Além de impedir o retorno do crime organizado e buscar proximidade com moradores dos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte do Rio, o Exército tem outro desafio na região que durante anos foi o quartel-general do tráfico no Rio de Janeiro: impedir desvios de conduta de 1.700 homens que patrulham as duas regiões.
Desde o início da ocupação, há quase sete meses, cerca de cem militares foram afastados do trabalho no Alemão e na Penha, conforme revelou o general Adriano Pereira Júnior, comandante militar do leste e responsável pela Força de Pacificação, em entrevista exclusiva ao R7. Os motivos dos afastamentos vão desde desvios de conduta militar a suspeitas de envolvimento com traficantes.
– Se um militar está no alojamento e sua arma dispara acidentalmente, mesmo que ninguém fique ferido, ele deixou de cumprir normas, como tirar a munição da arma e colocar em lugar adequado. Então, não é só desvio de conduta em relação à população, ao tráfico, mas desvios de conduta militar. Eu acredito que tenhamos uma centena de militares afastados, mas se colocarmos uma centena diante dos 5.100 que já passaram por lá é um número pequeno.
O general diz que a tropa no Alemão conta com ação fiscalizatória dos próprios homens do Exército para coibir possíveis desvios de conduta. Da maneira como é feita a organização das atividades no complexo de favelas, cada militar acaba sendo vigiado o tempo todo pelos colegas.
– Isso dificulta bastante que alguém se deixe levar pela tentação. Ninguém comete erros se está sendo vigiado.
Adriano Pereira Júnior diz que as pessoas são suscetíveis à corrupção. Mas, o oficial reforça que os erros devem ser punidos. Ele relembrou o furto de um fuzil no Alemão. Segundo o militar, o crime foi cometido por um militar ligado ao tráfico.
– Tivemos recentemente o furto de um fuzil lá dentro [Complexo do Alemão]. São militares que já tinham ligações com o tráfico e que estavam vestindo a nossa farda. Nós vamos recuperar essa arma, já temos dados sobre onde ela está. Nós não somos perfeitos e não pretendemos que nos vejam dessa forma, mas não há impunidade.
Outra arma do Exército é a tecnologia. Câmeras de vigilância foram instaladas em vários pontos dos dois complexos. Além disso, todas as operações militares são gravadas por um soldado que fica no carro com uma câmera na mão. O objetivo, segundo o general, é a transparência nas ações.
– Se vamos fazer alguma operação que pode gerar situação de conflito, nós vamos com alguém filmando a ação. Para que, a qualquer problema, nós termos imagem e som para saber o que exatamente aconteceu, se o militar cumpriu as regras.
Instalação de UPP começa em 31/8
A implantação de UPP nos complexos do Alemão e da Penha já tem data para começar. O general Pereira Júnior informou que a troca do Exército por PMs começa no dia 31 de agosto. A inauguração da UPP está prevista para o fim de outubro.
Segundo o oficial, a entrada dos PMs na região será gradativa.
Balanço de apreensões
Desde que assumiu o controle dos complexos do Alemão e da Penha, o Exército apreendeu uma grande quantidade de armas e de drogas. Foram nove fuzis, oito pistolas, dois revólveres, sete granadas e 65 carregadores, além de 2.140 munições de diversos calibres.
Entre novembro passado e este mês, 124 pessoas foram detidas e 62 presas. Foram apreendidos mais de 44 kg de cocaína, 3,5 kg de crack, 2,8 kg de maconha, 15 kg de haxixe e dinheiro (R$ 64 mil e U$ 30 mil).