Martín Dinatale
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O general da reserva e atual ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) do Brasil, Augusto Heleno Ribeiro Pereira, não é apenas um homem de grande confiança do presidente Jair Bolsonaro. Ele também é considerado "duro" na arena política e tem forte apoio das Forças Armadas. Por tudo isto a sua opinião tem grande peso e traduz o pensamento diretamente o governo brasileiro quando ele disse sem rodeios: "Um governo diferente que existe hoje na Argentina será um revés para a segurança nas fronteiras dos nossos países"
Eles não foram as únicas declarações afiadas deste general que serviu em missões de paz da ONU, recebeu a medalha de prata dourada Marechal Hermes com três coroas como Chefe do Estado Maior do Exército e desafiou a política indigenista do governo de Lula da Silva. Heleno disse a INFOBAE que "se Macri não vencer as eleições, haverá um grande problema para as relações bilaterais".
Ele também ressaltou que o governo Bolsonaro está "muito preocupado com a expansão das organizações criminosas no Brasil nos últimos anos" e ressaltou a necessidade de fortalecer a cooperação e os controles entre a Argentina e o Brasil nas fronteiras. Um tema não menor: alertou que organizações criminosas na região financiam o terrorismo.
Heleno ingressou na missão militar brasileira de instrução no Paraguai, foi adido militar da Embaixada do Brasil em Paris, também credenciado em Bruxelas e foi chefe do Departamento de Ciência e Tecnologia do Exército. Uma das últimas controvérsias que Heleno desencadeou no Brasil foi quando ele disse que os jovens não têm um sentimento nacionalista porque "eles têm ideologia" como resultado da "doutrinação" adquirida em escolas e universidades.
Em sua breve estadia em Buenos Aires para acompanhar Bolsonaro em seu encontro com Mauricio Macri, o general da reserva do Exército e oficial chave para a atual estratégia de segurança no Brasil está muito otimista sobre as próximas eleições na Argentina, elogiou a reunião Presidentes da Casa Rosada e falaram com vários representantes das Forças Armadas na Argentina.
INFOBAE – Como os acordos alcançados pelos presidentes do Brasil e da Argentina são avaliados em termos de segurança?
Gen Heleno – Esta relação está se aproximando, considerando que temos os mesmos problemas em ambos os lados das fronteiras. Queremos reduzir acima de tudo a participação de organizações criminosas em nossos países. No Brasil, temos um problema bastante complexo nesse aspecto, porque as organizações criminosas ganharam muito terreno devido à falta de ação dos governos anteriores do Brasil. Queremos começar com a Argentina uma ligação muito boa e muito profunda em termos de luta contra o crime organizado para trocar informações, cooperar com as nossas forças de segurança e buscar a excelência na luta contra este flagelo. Claro que não é fácil. O Brasil tem 17.000 quilômetros de fronteiras terrestres e 11.000 quilômetros de fronteiras marítimas. Controlá-las não é fácil. É absolutamente impossível ter um monitoramento completo. Mas muito pode ser feito se ambos os países se unirem para o controle das fronteiras. Temos um problema sério na Tríplice Fronteira e na área da Uruguaiana, onde existem grandes organizações criminosas que se espalham pela América do Sul. Precisamos mudar a situação do controle de segurança nas fronteiras, até mesmo para atrair o turismo.
INFOBAE – É possível chegar a um acordo para fortalecer a fronteira militar ou policial na Tríplice Fronteira?
Gen Heleno – A Tríplice Fronteira não foi especificamente mencionada, houve uma conversa geral sobre o fortalecimento das fronteiras. Mas sabe-se que a equipe não é suficiente para enfrentar as gangues de criminosos. O Brasil deve reforçar e pretende melhorar os controles. Existe um projeto muito interessante de monitoramento com alta tecnologia. Mas se trabalharmos juntos nos dois países com suporte tecnológico, muito mais pode ser feito. Especialmente considerando que ambos os países têm problemas econômicos, precisamos nos ajudar uns aos outros.
