ESTADO DE MINAS
Não resta a menor dúvida de que a questão das drogas – principalmente a cocaína e a maconha – é hoje preocupação dos governos dos países que se dizem sérios. No Brasil, o problema se espalhou pelas zonas urbana e rural. Desde o dia 22 de novembro, 6,5 mil homens – das Forças Armadas e das polícias Federal, Rodoviária, Militar e Civil – faziam a varredura na fronteira do Amazonas, Acre, Rondônia, Mato Grosso e Mato Grosso do Sul com os países produtores de cocaína e maconha.
Ontem, o vice-presidente da República e coordenador do Plano Estratégico de Fronteiras (PEF), Michel Temer, e os ministros da Defesa, Celso Amorim, e da Justiça, José Eduardo Cardoso, estiveram em Vilhena (RO), Campo Grande (MS) e Cáceres (MT) para inspecionar e encerrar a Operação Ágata 3, de combate aos crimes transnacionais na faixa de fronteira, que deixa a região e será substituída por policiais militares e federais.
Tudo pode parecer positivo, mas os resultados de uma operação dessa magnitude logo se perderão na malha de responsabilidade do Estado de proteger a sociedade da ação nefasta dos traficantes de drogas. Sua característica sazonal elimina em pouco tempo aquilo alcançado pelos militares.
No lugar de grandes operações como essa, o governo federal deveria, por meio de uma política de proteção de nossas fronteiras, manter presença perene de suas tropas nessas áreas. E assim o narcotráfico poderia ser combatido com muito mais eficiência. Contudo, com o modelo adotado, a estrutura criminosa é apenas abalada, revitalizando-se em breve tempo.
O governo federal precisa, vez por todas, assumir a questão das fronteiras com a premissa de que sua vigilância vai além do narcotráfico e do roubo e furto de veículos no Brasil para serem trocados por cocaína na Bolívia, Paraguai e alhures e vizinhança. A droga também é tormenta nas áreas de segurança pública, saúde e social.
A realidade das fronteiras com os países produtores de cocaína e maconha tem que ser vista de forma ampla, sem horizontes predefinidos. Mas essa visão exige apoio da população brasileira, cuja boa parcela vive às voltas com esse flagelo social.
A operação Ágata 3 exigiu pesados gastos da União e não pode ser repetida amiúde. O certo é a presença constante de militares e policiais nas áreas de fronteiras. Acabar com as drogas no país é missão quase impossível, a exemplo do que ocorre em países com muito mais recursos financeiros.
Mas o problema pode ser reduzido a níveis ditos suportáveis. Para tanto, a política sugerida de segurança permanente para as fronteiras passaria por investimentos em tecnologia de patrulhamento e criação de uma rede de inteligência interna e externa. Está na hora, pois, de a União deixar de promover megaoperações conjuntas de militares e policiais para intimidar os cartéis das drogas. A operação Ágata 3, iniciada há 12 dias nessa vasta região, pode ter sido um bom laboratório para essa necessária política de segurança, um dever do qual o Estado não pode fugir.