O Brasil está preparado para receber grandes eventos e dar totais condições de segurança para autoridades internacionais que estiverem em trânsito no país. Pelo menos é o que acham os ministros da Justiça, José Eduardo Cardozo, e da Defesa, Celso Amorim.
A opinião foi divulgada durante o balanço do esquema de proteção ao papa Francisco durante a Jornada Mundial da Juventude, encerrada no domingo, no Rio de Janeiro. Apesar do caos ocorrido na chegada do pontífice à cidade, na segunda-feira, dia 22, e da enxurrada de críticas sofridas pelo Brasil na mídia internacional, o governo classificou a segurança como um sucesso. "A Jornada foi um evento até mais complexo do que a Copa das Confederações e a Copa do Mundo, pois levou milhares de pessoas às ruas para ver um chefe de Estado estrangeiro. Em nenhum momento o papa correu riscos", disse Cardozo.
Tanto ele quanto Amorim minimizaram a falha ocorrida no dia em que Francisco chegou ao Rio, quando a comitiva do papa errou o caminho na Avenida Presidente Vargas e o sumo pontífice ficou preso em um engarrafamento de ônibus. O carro que levava o religioso ficou espremido no meio da multidão, mas ele se recusou a levantar o vidro do veículo. "Naquela manhã, tivemos um briefing do trajeto que seria feito, mas alguém da prefeitura esqueceu de atualizar o percurso. Acabamos trocando algumas pessoas na sala de comando e, dali por diante, tudo deu certo", completou Cardozo.
Amorim afirmou não se lembrar de nenhuma outra autoridade, antes de Francisco, que tenha ficado tanto tempo exposto no mesmo local. "Quando João Paulo II visitou o Brasil, também ficou uma semana, mas viajou por várias cidades. Desta vez, foram 20 eventos ao todo, e praticamente todos concentrados no Rio de Janeiro", reforçou Amorim. "Sem dúvida, o momento em que sua santidade ficou preso no trânsito foi aquele no qual as pontas dos dedos ficaram mais geladas", acrescentou o ministro da Justiça.
Cardozo lembrou que o planejamento teve que ser modificado algumas vezes. Primeiramente, Francisco circularia pelo Rio em um papamóvel blindado, mas o pontífice recusou. Depois, também alterou a proposta de um carro fechado e blindado nos trajetos sem o papamóvel. "Essa última mudança aconteceu 48 horas antes da chegada dele", disse.
Bomba
Além da bomba de fabricação caseira encontrada em um banheiro em Aparecida do Norte (SP) e desativada antes da chegada de Francisco, outro pacote suspeito foi encontrado no Rio de Janeiro, mas, após a ação de um grupo do Exército de combate ao terrorismo, verificou-se que era uma falsa ameaça. "O Brasil fez muito bem o seu papel", comemorou Amorim. Os ministros também não levaram em conta a repressão aos manifestantes, com bombas de efeito moral, em frente ao Palácio Guanabara, durante a recepção a Francisco. "O papa e sua comitiva sempre estiveram em segurança", ponderou o titular da Justiça.
O vice-presidente do PSDB, Alberto Goldmann (SP), afirmou que, ao contrário do que avaliam os ministros, o país ainda não está em condições de receber grandes eventos. "É verdade que os erros foram corrigidos ao longo da Jornada, mas o que ocorreu pouco depois da chegada do papa foi grave. Basta um momento de descuido como aquele para que todo um planejamento seja jogado fora".
Para o presidente nacional do DEM, senador José Agripino (RN), quem deu um verdadeiro show foram os peregrinos, que demonstraram todo o espírito pacifista. "Eu tive que cruzar pelas pessoas, de carro, logo após o evento. Ninguém deu um tapa no carro ou demonstrou qualquer gesto de hostilidade. Se o mesmo cenário acontecesse durante o réveillon, o desfecho poderia ter sido outro", disse o senador.
A segurança do papa
Confira o efetivo acionado pelo governo federal durante a Jornada Mundial da Juventude
Forças Armadas
13.723 homens, dos quais 11.664 no Rio de Janeiro e 2.059 em Aparecida (SP), 11 aerovanes, entre aviões supertucano; um caça F5, aviões 130 Hércules, helicópteros, e veículos aéreos não tripulados
Polícia Federal
2.553 homens, dos quais 1.534 no Rio de Janeiro; 492 em São Paulo e 527 reforçando as fronteiras, além de 138 viaturas, duas lanchas, dois botes flexíveis, dois helicópteros e dois jet skis
Secretaria Nacional de Segurança Pública (Senasp)
1.405 homens da Força Nacional e 128 viaturas
Polícia Rodoviária Federal
2.050 homens, dos quais 1,6 mil no Rio de Janeiro; 250 em São Paulo e 200 no reforço das fronteiras, além de 400 viaturas, 300 motocicletas e três helicópteros
Fonte: Ministério da Justiça