Nem.
No começo da conversa, Gegê e Tiriça se recusam a falar com um porta-voz de Nem. Dizem que são "a palavra final do comando de São Paulo" e pedem que Nem faça "um google" para saber com que estava falando. Em seguida, Nem pega o telefone. Eles questionam Nem se ele se importava em negociar com os dois, pois eram amigos "do Fernando" – Luis Fernando da Costa, o Fernandinho Beira-Mar, líder do CV. Nem diz que não. A conversa termina com a decisão de as cúpulas fecharem um acordo, cujos detalhes foram tratados pessoalmente. O PCC enviou três de seus gerentes ao Rio e a ADA passou a ser mais um cliente da facção.
Existe uma parte de São Paulo que vive nas sombras, onde o Estado não chega. Aqueles que se relacionam nesse mundo lucram com o crime. Quando se envolvem em conflitos, não há como pedir socorro à polícia. Durante anos, os impasses nesse meio foram resolvidos a balas, provocando em São Paulo taxas de homicídio semelhantes às do Iraque em guerra.
O PCC começou a ganhar legitimidade justamente quando passou a se vender como a "Justiça" desse mundo das sombras, fato que ocorreu depois da popularização dos celulares, nos anos 2000. Isso facilitou o diálogo do lado de dentro com o de fora das prisões.
As lideranças das cadeias são respeitadas porque, em São Paulo, a carreira no crime costuma a reservar longas temporadas nas prisões. Ninguém quer cumprir pena com inimigos babando no cangote. "Correr pelo certo" e "respeitar o proceder" se tornaram uma forma de evitar inimizades entre aqueles que querem sobreviver roubando. Dessa maneira, a capacidade do PCC para mediar no crime aumentou. A facção cresceu nas brechas criadas pelo sistema.