INFOBAE – Bolsonaro deu um forte apoio a Macri para as eleições. O que aconteceria se um governo como Cristina Kirchner vencesse?
Gen Heleno – Essa é uma expectativa que gerará muitos mais problemas se o Macri não vencer. É que existe uma diferença muito importante em termos ideológicos e posturas ou pensamentos para o futuro, o que faz com que muitas coisas estejam andando muito bem hoje. De repente, tudo será parado e isso seria muito ruim para os dois países. O presidente Bolsonaro não deu nomes específicos, mas é claro que ele quer que haja uma continuidade nas relações diplomáticas, como há hoje com o presidente Macri. Essa continuidade de relações será difícil se acontecer de novo a um governo como o que estava anteriormente aqui. Isso seria um revés para nós. Nós nunca queremos que isso aconteça. Queremos ir em frente e não voltar ao passado.
INFOBAE – Você observa a presença do grupo terrorista Hezbollah na fronteira dos dois países?
Gen Heleno – Isso é uma impressão que não temos no Brasil. Não existe uma impressão tão desastrosa como há talvez aqui, embora não possamos duvidar que existam movimentos terroristas. É que nunca sofremos um ataque terrorista. Não podemos descrever uma posição extrema, mas claramente há uma busca permanente por esse tipo de informação, uma vez que lida com recursos que patrocinam as fronteiras. Podemos dizer que as organizações criminosas do Brasil financiam e estão relacionadas a grupos terroristas. Há uma mistura de interesses políticos, ideológicos e econômicos que apresentam uma situação difícil de enfrentar. Seria terrível se esse tipo de grupo se espalhasse na América Latina. Estamos muito preocupados com a expansão das organizações criminosas no Brasil nos últimos anos. Eles têm uma estrutura rígida e podem ter capacidade logística preparada e estamos orando para ter uma posição mais forte. Precisamos mudar nosso sistema penitenciário para que não haja apoio para os bandidos das prisões.
INFOBAE – Como você pode mudar toda essa situação que descreve?
Gen Heleno – Nós temos números baixos nas fronteiras e há muita preparação, mas eles ainda não têm treinamento para enfrentar a luta contra os grupos criminosos nas fronteiras. Temos que ter mais treinamento para nossas equipes. Eu acho que é um custo alto, mas acho que vale a pena investir nisso.
INFOBAE – O Senhor acha que a presença do Irã, China ou Rússia na Venezuela é uma ameaça para a região?
Gen Heleno – Não há confirmação real do interesse da Rússia na Venezuela. Alguns dizem que Putin quer receber dinheiro de lá. Outros falam de apoio militar. Nós não sabemos se isso é uma determinação do presidente Putin. Nós não vemos isso como uma ameaça, mas como uma posição geopolítica. A China, por exemplo, é mais discreta, mas tem muito mais presença. Mas não é fácil mudar a situação na Venezuela, onde os militares têm uma participação ativa em atividades legais e ilegais.
INFOBAE – O senhor concorda com uma intervenção militar na Venezuela?
Gen Heleno – Não, não acho que seja uma solução. Além disso, não é permitido pela Constituição da Venezuela. Eu acho que isso poderia acontecer de outro poder que faz algum acordo com a Venezuela. O acordo norueguês pode prever uma futura previsibilidade de asilo para Maduro e talvez isso seja uma saída. Mas hoje não vemos saída.
INFOBAE – Qual será a cooperação nas Forças Armadas do Brasil e da Argentina?
Gen Heleno – Há uma colaboração histórica entre nossas Forças Armadas e continuaremos nesse caminho porque está na vocação dos dois países. Os presidentes têm a mesma linguagem e isso facilita essa colaboração. Esta cooperação quando os presidentes não concordam ou quando não são colocados como prioridade. Mas a Argentina e o Brasil estão dispostos a continuar trabalhando no intercâmbio entre nossos países.
INFOBAE – Não vai acontecer o mesmo com um governo de esquerda aqui?
Gen Heleno – O que queremos é que haja uma continuidade desse governo de Macri. E acho que no final tudo ficará bem.