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Reconhecimento Facial – No Carnaval do Rio identificou 8 mil pessoas de interesse

Henrique Julião

Teletime

O sistema de reconhecimento facial instalado pela Oi e a Huawei em projeto piloto na cidade do Rio de Janeiro foi utilizado apenas durante o Carnaval, mas identificou cerca de 8 mil pessoas foragidas, suspeitas ou desaparecidas a partir de aproximadamente 3 milhões de rostos reconhecidos no período. O dado foi citado pelo diretor de engenharia da Oi, Andre Ituassu, durante evento da Huawei realizado nesta quinta-feira, 9.

Segundo o porta-voz da Polícia Militar do Rio de Janeiro, coronel Mauro Fliess, dez prisões foram realizadas a partir dos reconhecimentos. Fliess ainda confirmou que o governo e a secretaria estadual de segurança do Rio conversam com a Oi para extensão do piloto por mais alguns meses.

Entre as questões pendentes, o coronel cita os custos. "Precisamos ver se vai continuar sendo sem custo tal qual no Carnaval, além do número de câmeras", pontuou Fliess. Durante as festividades deste ano foram três dezenas, capazes também de identificar placas de carros. Segundo o porta-voz da PM do Rio, o próximo passo é "colocar mais câmeras para ter mais condições" de capturar suspeitos em movimento (o que se revelou um desafio durante o Carnaval mesmo com o uso de bicicletas).

Fliess também afirmou que nenhum questionamento jurídico relacionado com privacidade e dados pessoais foi direcionado ao Estado. "Só da sociedade e da imprensa. Deixamos claro que pessoas sem mandado de prisão em aberto não são identificadas. Ele [o sistema] não vai enxergar todo o banco de dados das entidades civis que consultamos, só o banco dos mandados". Com a iminência da entrada em vigor da LGPD, o uso de sistemas de reconhecimento facial tem suscitado questionamentos, inclusive no Congresso (ver abaixo).

Governo quer lei para regular vigilância estatal por meio de reconhecimento facial

ABIN defende uso de câmeras de reconhecimento facial para combater criminalidade, mas especialistas alertam que taxa de erro do sistema é alta

 

Representantes do governo defenderam, na Câmara dos Deputados, o uso de câmeras de reconhecimento facial para combater a criminalidade e a discussão urgente de uma legislação específica para regular o assunto. O tema foi debatido em audiência pública na Comissão de Ciência, Tecnologia, Comunicação e Informática na quarta-feira (3ABR2019). No debate, especialistas alertaram para a alta taxa de erro da tecnologia.

O oficial de inteligência da Agência Brasileira de Inteligência (ABIN) Filipe Soares, integrante do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República, disse que o reconhecimento facial pode ser utilizado para rastrear fugitivos, agressores, desaparecidos, suspeitos de terrorismo e potenciais espiões. “Aceitamos muito facilmente a vigilância promovida por empresas privadas, como o Google, mas somos reticentes quanto à vigilância realizada pelo Estado”, opinou.

Soares destacou que o País ainda não tem legislação adequada para promover a vigilância estatal por meio do reconhecimento facial e citou como diretrizes para essa regulação: diferenciar vigilância pública e privada; e traçar requisitos legais para que haja a vigilância das pessoas, com limites para o Estado invadir a privacidade das pessoas. “O cidadão tem que saber até onde o Estado pode ir”, observou. Conforme ele, a decisão de seguir e monitorar alguém deve ser do ser humano, e não da máquina.

O secretário de Telecomunicações do Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações, Vitor Menezes, salientou que a recente Lei Geral de Proteção de Dados (13.709/18) não regulamenta o uso de reconhecimento facial para a segurança pública. Ele também considera urgente a discussão de uma lei que regulamente especificamente essa tecnologia, que já está sendo usada no Brasil. No Carnaval, em Salvador (BA) e Rio de Janeiro (RJ), pessoas foram presas com base no reconhecimento facial feito por câmeras na rua.

Taxa de erro

Vitor Menezes foi um dos que alertou que há taxa de erro elevada no início da aplicação da tecnologia, e essa erros têm que ser levados em conta na legislação. Ele ressaltou que a tecnologia de reconhecimento facial precisa de amplo banco de dados para ser eficaz, e esses levam tempo para ser acumulados. Para ele, é preciso que a regulação determine que sempre haja supervisão humana sobre a tecnologia e que o cidadão tenha poder de contestar dados, para que não haja violação de direitos e garantias.

Diretor-executivo do Instituto de Tecnologia e Sociedade do Rio de Janeiro (ITS Rio), Fabro Steibel também disse que a precisão do reconhecimento facial é baixa e há até 92% de falsos positivos, fazendo com que pessoas inocentes sejam apontadas como criminosas. “É improvável que o sistema utilizado em larga escala, sem ambiente controlado, tenha taxa de acerto boa”, alertou.

Joana Aron, diretora executiva da organização da sociedade civil Coding Rights, citou estudo feito na Inglaterra pela organização Big Brother Watch, que mostrou até 98% de falsos positivos. Segundo ela, outro estudo da Massachusetts Institute of Technology (MIT) mostra que as respostas do sistema são mais acuradas com homens brancos, havendo mais falsos positivos no caso de homens negros e mais ainda de mulheres negras. Ela defende cautela com as pressões do mercado para adoção da tecnologia no Brasil e alertou que até mesmo a empresa Google prefere não vender a tecnologia por enquanto por conta da alta taxa de erros.

Outra questão que deve ser debatida, segundo a representante da Coding Rights, é quem terá acesso aos dados sensíveis do cidadão. Ela destacou que há propensão a abusos policiais, levando em conta o alto número de policiais militares envolvidos com milícias. E observou que no Rio de Janeiro a adoção das câmeras de reconhecimento foi parceria do estado com as empresas Oi e a chinesa Huawei, sendo que a Oi já foi multada por venda de dados de clientes e a Huawei está sendo banida por diversos países por conta da suspeita de auxiliar o governo chinês em espionagem dos cidadãos.

Banco de dados

Wanderley Júnior, da Secretaria Nacional de Segurança Pública do Ministério da Justiça, informou que está em fase de implantação o chamado big data (banco de dados) da segurança pública. O ministério estuda as alternativas apresentadas pelo mercado para o reconhecimento facial – tecnologia que poderá integrar o programa. Ele prevê que em 60 dias uma primeira fase desse programa já estará implementada, com dados disponibilizados para órgãos de segurança pública estaduais e municipais.

 

 

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