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COPA – Governo quer despolitizar, sem deixar de expor Dilma


Paulo Celso Pereira
Brasília

Se as obras de estádios, aeroportos e de mobilidade urbana da Copa do Mundo, muitas delas caras e inconclusas, são um problema a ser administrado pelo governo federal, a seleção brasileira começa a ser vista como um possível trunfo para melhorar o humor da população em relação ao país. A equipe da presidente Dilma Rousseff já começou a preparar a forma de exposição da presidente durante os jogos da Copa, de olho na possibilidade de o time de Felipão contagiar os brasileiros. Um petista próximo a Dilma avalia que se a seleção for vitoriosa, até mesmo o mau humor da população em relação à organização do evento se dissiparia e ela, como presidente da República, teria mais condição de capitalizar a vitória.

Nas palavras de um auxiliar, o esforço será para despolitizar a Copa: ninguém quer que pareça a Copa da Dilma. A tendência é que a presidente se equilibre na imagem de uma torcedora sem se associar demasiadamente ao evento. O interlocutor preferencial de Dilma será o técnico Luiz Felipe Scolari. Segundo um ministro, eles mantêm ótima relação e, na semana passada, durante um evento em Caxias do Sul (RS), teriam conversado longamente. O técnico chegou a fazer brincadeiras com o chute inicial da presidente na inauguração do estádio Beira-Rio.

– Pô, Dilma, você chutou de bicuda. Não é assim, é de lado. Assim não vou poder te convocar – brincou o treinador.

A escolha do interlocutor também se deve a uma questão de imagem. A ideia é apostar na associação do padrão de comportamento dos dois: assim como o técnico, Dilma é vista como rígida nas cobranças, mas que pode inspirar simpatia. Isso permitiria à presidente se manter próxima à Seleção – ela deve, inclusive, visitar a Granja Comary, em Teresópolis, onde o time ficará concentrado antes do torneio – e distante dos dirigentes da CBF e da Fifa. Em julho passado, Dilma usou o técnico como referência ao ser indagada sobre se seu governo teria "padrão Fifa":

– Meu governo é padrão Felipão.

A preocupação de não parecer próxima aos cartolas do futebol é baseada em pesquisas. Em levantamento feito a pedido do governo no segundo semestre de 2013, a associação entre "governo e Fifa" gerava as críticas mais fortes. A percepção popular é a de que se trata de uma relação "nebulosa" e com vantagens – especialmente financeiras – para ambos.

Presença de Dilma em dois jogos

Por ora, só está confirmada a presença de Dilma em dois jogos, no de abertura, em São Paulo, e na final, no Rio. A possibilidade de vaia nos estádios é uma grande preocupação. Com os altos preços dos ingressos, a avaliação é que a maioria do público será das classes mais abastadas – exatamente a parte da população que mais rejeita o PT. Para tentar evitar vaias, caso Dilma vá mesmo aos jogos, a equipe da presidente vai solicitar que ela não apareça nos telões. O álibi seria de que, por estar a poucos meses das eleições, ela poderia ser acusada de uso da máquina.

A última vez – e única desde a redemocratização – que o sucesso da seleção no campo foi acompanhado de um posterior sucesso do governo nas eleições foi em 1994. Em seu livro "O improvável presidente do Brasil", o ex-presidente Fernando Henrique (PSDB) diz que apostou na Copa daquele ano para alavancar o Plano Real, cujo sucesso seria decisivo para sua campanha presidencial. A nova moeda começou a circular às vésperas das oitavas de final – semelhante à Copa deste ano, quando a campanha começa a duas semanas do fim da competição. Ele mesmo conta que abria o comitê para a imprensa o fotografar torcendo. A vitória do time melhoraria o humor da população.

Em certa medida, a aposta de Dilma é semelhante. Com a diferença que ela arcará com o sucesso ou o fracasso do evento. A mesma pesquisa mostra que as pessoas consideram que o papel dos governos estadual e municipal é operacional e o do governo federal, de financiador e líder. Ou seja, a percepção é de que a Copa é centralizada no governo federal.

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