André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos
Recentemente a imprensa divulgou o teor de alguns dos cerca de 400 documentos apreendidos durante operações policiais e que pertenceriam ao Primeiro Comando da Capital (PCC), a maioria, relatórios contábeis e listas com nomes de supostos integrantes e locais de atuação. Estes dados, longe de proporcionarem a real dimensão e poder da organização, permitem apenas uma radiografia parcial e insignificante do grupo. Parcial, pelo fato de que alguns dados são nitidamente localizados e insignificantes em razão de representarem uma pequena parcela de seus integrantes e lucros mensais no complexo submundo do tráfico de drogas.
Tomemos primeiramente a questão do efetivo. É sabido por todos que o PCC é atualmente a maior organização criminosa do país, atrás apenas do Comando Vermelho, no Rio de Janeiro, que se dividiu em diversas facções por disputas internas, fenômeno que não ocorreu com tanta efetividade com grupo em questão. Este surgiu e tem como reduto o interior de casas prisionais paulistas que abrigam 50% do total dos mais de 500 mil presos que integram o Sistema Carcerário Nacional. Significa cerca de 250 mil apenados em regime fechado, além de outros milhares já soltos por cumprimento de pena ou por benefícios da legislação penal.
A estimativa é de que 30% deste total pertençam a facção o que denota um efetivo de 70 a 80 mil integrantes somente em regime fechado. Pela análise destes números, seria impossível comportar apenas 1.343 integrantes nas ruas, número insignificante para patrocinar os confrontos que ocorreram e vem ocorrendo com a Polícia Militar, em diversas frentes.
A questão dos valores arrecadados, em torno de R$ 6 milhões de reais/mês é outra controvérsia. A organização atua no tráfico de drogas, seu principal negócio mas não o único. O Brasil é considerado o segundo maior consumidor de cocaína do mundo com 2,8 milhões de usuários e o maior consumidor de crack, segundo recente estudo elaborado pela Universidade Federal de São Paulo.
O maior número de usuários está concentrado na Região Sudeste com 46% do total, certamente entre os fatores, a localização das cidades com maior densidade demográfica do país. No país, o tráfico de drogas movimenta R$ 1,4 bilhões de reais ano, segundo relatório da UNODC (United Nations Office on Drug and Crime). Somente a favela da Rocinha, no Rio de janeiro, chega a contabilizar entre 1,8 a 2 milhões de reais por semana, especialmente com a venda de cocaína, conforme estimativas da Delegacia de Combate a Drogas daquela cidade.
Assim, em uma rápida análise, podemos constatar que os documentos encontrados apresentam uma radiografia insignificante da organização e não o total de integrantes e lucros arrecadados, como restou divulgado. Representam, na melhor das hipóteses, o fechamento contábil mensal de uma região ou bairro. E não está descartada a hipótese de que sejam falsos, produzidos no intuito de ludibriar as autoridades da segurança pública sobre a real dimensão do grupo numa ação tipicamente de contra-inteligência.
DefesaNet Matérias da série publicadas pela Folha de São Paulo, em 01 Outubro 2012: PCC – Lamenta prejuízos por ações da polícia em SP Link PCC – Arquivos chegam a 'chefes' na prisão por pen drive Link PCC – Para disfarçar, maconha vira morango nos relatos de facção Link |