Emanuel Alencar, Paulo Roberto Araújo,
Fabiula Wurmeister e Dicler de Mello e Souza
Com a greve nacional dos agentes da Polícia Rodoviária Federal (PRF) e a redução da fiscalização por parte da Polícia Federal (PF), fronteiras e rodovias ficaram ontem desguarnecidas, em mais um dia de transtornos para a população. No Rio, quase três horas após um acidente na BR-493 (Magé-Manilha), que deixou três feridos por volta das 9h30m de ontem, agentes da PRF chegaram ao local para liberar as pistas. Em Foz do Iguaçu, apenas dois agentes da PF fizeram a fiscalização do posto da aduana na Ponte da Amizade.
Sexta-feira é o prazo estabelecido pelo comando da greve para o fim da paralisação no Estado do Rio. Mas o presidente do Sindicato dos Policiais Rodoviários Federais no estado, Marcelo Novaes, disse que, se não houver avanços na reunião de amanhã com o Ministério do Planejamento, os policiais rodoviários podem cruzar os braços por tempo indeterminado.
– A PRF atua com 400 homens em todo o Estado do Rio. O mínimo necessário são 1.200. Estamos muito abaixo do aceitável. Sabemos que os serviços serão prejudicados. Mas a greve foi o último ato que a categoria viu como necessário para sensibilizar o governo – afirmou Novaes.
Em protesto, chefes da PRF entregam cargos
Na manhã de ontem, em protesto contra baixos salários, 50 policiais rodoviários federais do Rio, em funções de chefia, entregaram seus cargos e insígnias num ato simbólico na Superintendência da PRF no Km 163 da Dutra, na altura de Vigário Geral, Zona Norte do Rio.
Ontem, O GLOBO percorreu postos da PRF na Região Metropolitana do Rio. A 4ª Delegacia da PRF (na Rio-Teresópolis) estava fechada. Pela manhã, só três carros da corporação monitoravam um trecho de 170km da via.
Com a paralisação, a fiscalização na Via Dutra, na divisa entre os estados do Rio e de São Paulo, também ficou desguarnecida. Uma faixa colocada pelo movimento grevista no posto desativado da PRF de Penedo, na Via Dutra, no km 311, em Itatiaia, informava que o posto estava fechado, logo, a passagem estava livre para tráfico de drogas e armas. Segundo Novaes, o local foi escolhido por ser recordista em apreensão de entorpecentes no Estado do Rio.
Os agentes também são responsáveis pela segurança dos usuários nas rodovias federais. Mas, segundo o superintendente do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit) no Rio, Marcelo Cotrim, o Dnit não tem pessoal nem poder de polícia para substituir os agentes da Polícia Rodoviária Federal em caso de acidentes nos 550 quilômetros de rodovias federais do Rio administrados pelo órgão.
Na Ponte da Amizade, que liga o Brasil ao Paraguai, policiais federais de Foz do Iguaçu mantiveram ontem o relaxamento na fiscalização de veículos e pessoas. A ação, iniciada na segunda-feira, é uma resposta à decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) de proibir as operações-padrão. Pela manhã, apenas dois agentes faziam o controle no posto da aduana na ponte.
HOUVE APITAÇO EM CONGONHAS
Segundo a presidente do Sindicato dos Policiais Federais de Foz do Iguaçu, Bibiana Orsi, os agentes não abandonaram seus postos – como acusou o Ministério da Justiça -, e estão respeitando o mínimo de 30% dos serviços como determina a lei. Na delegacia local da PF, porém, diversos procedimentos estão parados.
– Os dois policiais que estão na ponte são o efetivo miserável, normal, que temos todos os dias nesta, que é a fronteira mais movimentada do país. Se alguém abandonou o papel de proteger as fronteiras e os postos de trabalho não foram os policiais, mas a própria Polícia – disse.
Em Brasília, enquanto assessores do Ministério do Planejamento reuniam-se com representantes dos servidores grevistas em busca de um acordo, cerca 1,5 mil trabalhadores do Judiciário fizeram uma marcha na Esplanada dos Ministérios para reivindicar aumentos de até 56%.
Já em São Paulo, policiais federais em greve fizeram um "apitaço" e distribuíram panfletos no aeroporto de Congonhas. Eles informavam aos passageiros sobre "o sucateamento da PF".