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Conflitos Urbanos – agressões a jornalistas e questionamentos da profissão

2 – Conflitos Urbanos – Agressões a jornalistas
e questionamentos
da profissão

 

Liane Fraga
Jornalista DefesaNet

 Nota DefesaNet

Publicamos a segunda reportagem de Liane Fraga tratando sobre os confrontos entre jornalistas e as forças de segurança, mas agora também com os próprios manifestantes.

O Editor

Link para a primeira matéria:
Manifestações – Jornalistas na Guerra Urbana Link

Copa das Confederações, manifestações em Belo Horizonte, Estádio do Mineirão, junho de 2013. O protesto chegou a reunir 50 mil pessoas e estava em sua parte mais crítica: confrontos com a polícia. Para afastar a grande massa do entorno do estádio, a polícia jogou inúmeras bombas de gás lacrimogêneo, provocando uma atmosfera densa. No meio do tumulto, um jornalista saiu correndo passando mal devido às condições em que se encontrava o local. Com dificuldade, ele conseguiu chegar perto de um pequeno grupo de colegas de profissão que estavam na frente dos manifestantes trabalhando.

Sem forças, com falta de ar, trêmulo e com os olhos lacrimejantes, caiu perto do fotógrafo da Zero Hora, Lauro Alves  que,  assistindo à situação,  resolveu ajudar. A máscara contra gases tóxicos de Alves foi colocada no jornalista desnorteando-o por alguns instantes.
               
Após erguê-lo para levá-lo a um lugar onde  conseguisse respirar melhor, uma bomba de gás lacrimogêneo explodiu ao lado deles. Alves não se preocupou, pois sabia o que sentiria e como seu corpo responderia. Ele já esteve em situação de conflito, no qual passou por experiências similares e até mesmo piores.  Além de servir na 6ª Brigada de Infantaria  Blindada, de Santa Maria, por dois anos e meio, ele fez o treinamento do Centro Conjunto de Operações de Paz do Brasil voltado a militares e jornalistas para atuar em áreas de conflitos. “Isso me ensinou como agir em local de batalha ou guerra urbana e como proteger-me enquanto trabalho”, afirmou.

Este exemplo demostra a importância de um treinamento para atuações em uma zona de risco. A falta de capacitação para agir nesses ambientes foi observada durante a cobertura das manifestações. No entanto, mesmo tomando alguns cuidados, houveram registros de vários jornalistas agredidos.
               
Na segunda-feira, 22/07, durante a visita do Papa ao Rio de Janeiro, o fotógrafo da Agência France Press (AFP), Yasuyoshi Chiba, estava trabalhando em um protesto nos arredores do Palácio Guanabara.  Ao ver um manifestante cair e a segurança pública o agarrar e o levar embora, Chiba, que fotografava a cena,  de repente,  foi bruscamente empurrado por outros policiais. Levantou os braços com sua câmera para mostrar que era fotógrafo e que tinha intenções pacíficas, porém um deles de uniforme e escudo o acertou na cabeça com o cassetete.
               
Naquele dia, Chiba  havia esquecido seu capacete em casa e não conseguiu voltar para pegá-lo. No objeto está escrito em destaque a palavra “press”, imprensa em inglês. Depois  do ocorrido, o diretor da AFP no Brasil ressaltou a importância do uso obrigatório de máscaras e capacetes por todos os jornalistas que forem cobrir  situações de conflito.  A agência francesa treina seus profissionais, que farão coberturas  em zonas de guerra, no próprio Exército Francês ou na Inglaterra, ensinando-os como manusear armas e  se comportarem em caso de serem detidos ou capturados, além de terem  preparo psicológico para o trabalho.

Não foram somente os órgãos de segurança que usaram de violência contra a imprensa, mas também os manifestantes. A TV Record teve um prejuízo estimado em R$ 500 mil na unidade móvel queimada na terça-feira, 18/06. Além desse ocorrido, outros automóveis de diversas empresas, como SBT e Globo, também registraram depredações. Isso, sem contar os pontapés, socos e insultos que vários jornalistas sofreram. “Não podemos permitir sob qualquer argumento que coloquem em perigo a liberdade de imprensa”, ressalta o  presidente da Federação Nacional dos Jornalistas (FENAJ), Celso Schröder, em entrevista ao DefesaNet. “Não acredito ser possível modificar a realidade se responder com a pior característica que ela tem”, desabafa.

De acordo com o editor do site de notícias Sul21, Igor Natusch, os manifestantes demonstram uma postura contrária a toda a representatividade de poder: os políticos, com os prédio públicos sendo depredados; os bancos, sendo destruídos, e a mídia com o monopólio dos meios de comunicação por poucas empresas. “Sou contrário à censura da imprensa na cobertura de qualquer notícia. Porém, estes protestos servem para questionarmos os modelos atuais de produção de informação”, comenta.

No início dos protestos, foram poucos os veículos de comunicação que estavam reportando do local dos fatos. Muitas transmissões pela televisão foram feitas de cima dos acontecimentos, com helicópteros ou câmeras públicas, narrando o que viam. Esse olhar distante reflete um uma informação sem profundidade de análise produzida pela mídia constantemente. Mais do que nunca, a presença dos jornalistas nas ruas foi fundamental na busca pela verdade sobre os acontecimentos.

A jornalista, Eliane Brum salienta a importância da expressão de Humberto Werneck: a “arte de sujar os sapatos”. De acordo com ela, a tecnologia pode ajudar muito, inclusive para localizar pessoas, descobrir histórias e acessar documentos, mas é preciso ir até o mundo do outro para compreendê-lo em todas as suas nuances e contradições. “A reportagem é este exercício de se despir de si para alcançar o outro. E isso se faz carne a carne”, determina. Tudo isso, sem esquecer que na guerra urbana é fundamental reportar com segurança.

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