Militares amigos de Michel Mikami não contiveram
choro na celebração.
'Bandidos devem estar comemorando',
desabafou mãe do jovem de 21 anos.
Lana Torres
G1 Campinas
O cabo do Exército Michel Augusto Mikami, de 21 anos, morto durante patrulhamento da força de pacificação no Conjunto de Favelas da Maré, no Rio de Janeiro (RJ), foi enterrado na manhã deste domingo (30) no Cemitério Municipal de Vinhedo (SP). Além das honrarias fúnebres promovidas pelo Exército, houve homenagem emocionada de soldados colegas do militar na missão de paz, além da revolta dos familiares. “Um inocente morreu e os bandidos devem estar lá comemorando”, desabafou a mãe no cortejo.
O velório municipal da cidade do interior paulista esteve lotado para o adeus ao cabo, que estava a cinco dias de cumprir a missão do Rio de Janeiro quando foi atingido por um disparo de arma de fogo na cabeça enquanto se deslocava de um ponto de cobertura a outro em uma atividade de patrulhamento na comunidade. Ele servia no 28º Batalhão de Infantaria Leve, sediado em Campinas, e já havia atuado na Missão de Paz das Nações Unidas no Haiti (MINUSTAH) e na operação de segurança da Copa do Mundo.
Durante o sepultamento, militares do Exército em forma não contiveram o choro. O grupo fez um corredor por onde o caixão com o corpo do colega passou no percurso do velório ao local do sepultamento, carregado pelos amigos de farda mais próximos. Na cerimônia, houve honrarias fúnebres tradicionais das Forças Armadas, com o disparo de três tiros, toque de corneta e entrega da bandeira nacional por oficiais para a família do combatente.
Emocionado, o tenente responsável pelo pelotão de Mikami na Força de Pacificação no Rio de Janeiro contou que durante a missão, após uma série de ataques contra os militares, o grito de guerra do grupo mudou de "operações especiais" para "operações resgate".
"Nós tivemos várias missões de reforçar companheiros nossos que estavam tomando tiros, e no decorrer da missão, nosso brado mudou. O cabo Mikami nunca deu um passo atrás quando estava indo em auxílio de algum militar que estava lá na frente precisando de ajuda", disse. O oficial então, pediu que, em homenagem ao jovem, o brado fosse entonado pelos presentes. Em um dos momentos mais emocionantes da cerimônia, o melhor amigo de farda da vítima puxou com um grito "Operações" e todos responderam "Resgate".
Herói nacional
O general-de-Exército João Camil Campos, comandante militar do Sudeste, esteve presente e voltou a afirmar que a morte do cabo configura uma "fatalidade". Durante o velório no sábado, ele havia mencionado que o jovem foi vítima de uma emboscada no momento em que se deslocava de uma área coberta para outra durante patrulhamento diário de praxe.
Segundo o oficial, a atividade era acompanhada do comandante do batalhão ao qual Mikami pertencia e a manobra foi executada "dentro das técnicas e das táticas e dos procedimentos previstos". "Ele foi abatido por pura fatalidade. Poderia ter acontecido com qualquer um dos que estavam ali. Lamentamos muitíssimo. Viemos aqui para abraçar a família do cabo Mikami, que é um herói nacional", falou.
'Nada muda', diz general
De acordo com Campos, o incidente não acarretará em qualquer mudança na atuação do Exército no Complexo da Maré. "Não há essa ideia [de intensificar atividades], porque nós já estamos em uma intensificação que chamamos de sereno rigor, ou seja, continuaremos atentos e prestos, como temos feito todo dia", afirmou.
O general afirmou, ainda, que não há que se falar em alterações para garantir maior segurança para os soldados, porque todos os procedimentos já são cumpridos. "Não muda nada porque nós já executamos todas as táticas e procedimentos com toda segurança. Nós continuamos cumprindo a missão com a mesma intensidade e as mesmas regras de desde o primeiro dia".