Waleska Borges
A Força de Pacificação, formada por militares do Exército, que há exatamente um ano, completado ontem, ocupou os complexos do Alemão e da Penha já custou entre R$150 milhões e R$160 milhões ao Ministério da Defesa. A informação foi dada ontem pelo comandante do Comando Militar do Leste (CML), general Adriano Pereira Junior. Sem dar detalhes sobre os gastos, o general disse que parte do dinheiro foi usada na compra de equipamentos.
– Eu não fico com o trabalho financeiro. Faço o pedido: preciso de tantos fuzis e tantos veículos, e recebo esse material – informou o oficial, acrescentando que soube do valor numa conversa que teve em Brasília.
Durante entrevista antes do almoço que reuniu no Alemão chefes das forças de segurança para comemorar o aniversário da ocupação, o comandante do CML disse que o valor foi repassado ao Exército para "cumprir a missão". Ao ser perguntado se a despesa não havia sido excessiva, ele respondeu:
– Se isso é um gasto excessivo, eu pergunto: quanto vale uma vida? Quantas vidas foram poupadas aqui? Quanto vale também a paz dos pais ao saberem que vão sair para os seus trabalhos e que os filhos vão para a escola no horário normal, ter aula e sair ao final dela? Isso não tem preço.Procurado, o Ministério da Defesa não quis se manifestar.
Força de Pacificação atua com mais de 1.800 militares
Segundo o general, o Estado – nos níveis municipal, estadual e federal – está recuperando uma área antes abandonada. Ele lembrou que região, ocupada de forma emergencial após uma série de ataques em que veículos foram incendiados em novembro do ano passado, conta hoje com pelo menos 1.660 homens voltados diretamente para o esquema de segurança. Além disso, há outros 200 mobilizados para o apoio logístico.
O comandante também disse que os conflitos ainda existentes ocorrem com pessoas ligadas ao tráfico ou dependentes de drogas.
– Tenho orgulho deste período de um ano de ocupação do Complexo do Alemão. Estamos tirando um câncer deste país, de áreas onde antes o Estado não poderia estar presente – comemorou.
Convidado para participar do almoço, o secretário de Segurança Pública, José Mariano Beltrame, disse que já foi delineada a ocupação da comunidade pela polícia, prevista para começar em março do ano que vem. A Força de Pacificação vai deixar a região em junho.
– Vamos ocupar duas áreas a cada mês, completando todos os complexos até junho – explicou o secretário.
Segundo Beltrame, a ocupação policial começará, assim como em outras áreas que receberam UPPs, com buscas feitas pelo Bope, pelo Batalhão de Choque, pela Companhia de Cães e pelo Batalhão Florestal da PM. O secretário disse não poder garantir que não haverá novos ataques – na quinta-feira passado, um soldado foi baleado por traficantes no Morro da Caixa d"Água, no Complexo do Alemão.
– É impossível garantir que nada vai acontecer. Se nós olharmos como era há um ano, vamos ver que agora está muito melhor. É uma perseguição eterna por melhorias nos índices de criminalidade – disse.
Beltrame e o general informaram ainda que não há no momento negociações para a atuação do Exército em outras comunidades. No entanto, ambos não descartaram a hipótese de haver uma nova parceria, caso isso seja necessário no futuro.
Participaram do almoço também a chefe da Polícia Civil, delegada Martha Rocha, o comandante da Força de Pacificação, general Rêgo Barros, e o comandante-geral da Polícia Militar, coronel Erir Ribeiro Costa Filho. O cardápio escolhido foi arroz, feijão, salada, macarronada e supremo de frango.