Armas exibidas por traficantes do Rio de Janeiro em um vídeo que circulou nas redes sociais no começo desta semana (veja abaixo) são as mesmas utilizadas por terroristas do Estado Islâmico, segundo aponta o antropólogo e capitão veterano do Bope (Batalhão de Operações Policiais Especiais), Paulo Storani.
A pedido do R7, o especialista analisou o armamento pesado dos criminosos exibido em uma espécie de comemoração. Storani diz que os fuzis identificados nas imagens, que custam entre R$ 25 mil e R$ 50 mil, podem atingir uma distância de até 4 km e são capazes de derrubar um helicóptero.
Na gravação, ao menos sete traficantes comemoram a invasão de uma comunidade no Rio e dançam com fuzis e pistolas ao som de um funk. A DCOD (Delegacia de Combate às Drogas) informou que o caso está sendo investigado sob sigilo.
Um dos traficantes foi identificado como Leonardo Dias Gomes, de 24 anos, mais conhecido como Léo Mingau. O suspeito faria parte do tráfico de drogas do Morro Faz Quem Quer, em Rocha Miranda, zona norte do Rio, e já estaria com a prisão preventiva decretada.
Ele responde pelos crimes de latrocínio e é suspeito de assassinar em abril deste ano um motociclista, que teve o corpo carbonizado na Praça Seca, zona oeste. Léo Mingau também é um dos acusados de ter participado do assalto ao Ceasa, em agosto de 2015, que terminou com a morte de um segurança e uma funcionária de um supermercado do local. O Disque-Denúncia oferece uma recompensa de R$ 1 mil para quem informar o paradeiro do criminoso.
No vídeo, o ex-capitão identificou ao menos cinco fuzis de calibres 762 e 223: um AK 47, dois FALs e dois Colt Comando. Segundo ele, veículos blindados das polícias Civil e Militar têm proteção balística capaz de suportar disparos desse tipo de armamento, mas essas armas causariam grandes estragos em áreas vulneráveis de aeronaves com blindagem semelhante, o que comprometeria seu funcionamento. Storani ressalta que esse tipo de armamento não é recomendado para uso policial porque também seria capaz de atravessar estruturas de alvenaria.
— Esse armamento faz parte do contexto do Rio de Janeiro pelo menos nos últimos 30 anos. Elas não são fabricadas no Brasil, são traficadas e compradas em comércio irregular em países vizinhos, boa parte no Paraguai. Às vezes, sabemos até o endereço dessas lojas.
Para Storani, a falta de políticas públicas para fortalecer as fronteiras nacionais facilita a compra de armas por traficantes brasileiros. Ele afirma que não há iniciativas por parte do governo federal para coibir o tráfico de armas e de drogas nas fronteiras. Segundo o antropólogo, a vulnerabilidade seria maior nas fronteiras com o Paraguai, Venezuela e Bolívia, países que seriam conhecidos pelo grande volume de contrabandos.
– A criação de uma polícia nacional de fronteiras seria a melhorar opção para tirar essa responsabilidade da Polícia Federal, que já tem tantas outras. Mas não temos essa possibilidade diante da crise no País. Uma solução paliativa seria utilizar as Forças Armadas. O Exército nas fronteiras secas, a Aeronáutica no espaço aéreo e fortalecer a Marinha para proteger os portos e a região litorânea, promovendo ações de fiscalização.
O ex-capitão do Bope também acusa o Congresso Nacional de omissão quanto a medidas de combate ao tráfico internacional de armas. Storani afirma que as armas chegam a comunidades cariocas pelas mãos de contrabandistas. Os traficantes apenas os encomendam, recebem e pagam os equipamentos.
Por isso, o valor de cada arma pode variar entre R$ 25 mil e R$ 50 mil. Segundo ele, o preço elevado é definido por fatores como oferta e demanda, dificuldade para chegar ao destino, fiscalização e propinas.
Para Storani, o melhor sistema de fiscalização de fronteiras do país fica nos aeroportos. Os portos seriam os mais vulneráveis já que a fiscalização seria feita de forma aleatória e nem todos contêineres são supervisionados.
Esses tipos de fuzis também são utilizados pelo Exército e polícias do Rio, de acordo com Storani. Ele afirma que existe a possibilidade do armamento ter sido desviado de quartéis com conivência dos agentes de segurança ou até mesmo em ações de invasão dessas unidades militares para roubo dos equipamentos, como já teria acontecido em outros casos.
A necessidade de se autofirmar é o principal motivo apontado pelo especialista para os traficantes terem produzido o vídeo. Storani diz acreditar que os criminosos tendem a mostrar o potencial e o poder de fogo para amedrontar facções rivais, a polícia e a sociedade.
– Esse tipo de vídeo é direcionado principalmente para facções rivais, para mostrar a disposição que eles têm de enfrentamento e a quantidade de armas. Eles têm uma tendência de autofirmação contra o inimigo, contra a polícia e contra a sociedade. Porque sentimos nossos direitos violentados quando assistimos um vídeo desse.
Criação de núcleos de inteligências em cinco Estados
Em julho deste ano, o Ministério da Justiça anunciou a criação de núcleos permanentes de inteligência voltados para o combate ao contrabando, ao tráfico de drogas e de armas. Inicialmente, Paraná, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Rio de Janeiro e São Paulo foram os cinco Estados contemplados com os núcleos.
Na ocasião, o ministro da Justiça, Alexandre de Moraes, disse que os núcleos possibilitariam que as polícias compartilhassem informações, realizassem investigações interestaduais e planejassem operações em conjunto.
– As inteligências desses Estados têm inúmeras informações mas, infelizmente, é uma dificuldade que sempre houve e ainda há, não há a troca total de informações. Essas esquipes terão essa missão.
Segundo Moraes, cada núcleo seria formado por uma equipe de inteligência de cada polícia presente no Estado: polícias Federal, Militar, Civil e Rodoviária. Ele ainda informou que a infraestrutura para o funcionamento dos núcleos seria bancada pelo governo federal.
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