Eduardo de Oliveira Fernandes
Doutor e Mestre em Ciências Policiais de Segurança e Ordem Pública pelo Centro de Altos Estudos de Segurança (CAES), especialista em Ciências Sociais, Bacharel em Direito, professor de Ciência Política e Sociologia da Violência da Academia de Polícia Militar do Barro Branco. É autor do livro ”As Ações terroristas do crime organizado”, São Paulo, Livrus, 2012.
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Passada uma semana do episódico 15 de março de 2015, em que milhões de brasileiros saíram às ruas em flagrante protesto ao Governo Dilma, algumas leituras e diagnósticos, tanto de natureza política como histórica, passam a ocupar o imaginário coletivo.
Não se quer, contudo, cravar no tempo ou espaço um marco histórico como o verificado pelas Jornadas de Junho de 2013, ocasião em que alguns segmentos da comunidade acadêmica, ao tomarem por base as manifestações sociais protagonizadas pelo Movimento Passe Livre (MPL), igualmente tencionaram nominá-las de uma “nova primavera”, em referência à Primavera dos Povos e, mais recentemente, à Primavera Árabe, apesar de sabidamente vivermos em um regime democrático, ou seja, em ambiente político e social bem diverso dos dois episódios mencionados.
Ocorre que de maneira bastante intuitiva urge uma necessidade quase natural de se trabalhar cognitivamente com comparações, sobretudo pelo espaço que tais eventos ocupam na nossa memória recente.
Diferentemente das Jornadas de Junho, apesar de a temática das manifestações de 15 de março, por todo o Brasil, trazerem em seu cerne o desencanto e o descontentamento com o Governo Federal, não houve a constatação de situações de violência, embate, furtos, depredações, saques provocações, quebra da ordem pública e tampouco a necessidade de uma ação reativa da Polícia Militar, que, diga-se de passagem, foi sobejamente flertada pelo público presente na Avenida Paulista/SP, por meio de fotos e troca de reconhecimento mútuo.
Desta feita, pela sua natureza pacífica e ordeira, não restou espaço para a evocação da tática da ação direta, da busca da eficácia da violência simbólica e do incógnito uso de máscaras, bastante comum nas ações de grupos extremistas da Europa da década de 70 e que aqui foram resgatados e aplicados recentemente pela conduta dos assim autoproclamados Black Blocs e que constituíram o recente Brasil da Desordem.
Talvez o quinto elemento dessa nova natureza de manifestação social – o Brasil da Ordem – seja o respeito à alteridade, que, de maneira inconteste, oferece a matriz básica para convivência sem extremismos de parte a parte, inibindo uma espécie de maniqueísmo perverso, em que ou você está sempre do lado errado, ainda que cumpra a lei e esteja a serviço do povo.
Esse quinto elemento que faz com que a sociedade e Polícia Militar possam se olhar de forma transparente e simétrica e, ao mesmo tempo, além do respeito, possam nutrir interesse e curiosidade em se conhecer mutuamente, a fim de que a deferência demonstrada não denote a ideia de uma “mentira educada”, lugar comum em sociedades de diminuído apego civilizatório marcado pela existência de uma pretensa quinta coluna que insiste em inverter a ordem natural das coisas.
Vista Aérea da Avenida Paulista, em 15MAR15.