O cibercrime como serviço acontece quando um criminoso oferece produtos ou infraestrutura de sistemas no mercado negro, em troca de um preço. A ESET, uma empresa líder em detecção proativa de ameaças, pesquisou a indústria do cibercrime na dark web para saber o que é oferecido e quanto esses serviços custam.
"A indústria de cibercrime é um negócio que irá custar 6 trilhões em 2021, de acordo com a Cybersecurity Ventures. Por custos, nos referimos às despesas incorridas após um incidente, já que em um ataque de ransomware, por exemplo, não apenas o pagamento do resgate é registrado, mas também os custos relacionados à perda de produtividade, melhoria das políticas de segurança, investimento em tecnologia, ou danos à imagem, para citar alguns", explica Camilo Gutierrez, chefe do Laboratório de Pesquisa da ESET América Latina.
Algumas informações que os pesquisadoras da ESET descobriram:
Ransomware como serviço: foram encontrados vários pacotes de ransomware à venda na dark web, como se fossem pacotes de software legalizados. Atualizações, suporte técnico, acesso aos servidores de comando e controle (C&C) e diferentes planos de pagamento são alguns dos recursos que foram observados.
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Ransomware Ranion oferecido na dark web |
Um dos ransomwares oferecidos é o Ranion, que segue um esquema de pagamento periódico. Ele tem vários planos de assinatura disponíveis por preços diferentes – o mais barato tem um custo de US $ 120 por um mês e o mais caro atinge US $ 1.900 por ano, caso o comprador adicione recursos ao executável do ransomware. Quem contrata esses serviços deve ser responsável pela disseminação do malware, espalhando o ransomware para as vítimas.
Venda de acesso a servidores: são oferecidas credenciais de acesso remoto à área de trabalho (RDP) de servidores em diferentes partes do mundo. Os preços variam entre 8 e 15 dólares cada e podem ser pesquisados por país, sistema operacional e até sites de pagamento que foram acessados pelo servidor. A compra destes acessos pode estar associada à execução subsequente de um ransomware, usar o servidor como uma botnet C&C ou a instalação de malwares, como trojans bancários ou spywares.
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Venda de acessos pela RDP para servidores na Colômbia |
Aluguel de infraestrutura: os cibercriminosos, proprietários de botnets ou redes de computadores infectadas, alugam seu poder de computação, seja para o serviço de envio de e-mails de spam ou para gerar ataques de negação de serviço (DDoS), nos quais usuários legítimos são impedidos de utilizar alguma funcionalidade.
O preço para este tipo de ameaça varia de acordo com a duração (entre uma e 24 horas) e a quantidade de tráfego que o botnet é capaz de gerar nesse tempo. Um exemplo de US $ 60 por três horas.
Ainda há o caso de jovens e adolescentes que oferecem seus botnets, geralmente pequenos, para alugar. Este recurso é utilizado para atacar servidores de jogos online, como o Fortnite. Esses cibercriminosos utilizam as redes sociais para se promoverem, sem se preocuparem em permanecerem anônimos. Além disso, eles costumam oferecer contas roubadas para venda.
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Instagram como uma plataforma para oferecer botnets para aluguel |
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Os usuários no YouTube mostram ataques DDoS aos servidores Fortnite |
Venda de contas do PayPal e cartões de crédito: os autores de ataques de phishing não usam diretamente as contas roubadas, mas as vendem para outros criminosos. Eles geralmente cobram 10% da quantia de dinheiro que a conta roubada tem disponível. Em alguns casos, os vendedores até mostram as ferramentas e sites falsos que usam para fazer phishing.
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Cibercriminosos que explicam passo a passo |
Os pesquisadores da ESET observaram como os cibercriminosos, escondidos atrás de ferramentas que lhes proporcionam um grau de anonimato, moldam uma frutífera indústria criminosa que vai desde a publicidade e o marketing até o atendimento ao cliente, atualizações e manuais de usuário. Nesse ecossistema criminoso, há muitos clientes internos, mas o ganho real é para os cibercriminosos que possuem uma infraestrutura ou serviço bem estabelecido.
Durante evento da indústria de segurança, Tony Anscombe, Evangelista Global de Segurança da ESET, visitou a dark web e concluiu: "a indústria de malware deixou de ser inesperada e, atualmente, apresenta características parecidas com uma empresa de software". Isso é reforçado pelo processo de comercialização e distribuição de software, produtos e serviços que os cibercriminosos oferecem nesse setor.