Fábio Vasconcellos
O governador Sérgio Cabral anunciou ontem que a ocupação da Favela da Rocinha, para receber a 19ª Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) do Rio, será concluída até domingo. Para realizar a operação, a Aeronáutica vai fechar o espaço aéreo na região entre 2h de domingo e a tarde de segunda-feira. O Ministério da Defesa vai mandar homens e equipamentos da Marinha para a ocupação da favela. Apesar de o ministério não confirmar formalmente a participação na operação, o pedido de apoio logístico foi feito há cerca de dez dias por Cabral.
– É um passo importante na política de pacificação das comunidades. É um processo de integração das polícias com as Forças Armadas. Temos que agradecer ao Exército, por estar no Complexo do Alemão e no Complexo da Penha; à Polícia Federal, pelo trabalho de inteligência; à Polícia Civil e à Polícia Militar – disse o governador ontem.
Secretário: para cada favela, um plano diferente
O processo de instalação da UPP da Rocinha apresenta uma mudança na estratégia da Secretaria de Segurança: o cerco à comunidade antes do anúncio oficial do dia da ocupação. Antes, em quase todas as favelas que ganharam unidades de pacificação, o governo procurava sempre informar, com antecedência, o plano de retomada do território, o que possibilitava a fuga de bandidos e a retirada de drogas e armas. Foi assim no Complexo do Alemão e na Mangueira. Agora, a tática foi prender os principais chefes do tráfico para só então fazer a ocupação.
Em entrevista ao "Bom Dia, Brasil", da TV Globo, o secretário de Segurança, José Mariano Beltrame, admitiu a mudança de estratégia, mas acrescentou que cada comunidade terá uma plano de ocupação distinto:
– Não há uma receita concreta de pacificação. A gente se prepara para entrar sem confronto, mas não sabemos o que os criminosos têm na cabeça. Na Rocinha, a operação começou há cerca dez dias e ainda não terminou.
Na avaliação do coronel José Vicente, ex-secretário nacional de Segurança, a mudança de estratégia poderia ser aplicada nas demais comunidades que vão ganhar UPP. Segundo ele, o cerco, com operações dia e noite, é uma forma de asfixiar o tráfico, pois impede que os criminosos fujam com as armas, além de aumentar as chances de prisões.
– Essa estratégia da Rocinha é a mais adequada. Quando se anuncia previamente a ocupação com o intuito de reduzir o potencial do confronto, você acaba dando oportunidade de fuga aos bandidos e de retirada de armas e drogas. Esse cerco à Rocinha, vale lembrar sem vítimas, já poderia ser feito há anos, pois é uma comunidade relativamente fácil de ser cercada. Esse tipo de operação pode ser feito a qualquer momento para estrangular o tráfico e preparar a ocupação gradualmente em outras comunidades.
Professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e diretor do Centro de Estudos em Criminalidade e Segurança Pública da instituição, Cláudio Beato acha que essa mudança deve ser pensada caso a caso. Para ele, as UPPs não têm o objetivo de prender bandidos, mas de ocupar territórios. Beato argumentou que o anúncio antecipado da ocupação evita confrontos e a morte de inocentes. Mas acrescentou que, eventualmente, a estratégia do cerco pode ser adotada:
– Evitar o confronto representa um avanço em política de segurança. As UPPs não têm o objetivo de prender bandidos ou acabar com o tráfico. Mas a estratégia de ocupação pode mudar. Cada caso é um caso. No da Rocinha, você tinha uma figura emblemática (o traficante Nem), cuja prisão era importante. Gostaria de destacar também a maior integração com a Polícia Federal, uma mudança importante. A participação da PF é fundamental.
Para ex-secretário, mudança foi positiva
Já o coronel da reserva Jorge da Silva, ex-secretário estadual de Direitos Humanos e professor da Uerj, considera que a mudança de estratégia manteve o objetivo principal de evitar confrontos. Na sua opinião, o governo pode ter mudado sua forma de ação após as seguidas críticas que recebeu com o anúncio antecipado das ocupações:
– Acho uma mudança muito positiva, já que o anúncio antecipado da UPP gerava tantas críticas.