Hermano Freitas
Os ataques da Al-Qaeda em 11 de setembro de 2001 em Nova York teriam alguma semelhança com os do Primeiro Comando da Capital (PCC) em maio de 2006 em São Paulo e de organizações criminosas diversas no Rio em 2010? Para Reginaldo Nasser, especialista em terrorismo, sim. De acordo com ele, professor de Pós-Graduação em Relações Internacionais em três instituições e doutor em Ciências Políticas pela PUC de São Paulo, a estratégia de atentados da organização terrorista guarda semelhança com as práticas da organização criminosa.
"As ações daquela organização naquela época têm relação muito estreita com os atentados da Al-Qaeda. Você joga com a ameaça da violência; como já fez uso da violência, pode se repetir. É uma tentativa de pressionar as autoridades para que negociem a fim de tentar evitar que a população sofra mais uma vez com algo semelhante", afirma Nasser. Na época dos atentados do PCC, o regime disciplinar diferenciado havia acabado de ser implantado nos presídios, limitando as liberdades para que os criminosos continuassem a comandar seus negócios mesmo presos. No ano passado, o Rio já vivia o auge da instalação de Unidades de Polícia Pacificadora, que tomam territórios antes exclusivos dos traficantes em favelas cariocas.
O medo de que a ação terrorista se repita é o maior dividendo dos grupos criminosos e é do medo imposto através de especulações que surge a capacidade de barganha junto às autoridades. "É como o 11 de setembro. O impacto vem da especulação de que, como a organização realizou um ataque como aquele, conseguiria também realizar outra ação com o mesmo poder ofensivo ou ainda maior", diz. "Paralisaram a cidade inteira de São Paulo basicamente sem um único ato de violência, apenas pela boataria que se gerou. O que significa que foi organizado. E tinham um objetivo político: negociar o fim do RDD. Queriam atingir uma cidade inteira. Quem vai se incomodar com isso? Os governos. Quando fazem isso é uma mensagem de que querem negociar", diz o professor.
De acordo com ele, o episódio paulista se assemelha ao fluminense pela pulverização de pessoas atingidas. "Pegar o carro de alguém a esmo e colocar fogo dá o recado pra uma pessoa atacando outra que não tem nada a ver. Isso é tática terrorista básica, mas para atingir objetivos específicos", diz. Entretanto, de acordo com o professor, é preciso diferenciar uso que as organizações fazem dos atentados. Enquanto aquele tipo de ataque dos terroristas da Al-Qaeda tinha relação com o estabelecimento de uma "marca" para a organização – ou seja, parte de uma "estratégia" – os ataques em São Paulo e no Rio foram um recurso "tático" pontual e não voltaram usados naquela mesma dimensão nos Estados.