O governo do Rio de Janeiro confirmou nesta terça-feira (11/10) que o secretário de Segurança Pública do estado e responsável pelo programa de Unidades de Polícia Pacificadora (UPP), José Mariano Beltrame, deixará o cargo após quase uma década.
O anúncio ocorre em meio a uma acentuada crise na segurança no estado. Beltrame enviou seu pedido de exoneração na segunda-feira, mesmo dia em que um tiroteio entre policiais e traficantes gerou terror nas comunidades do Cantagalo e Pavão-Pavãozinho, em Copacabana e Ipanema, zona sul do Rio.
O confronto, que se estendeu desde a manhã até o final da tarde, terminou com três suspeitos mortos e cinco feridos, sendo três policiais militares, incluindo o comandante da Unidade de Polícia Pacificadora (UPP) local, ferido por estilhaços na cintura.
A saída do secretário ocorre num momento delicado para o estado, que vive uma das maiores crises financeiras de sua história, o que aumentou as dificuldades em áreas essenciais, como a segurança.
Delegado da Polícia Federal, Beltrame assumiu a Secretaria de Segurança em janeiro de 2007, no início do governo de Sérgio Cabral, e se tornou conhecido pela implantação das UPPs na cidade do Rio. Ele é o secretário da pasta a permanecer mais tempo no cargo.
Ataque à UPP
O confronto teria começado quando traficantes atacaram a base da UPP no Pavão-Pavãozinho. As autoridades, porém, ainda não disseram o motivo do ataque.
"Neste primeiro confronto, um marginal foi baleado, ele estava com um [fuzil] AK47. E um segundo foi baleado, com uma pistola. Na parte da tarde, vários criminosos ficaram encurralados na parte da mata, quando houve uma negociação e eles se renderam", relatou o subcomandante do Batalhão de Choque, major Vinícius Carvalho.
Uma líder comunitária local que não quis se identificar afirmou que o ataque à UPP ocorreu após um jovem, que teria ligação com o tráfico, ter sido morto pela PM.
"A informação que eu tive é que um policial atirou no rosto dele, com intenção de matar. A comunidade nunca foi contra a UPP. Somos contra algumas situações que acontecem aqui, como covardia e agressão a trabalhadores. Somos contra alguns policiais", disse ela.
"Cenário de guerra"
O Pavão-Pavãozinho amanheceu com policiamento reforçado nesta terça-feira, assim como os acessos às comunidades da região. O jornal O Globo relata que o clima era de aparente tranquilidade, diferente do que se viu no dia anterior.
Na segunda-feira, parte do comércio de Copacabana e Ipanema fechou as portas por conta do tiroteio. O tráfego de veículos em ruas e túneis nos arredores foi interrompido por medida de segurança.
Testemunhas relataram momentos de terror. Segundo a bibliotecária Helena Duarte, o cenário era de guerra. Em depoimento à Agência Brasil, a moradora disse que as crianças que estavam na biblioteca em que ela trabalha, em frente à comunidade, viveram minutos de terror durante a troca de tiros.
"Os pais deles nos ligavam perguntando se estava tudo bem e ordenavam que não deixássemos eles subirem, pois lá em cima estava perigoso demais. Essa rua estava tomada por carros da Polícia Militar, do Bope. Eles chegavam a trocar tiros aqui da esquina. Para mim, que estava dentro da biblioteca, parecia que era do lado. Foi um terror. Graças a Deus ninguém se feriu", afirmou.
Beltrame, que deve deixar o cargo no final deste mês, após o segundo turno das eleições municipais do dia 30 de outubro, disse nesta terça-feira que "as imagens produzidas ontem são péssimas para a cidade, mas a polícia não pode se omitir e, mais uma vez, cumpriu seu papel". "A UPP e o Comando de Operações Especiais evitaram novamente uma guerra entre quadrilhas", opinou o secretário.