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MST – A gente não tem ajuda do Incra

Michel Filho


Escada (PE) e Agudos (SP) Em assentamentos rurais na zona canavieira de Pernambuco, é difícil encontrar uma residência não contemplada com o Bolsa Família. Nos municípios de Escada e Palmares, famílias de sem-terra sobrevivem apenas desse benefício ou o utilizam para complementar a renda que conseguem fazendo "ôias" (biscates) no corte de cana ou na construção civil. No assentamento Pirauíra, em Escada, a 62 quilômetros de Recife, há famílias morando em casas de taipa e em estrebarias. O assentado José Amaro Martins, militante do Movimento dos Trabalhadores Sem Terra (MST), diz que a única renda certa dele, da mulher e dos dois filhos são os R$134 do programa do governo.

No São João da Prata, em Palmares, a 125 quilômetros do Recife, mais de 80% dos lavradores recebem o benefício do governo no assentamento, coordenado pela Federação dos Trabalhadores de Agricultura de Pernambuco (Fetape). Em situação um pouco melhor do que os de Escada, os assentados de Palmares moram em casas de alvenaria, mas sem abastecimento de água, que só chega nas casas em cacimbas. Segundo o Presidente do Sindicato de Trabalhadores Rurais de Palmares, Gilvanildo Marques dos Santos, o Incra só decidiu construir as residências dos assentados após muita pressão dos movimentos sociais, já que os ex-sem-terra tiveram as casas de taipa destruídas numa cheia em 2010.
Cícero Cavalcanti da Silva, de 45 anos, luta com a mulher, Severina Maria de Lima, de 44, para sustentar sete filhos, com idades de 7 meses a 18 anos. Após enfrentar desemprego na entressafra de cana, conseguiu emprego fixo numa usina e está, finalmente, ganhando um salário mínimo, o que dá uma renda de R$ 75 por pessoa. Diz que não pode abrir mão dos R$ 268 da ajuda federal.

– O dinheiro do Bolsa Família é o certo. Emprego a gente tem hoje, mas não amanhã. A gente não tem nenhuma ajuda do Incra. Nem crédito nem assistência técnica, e, este ano, o roçado não rendeu nem uma macaxeira (aipim) devido à seca. Se não fizer um bico lá fora e não tiver a ajuda, vai viver de quê? – indaga Cícero.

Situação semelhante foi constatada no município paulista de Agudos, onde vive Maria Aparecida Fernandes, de 37 anos. Abandonada pelo marido, ela viveu cinco anos com os três filhos à beira da estrada. Foi atraída pela possibilidade de ganhar um lote de terra, onde poderia ter uma casa, plantar e tirar dali seu sustento. Foi parar num acampamento do MST, na região de Bauru, em São Paulo. Em 2009 conseguiu um lote no assentamento Loiva Lurdes, na estrada que liga os municípios de Agudos e Borebi (SP).

Produção quase nula
Maria ocupou seus seis alqueires de terra em 2010. No fim de 2011, o assentamento passou a ter água e luz. Mas, até hoje, para sair de casa ou voltar, tem de caminhar 6,2 quilômetros por uma estrada de terra. Ela não produz nada. Já plantou e vendeu pimenta, sem sucesso. Hoje, tem três pés de jiló, dois de pimenta e quatro árvores frutíferas em volta da casa inacabada. Com filhos, com idades entre 17 e 20 anos, vive do salário de um deles, que trabalha como pedreiro na cidade, de um auxílio-doença do INSS, de R$ 70 do Bolsa Família e de R$ 38 do Benefício Jovem, pago a um filho menor de idade.

Da terra, não vê um centavo. Não pegou o crédito de R$ 20 mil do Programa Nacional de Fortalecimento da Agricultura Familiar (Pronaf) para investir, temendo não conseguir pagá-lo.

– Aqui era fazenda de cana, que deixou a terra ruim. Mandei analisar e disseram que o solo é ácido, precisa de muito calcário. Tentei plantar horta mas, quando começa a crescer, morre tudo – diz Maria, que cursou até a 6ª série do ensino fundamental e, agora, junta sementes de seus pés de jiló para tentar aumentar a plantação.

Maria comprou três vacas com dinheiro dos filhos, que fazem bicos, mas hoje só tem duas. Uma quebrou a perna e Maria pediu ajuda do Incra, que não mandou veterinário. Ela e os filhos tentaram fazer "uma cirurgia", que não deu certo, e a vaca morreu. Com dó de comer a carne, deu o bicho morto para outro assentado.

– Ninguém aqui teve coragem de comer – diz Maria, com os olhos cheios d"água. (Letícia Lins e Cleide Carvalho ).

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