Morador da Rocinha há mais de 30 anos, P.J. conversou com a BBC Brasil pelo telefone para falar sobre a ocupação da comunidade por forças policiais, que devem instalar no local uma Unidade de Polícia Pacificadora (UPP).
P.J, que pediu anonimato, concordou em fazer um diário para a BBC Brasil, contando o que se passa no local antes, durante e depois da ocupação. Leia abaixo seu depoimento:
"A relação com a polícia está muito diferente de antes, porque agora eles sabem que aqui só tem morador. Uma parte dos traficantes já foi embora e os poucos que ficaram estão sendo denunciados. Vários já foram presos aqui – não traficantes de importância, mas fogueteiros, por exemplo.
Aos poucos todos eles vão ser presos, porque a população tem várias formas de denúncia: via e-mail, por telefone. Isso é uma coisa inédita. Em 30 anos de favela, eu nunca vi nada parecido.
A população está ajudando, de certa forma. Ontem foi descoberta uma refinaria (de cocaína) por causa de denúncias da população.
Com a chegada da polícia na Rocinha, vem também o poder público, vem a paz social. Já disseram que vão construir um plano inclinado para transportar os moradores e um reservatório de água para atender à população.
Vai melhorar também a distribuição do gás de cozinha, que era controlado pelo tráfico e você tinha de comprar das mãos deles. As pessoas às vezes tinham de comprar gás muito longe de casa, porque nenhum mercadinho vendia gás. Imagine, se falta gás às 10 horas da noite, ter de ir comprar o gás lá longe para poder fazer comida para os filhos.
Outra coisa que está mudando é a coleta de lixo, que agora está ocorrendo de madrugada. Antes, para não colocar em risco os seus funcionários, a empresa de coleta de lixo só entrava aqui de manhã e complicava todo o tráfego. Ontem, quando eu ouvi um caminhão de lixo às 2h da madrugada, pensei 'que legal, um caminhão de lixo de madrugada'.
Ser o centro das atenções da mídia nacional e internacional é uma coisa muito estranha. A gente sempre viu turista aqui – isso é normal. Mas vir jornalista do mundo inteiro para ver essa operação é uma coisa inédita.
Eles (os jornalistas) se referem à Rocinha como a maior favela da América Latina. A Rocinha não é uma favela, já virou um bairro há muito tempo, mas o rótulo de favela não vai sair nunca.
Eu espero que essa paz dure muito tempo e que a gente não volte para o domínio do tráfico. Quero viver esse momento de paz e que meus filhos curtam uma Rocinha de paz como eu estou curtindo."