André Luís Woloszyn,
Analista de Assuntos Estratégicos, Pós–graduado em Ciências Penais e Criminologia,
especialista em terrorismo (EUA), diplomado pela Escola Superior
Meses após o término da chamada “Guerra do Rio” e a tomada do complexo de favelas do Alemão pela polícia carioca com o apoio das forças armadas tem-se notícia de que o tráfico de drogas recrudesceu naquela comunidade. Pior, a polícia pacificadora cumpre sua missão de pacificar permitindo o tráfico, agora monopólio do Comando Vermelho, mas inibindo a guerra entre facções, situação que dava visibilidade e causava insegurança, porém controlada, traz uma aparente tranqüilidade.
Talvez seja uma tática da facção para afastar o programa das comunidades sob seu domínio, uma desinformação. Mas o raciocínio, neste contexto, se é que está ocorrendo, é de que as UPPs estão fazendo a segurança dos traficantes do complexo do Alemão. Se for uma ação consciente, demonstra que alguns de seus integrantes já foram cooptados pelas organizações criminosas e caíram na ilegalidade ou ainda, que as autoridades não possuem habilidade para tratar do problema sem fazer concessões, aos grupos criminosos. Se inconscientemente, mostra que os estrategistas destas organizações se utilizaram das UPPS para benefício próprio logrando as autoridades governamentais ligadas a questão da segurança pública. E esta situação, caso comprovada, poderá sepultar um projeto que é uma grande esperança da sociedade para reduzir os conflitos e tensões nas favelas do Rio de Janeiro e minimizar os efeitos da guerra urbana do tráfico de drogas.
O potencial do programa das UPPs, uma estratégia militar criada pelo Exército Brasileiro nas favelas do Haiti e adaptado para a conjuntura brasileira é indiscutível e já está consolidado uma vez que vem apresentando resultados significativos com reconhecimento internacional. Mas não se sustenta sozinho pois são necessárias ações complementares em diversas esferas para torná-lo eficiente se considerarmos que o problema não é exclusivamente caso de polícia. Sob uma visão estratégica, os conflitos entre facções nas favelas na disputa de territórios são apenas conseqüência de causas maiores e estas, estão sendo tratadas precariamente.
Como exemplos, podemos iniciar por um maior controle e fiscalização nas fronteiras terrestres, que são extensas, na tentativa de cortar o suprimento de drogas que entra em território nacional diariamente e são distribuídas nos grandes centros urbanos. Outro ponto é o controle sobre as armas ilegais adquiridas pelos traficantes que segundo relatórios oficiais são 80% importadas com origem nos EUA, Bolívia, Argentina e Venezuela, especialmente no tocante a fuzis e submetralhadoras. O caos no sistema penitenciário é outro grande desafio pois dentro dos presídios é que surgem estas facções e é dentro destes que suas lideranças comandam o espetáculo por telefone.
Algumas ações neste sentido teriam impacto direto para o enfraquecimento das facções e diminuição das disputas por falta da matéria prima que impulsiona toda esta engrenagem. As favelas, são apenas o palco do teatro de operações onde pode-se ganhar algumas batalhas mas não significa que estaremos ganhando a guerra. Os bastidores, bem, aí são outros quinhentos.
É por isto que não se pode depositar nas UPPs a responsabilidade única de ser a fórmula mágica que irá resolver definitivamente o problema da segurança nas favelas e em outras comunidades. O programa, pode facilmente se transformar de herói em um grande vilão.