POLICIA E BANDIDO
Fábio Costa Pereira
Tribuna Diária
11 Maio 2021
Quando eu era criança, há muitos e muitos anos, em uma época pré jogos eletrônicos e computadores, pasmem meus caros amigos, éramos obrigados a brincar usando o resultado da nossa imaginação.
Trocar figurinhas de álbuns, jogar bolita e pião, soltar pandorga (pipa ou papagaio em outros Estados) fazia parte do nosso vasto leque de brincadeiras juvenis.
Lembro-me com um certo saudosismo, próprio de quem teve uma infância feliz, que uma das brincadeiras de que mais gostava era a de Polícia e Ladrão.
Nesta brincadeira dividiam-se os participantes entre policiais e ladrões e era o objetivo de ambos os grupos, após batalharem entre si, capturar o maior número de “inimigos”.
Cada grupo se munia de armas de plástico ou galhos que simulassem tal e partiam para a batalha.
Para o desespero de muitos do “sou da paz” e contra armas” de hoje, nenhum de nós que, naquela época, brincávamos com armas plásticas, tornamo-nos sanguinários homicidas ou pessoas violentas.
Pois bem, para se começar o jogo sempre havia um grande problema, ninguém queria ser bandido, o que inviabilizava o seu início sem o sorteio dos times e os protestos de quem tivesse o azar de cair no lado dos criminosos.
Todos nós queríamos ser policiais, iguais aquelas figuras fardadas que andavam pelas ruas a nos proteger.
Em um futuro distante incerto, quando crescêssemos, eu e meus amigos tínhamos a certeza de que seríamos policiais, bombeiros ou, talvez, até astronautas. Ladrões, nem pensar!
Na semana passada, por um triste motivo, minha infância veio à tona. A mídia nacional, após a Polícia Civil do Rio de Janeiro ter realizado robusta operação no Morro do Jacarezinho, no Rio de Janeiro, para combater o tráfico de drogas e o aliciamento de crianças e adolescentes por parte da organização criminosa que comanda o local, em razão do confronto havido, resultante da resistência armada dos criminosos que se acham donos do local, de imediato colocaram a autoridade policial no banco dos réus, julgaram-na e a condenaram.
A ação, sem maiores análises, desconhecendo a enorme quantidade de armas apreendidas, de um policial ter sido executado no inicio da ação e dos criminosos terem despejado uma verdadeira chuva de tiros contra a polícia, pura e simplesmente, em razão do número de criminosos mortos, 24, a atuação policial foi taxada como “chacina”.
É como se os criminosos, diante do exercício do poder do Estado, em absurda inversão valorativa, tivessem o direito a legitimamente se defender.
Óbvio que eventuais excessos e erros devem ser investigados, pois esta é a gênese do controle que cada instituição estatal deve se submeter.
O que não se pode, no entanto, é, de plano, sem maiores informações e diante de tantas evidências em contrário, afirmar-se que os policiais, no cumprimento do dever, desbordaram de sua missão é chacinaram inocentes.
Lembrei-me na hora, ao ler tantas açodadas e negativas notícias, do grande pensador Didi Mocó Sonrisal Mufumo que dizia, ao não entender a lógica de algo, Cumá????
Percebi que, como ocorrente na minha infância, a escolha do lado a seguir ainda hoje se dá pela identificação…uns escolhem os policiais e outros os bandidos.
De minha parte estarei para sempre com as policiais, homens e mulheres de fibra que empenham o seus melhores esforços para permitirem que estejamos seguros.
Aos que se identificam com os criminosos, meu obsequioso desprezo.
Parabéns e obrigado aos policiais brasileiros pelos serviços que prestam para todos nós.
E que Deus tenha piedade de nós!