Ana Claudia Costa
Os cabelos longos estão sempre bem penteados, e o gloss nos lábios é de lei. Colares, anéis e brincos também fazem parte do visual, sempre impecável. A inspetora de Polícia Civil Aline Cavalcante, de 38 anos, que está há 12 na corporação, é a única mulher especialista em explosivos em todo o país.
A carioca é lotada no Esquadrão Antibombas, onde divide a função com uma equipe formada por 40 homens. Em julho, o grupo completou 45 anos de atividade, e Aline, que cada vez ganha mais espaço num universo tipicamente masculino, só tem motivos para comemorar. Ela participou da equipe que fez toda a varredura no Maracanã antes dos jogos da Copa do Mundo e também da Copa das Confederações.
A rotina de Aline é identificar explosivos e desarticulá-los. Mas a tarefa pode ser mais complexa. Ela também está preparada para verificar, por exemplo, se uma bomba tem como componentes substâncias químicas, bacteriológicas ou mesmo nucleares. Uma expertise que a jovem policial adquiriu fazendo cursos como o que lhe ensinou a entender mais sobre reagentes químicos, ministrado por especialistas do Exército. Os conhecimentos adquiridos, a experiência de seis anos no Esquadrão Antibombas e a formação em direito – área em que também leciona – já garantiram a Aline um novo status: ela dá aulas para turmas de novos policiais interessados em se especializar em explosivos.
Com a mesma rapidez que olha e ajuda a identificar qualquer tipo de explosivo, Aline também faz relatórios dos mais diversos tipos de bombas encontradas e apreendidas diariamente no Rio. Outra habilidade dela é operar o computador que controla um robô usado, em algumas situações, na desativação de artefatos.
A dedicação de Aline, workaholic assumida, é elogiada por seus colegas de trabalho. O inspetor Elington Cacella diz que Aline é dedicada, interessada e muito esforçada quando tem que aprender uma nova técnica ou a usar uma tecnologia recém-adquirida. A policial, segundo ele, não tem qualquer privilégio:
– Trabalha igual a todo mundo sem benefícios. É a única mulher no Brasil com essa técnica.
Casada com um policial civil e mãe de dois filhos, Aline deu ao Esquadrão Antibombas um toque feminino. Quando está trabalhando na parte administrativa da unidade, ela põe ordem na casa. Aline brinca com a história, dizendo que não dá moleza para os colegas
– Trabalho com eles mas também coloco ordem na casa. Às vezes, eles precisam de disciplina feminina para organizar as coisas. Sou do tipo que reclama se vão ao banheiro e não abaixam a tampa do vaso. É mais ou menos como nos comportamos em casas com muitos homens. Eles precisam de disciplina e eu procuro impor respeito. Em troca, ganho carinho e reconhecimento – afirma Aline, que combina o talento como policial com uma fala fácil e um temperamento expansivo, pouco comuns entre os profissionais da área.