Cabul O governo do Afeganistão proibiu ontem os militares de elite dos Estados Unidos de continuarem suas operações na província estratégica de Maidan Wardak, vizinha à capital Cabul. A decisão foi tomada devido às reclamações de que afegãos a serviço das forças especiais americanas mataram e torturaram moradores de vilas na área. A proibição, no entanto, só entra em vigor em duas semanas.
Maidan Wardak é considerada crucial para a defesa da capital contra os talibãs, que usam a região a Sudoeste de Cabul para se reunirem antes dos ataques. Se de fato for colocado em prática, o veto à ação das forças especiais será ainda mais significativo diante da retirada programada das forças regulares dos EUA da área. Até o fim do primeiro semestre deste ano os americanos esperam que suas tropas convencionais passem a atuar apenas no aconselhamento das tropas afegãs no Leste do país, deixando as tropas de elite como únicas opções para ofensivas na região.
Assim, ainda ontem, oficiais da coalizão ocidental criticaram a decisão do governo do Afeganistão. Eles também procuravam mais explicações sobre que episódios levaram os afegãos a decretarem a proibição das operações, assim como que tipo de acusações elas desencadearam. Já as autoridades afegãs descrevem a medida como último recurso. Aimal Faizi, porta-voz do presidente Hamid Karzai, contou que o Conselho de Segurança Nacional do Afeganistão decidiu impor a proibição depois de semanas tentando, e não conseguindo, explicações da coalizão ocidental sobre as reclamações de que moradores de Maidan Wardak estavam sendo mortos, torturados ou simplesmente desaparecendo.
Vídeos e fotos como prova
Embora as autoridades afegãs tenham reafirmado que preferem atuar em conjunto com as tropas estrangeiras, a medida está sendo vista como um sinal de que o governo do país deseja limitar as ações das forças ocidentais se considerar que elas não atendam aos melhores interesses dos afegãos. Os episódios de violência foram atribuídos a afegãos ou afegãos-americanos que trabalham com as forças especiais dos EUA, disse Faizi, acrescentando que fotos e vídeos dos acusados foram repassados ao comando da coalizão.
Após verem as imagens, relatou Faizi, os comandantes da coalizão mostraram-se dispostos a cooperar com as investigações, mas logo mudaram de posição, afirmando que os acusados desapareceram ou nunca trabalharam para as forças americanas. Segundo ele, alguns dos oficiais estrangeiros chegaram inclusive a questionar a veracidade dos episódios. Faizi, no entanto, afirmou não ter dúvidas de que alguém ou algum grupo está torturando e matando os moradores de Maidan Wardak.