Mario Hugo Monken, iG Rio de Janeiro
Nos dois anos anteriores, os traficantes da maior facção criminosa do Rio de Janeiro, o Comando Vermelho (CV), promoveram uma série de ataques a favelas inimigas em razão da ocupação por UPPs (Unidades de Polícia Pacificadora) das comunidades que dominavam.
Neste ano, a situação se repete, mas desta vez com os bandidos ligados aos Amigos dos Amigos (ADA), grupo que controla a favela da Rocinha, na zona sul do Rio.
Com seus redutos ocupados por UPPs, os traficantes da ADA já tentaram invadir pelo menos cinco localidades nos últimos três meses: o Conjunto Habitacional Fumacê, em Realengo, na zona oeste, Juramento, Para-Pedro, Saçu e Vila do Pinheiro (Complexo da Maré), na zona norte. Em um dos ataques, ocorrido no dia 29, seis pessoas morreram na Para-Pedro, no bairro de Colégio. Conheça os grupos criminosos que disputam o controle de favelas no Rio.
Comunidades controladas pela ADA começaram a ser pacificadas no final do ano passado. Desde então, foram ocupados redutos importantes do grupo, como os morros do São Carlos, do Zinco, Coroa e do Querosene, na região central, e dos Macacos, em Vila Isabel, na zona norte.
A pacificação levou os bandidos a migrarem para outras favelas do mesmo grupo. Os principais destinos foram os morros da Pedreira e do Dezoito, na zona norte, e a Vila Vintém, em Padre Miguel, na zona oeste, além da própria Rocinha.
"Os bandidos que eram de favelas da UPPs vieram todos para cá. A favela da Quitanda, que era fraca, hoje deve ter uns 80 fuzis. Na Pedreira, devem ter uns 150 fuzis", disse o delegado Aldari Vianna, da 39ª Delegacia de Polícia, responsável pelas investigações sobre o crime no Complexo da Pedreira.
Apesar da migração, os traficantes da ADA buscam novos redutos para se estabelecerem e passaram a atacar outras favelas, principalmente aquelas que já pertenceram a facção e foram perdidas.
Nos dois anos anteriores, o Comando Vermelho teve várias favelas pacificadas, como a Cidade de Deus, na zona oeste, e os morros Pavão-Pavãozinho e Cantagalo, na zona sul.
A maioria dos bandidos do CV se escondeu nos complexos do Alemão e da Penha, na zona norte, e a facção atacou várias favelas rivais para dar abrigo aos traficantes que saíram de locais ocupados por UPPs". Guerras com muitas mortes ocorreram nos morros da Serrinha, em Madureira, e no Juramento, em Vicente de Carvalho, que foram os principais alvos do grupo na ocasião.
As invasões
A última tentativa de invasão por parte da ADA ocorreu essa semana. Segundo o Serviço Reservado do batalhão da PM de Irajá (41º BPM), bandidos do morro da Pedreira atacaram o morro do Juramento, em Vicente de Carvalho, na zona norte, controlado pelo CV. Houve intenso tiroteio mas, de acordo com PMs, a favela não foi tomada.
Antes, a Pára-Pedro já tinha sido alvo da ADA. A favela foi perdida para os rivais TCP (Terceiro Comando Puro) em 2007. Na época, era controlada pelo traficante conhecido como Bamba. O bandido ganhou a liberdade recentemente e se refugiou na Pedreira.
No último dia 29, com a ajuda dos traficantes da Pedreira e de bandidos que deixaram favelas com UPPs, Bamba invadiu a Pára-Pedro. No tiroteio, quatro integrantes do grupo invasor e dois da quadrilha atacada morreram. A invasão não foi consumada.
Nos dias seguintes à invasão, a PM ocupou a Pedreira e houve vários confrontos. Pelo menos sete traficantes foram mortos.
No início de maio, os traficantes Playboy e Puma, que comandam a Pedreira, com ajuda de criminosos do São Carlos, Dezoito e da Rocinha, invadiram as favelas Vila do João e Vila dos Pinheiros, no Complexo da Maré. Até 2009, essas áreas eram dominadas pela ADA e foram perdidas para o TCP.
A base para a invasão, que não se consumou, foi o Complexo do Caju, na zona portuária. No ataque, um morador que estava dentro de uma escola morreu atingido por uma bala perdida. Outros quatro inocentes foram atingidos. Dois bandidos morreram.
Migração
Na zona oeste, o comandante do 14º BPM (Bangu), tenente-coronel Djalma Beltrami, recebeu informações de que traficantes do São Carlos e dos Macacos migraram para a Vila Vintém, em Padre Miguel. Segundo ele, a vinda dos bandidos teria refletido num aumento no número de roubos nas proximidades da comunidade.
O oficial não descartou a hipótese de os "refugiados" terem ajudado os bandidos da Vintém na tentativa de invasão ao conjunto habitacional Fumacê, em Realengo, na mesma região, no início de abril. Na ocasião, cinco pessoas foram mortas, entre elas uma mulher. Os invasores, no entanto, não conseguiram dominar a favela.
Em março, dias antes da invasão ao Fumacê, a Polícia Civil apreendeu duas metralhadoras ponto 50 (armas antiaéreas) na Vintém. Segundo policiais que participaram da apreensão, as armas teriam vindo do São Carlos.
Outro ataque da ADA foi na comunidade do Saçu, em Quintino, na zona norte, controlada por uma milícia. No início de maio, a localidade foi invadida por bandidos do morro do Dezoito, em Água Santa, na zona norte, liderados pelo traficante Alexandre Bandeira de Mello, o Piolho, que contou com a ajuda de criminosos do morro dos Macacos.
A PM está atenta para outro confronto que pode ocorrer. Na última semana de maio, a corporação recebeu denúncias de que os traficantes do morro do Urubu, em Pilares, na zona norte, ligados à ADA, tentariam invadir o morro do Engenho da Rainha, do CV. Segundo o comandante do 3º BPM (Méier, zona norte), tenente-coronel Ruy França, o ataque não aconteceu mas existe o alerta.