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ÁFRICA – Terror dá apoio a rota africana do tráfico

GERMÁN DE LOS SANTOS

Grupo GDA

O médico argentino Gabriel Zilli, especialista no tratamento para reduzir dores em pacientes com câncer, estava nervoso. Tremia. Ao seu lado, em sua casa do bairro Arroyito, em Rosário, cidade argentina a 300 km de Buenos Aires, o português Fernando Martins Frutuoso e o colombiano Wilmar Yuriano Valencia Estrada, integrantes do cartel Urabeños, cozinhavam uma panela de arroz.

O oncologista não estava inquieto por causa do almoço, e sim porque era sua estreia no tráfico de drogas. Seus companheiros colombianos desenvolviam em sua casa um sofisticado método para grudar a cocaína nos grãos de arroz.

Esta organização de narcotraficantes colombianos, argentinos, equatorianos e portugueses planejava mandar para GuinéBissau, na África, carregamento de 46 toneladas de arroz. A carga chegaria no país em um lote de socorro da ONU.

O carregamento foi descoberto pela polícia argentina. A cocaína camuflada nos grãos de arroz havia passado pelos escâneres da Alfândega, mas não conseguiu enganar um golden retriever, que farejou a droga. A investigação apurou que esta organização transnacional criou 30 empresas na Argentina para lavar US$ 5,3 milhões.

A África é uma nova rota do tráfico de drogas produzido na América Latina e preocupa. Os intermediários africanos, que se dedicam a introduzir a droga na Europa, pertencem a organizações criminosas infiltradas nos governos, com relações diretas com o terrorismo e o tráfico de armas, segundo reportagem especial do Grupo de Diarios América (GDA).

A ministra de Segurança, Patricia Bullrich, indicou que parte da cocaína exportada “financia grupos terroristas” na África:

— Serviços de inteligência de outros países confirmam que são pagos pedágios a grupos terroristas para realizar as operações.

De acordo com informe da Comunidade de Polícias da América (Ameripol), pela rota africana passam 30% de toda a cocaína que tem a Europa como destino final. Nos últimos cinco anos, a África virou um ponto-chave no mapa do narcotráfico mundial. E para as organizações criminosas da América Latina, é uma rota alternativa cada vez mais utilizada para chegar à Europa, onde a fiscalização foi reforçada.

O Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (UNODC) deu o alerta e pediu que sejam intensificados esforços para erradicar o tráfico de drogas e o crime organizado na África ocidental. Os principais cartéis de drogas mexicanos foram os primeiros a usar a rota africana. Construíram pontes com a África com a ajuda da máfia italiana 'Ndrangheta, há mais de sete anos.

Os cartéis colombianos também têm feito negócios com o continente africano.

As autoridades colombianas calculam que cerca de 130 toneladas de cocaína — um terço do que é “exportado” — chegam aos portos africanos antes de serem distribuídos na Europa. Geralmente, a droga passa pelo Porto de Santos, no Brasil. Vários colombianos foram presos no Togo e Guiné-Bissau com carregamentos de droga em alianças com redes venezuelanas e brasileiras.

As facções brasileiras, como a Família do Norte (FDN) e o Primeiro Comando da Capital (PCC), trabalham com resquícios das Farc, agora desmobilizadas, com o poderoso Clã do Golfo e com o grupo Caqueteños, que opera no Sul da Colômbia. Investigadores afirmam que a FDN é uma das facções que controla o tráfico na fronteira terrestre e fluvial entre Brasil, Peru e Colômbia.

No Brasil, a porta de saída para a África é o Porto de Santos, de onde saem 88% da droga que deixa o país, segundo calculam fontes. O modus operandi detectado pela Polícia Federal é o chamado “rip-on rip-off”. Os traficantes, com a ajuda de cúmplices, camuflam a cocaína em cargas lícitas dentro de contêineres. O procurador brasileiro Carlos Bruno Ferreira da Silva calcula que apenas “5 ou 10% das cargas que deixam o Brasil” são inspecionadas.

Diante da preocupação com as novas rotas e movimentos dos cartéis, a Direção de Combate ao Crime Organizado e a Interpol se reuniram com seus pares na região para tratar do tráfico de drogas para a África. O objetivo é elaborar um trabalho coordenado para conhecer o modus operandi das organizações e, em seguida, prender traficantes.

Segundo Amado de Andrés, representante regional da UNODC, nos últimos três anos a produção de cocaína na América Latina cresceu. Calcula-se um aumento de 200 toneladas.

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