André Luís Woloszyn
Analista de Assuntos Estratégicos
As vésperas do 12º aniversário do maior atentado terrorista da história perpetuado pela rede Al Qaeda nos EUA, ainda restam muitos fatos a serem esclarecidos à opinião pública que passaram a condição de teorias da conspiração e que, acredito, nunca chegarão a ser totalmente esclarecidos. Mas é inegável o significado de vulnerabilidade e insegurança que trouxe durante a década passada para a comunidade internacional o que acarretou em uma mudança significativa na forma como as pessoas passaram a encarar a ameaça do terrorismo internacional.
Os atentados, inauguraram o que pode ser classificado como a década da violência ou do terror, como definem alguns, um dos períodos mais sangrentos do século XXI, ressalvadas as guerras regulares. Ocorreram dezenas de outras ações em países como a Indonésia (2002), Espanha (2004), Inglaterra (2005), India e Paquistão (2007 e 2008), Rússia (2010) que vitimaram milhares de pessoas inocentes além de ações fracassadas e tentativas que foram plotadas pelos órgãos de segurança.
Por conta dele, tivemos ainda, a invasão do Iraque por uma força de coalizão liderada pelos EUA em 2003 e a intensificação das operações militares e de inteligência no Afeganistão enquanto ocorria, paralelamente, a caçada a Osama Bin Laden que duraria uma década. Esta, empreendida também contra outras lideranças da Al Qaeda com o apoio de diversos países, somada a vigilância sobre suas movimentações financeiras e o incremento nos mecanismos de segurança, resultaram na desarticulação da rede, o fim de seu poder logístico e imensas dificuldades para a prática de grandes atentados como os que vimos anteriormente.
Mas o terrorismo não se calou. Ao contrário, respondeu com o surgimento de novos atores, células menores e os chamados lobos solitários, pessoas que não estão ligadas a nenhum grupo conhecido, mas passaram a praticar atentados de forma isolada e em alvos pontuais, com a utilização de meios caseiros, fatores que somados, dificultam sua detecção e neutralização a tempo de minimizar danos.
E o fator mais significativo, após tantos esforços, é o de que a ideologia extremista está tão viva como na fase anterior ao 11 de setembro e aguarda, pacientemente, novas oportunidades para demonstrar ao ocidente que ainda é capaz de ações cinematográficas.
De outra forma, para combatê-los, multiplicaram-se as agências de inteligência, especializadas em inteligência artificial de imagens e sinais, novos programas e tecnologias online que culminaram com um amplo sistema de vigilância e monitoramento global liderados pela Agência de Segurança Nacional (NSA), casos que só agora começaram a ser revelados, primeiramente por Bradley Manning e mais recentemente, por Edward Snowden.
Neste contexto, a pergunta natural de muitas pessoas é o que mudou nestes 12 anos? A resposta, no momento, é nada. Continuamos com o sentimento de vulnerabilidade e o terrorismo permanece como uma ameaça permanente, com tendências a se fortalecer, especialmente em sua nova base na região do Norte da África. Em relação aos cidadãos comuns, vivenciamos a redução de direitos e garantias individuais como a livre circulação e a privacidade, tudo em nome de uma pseudo segurança global.
Isto, sugere que vivemos há tempos um choque entre civilizações, como afirmava Samuel Huntington em sua clássica obra. Não conseguimos compreender a lógica do extremismo islâmico, se há que existe alguma. Não conseguimos compreender a luta entre palestinos e israelenses, tampouco o genocídio na Síria, a não por meio de intervenções militares, o que só contribui para alimentar a escalada do terrorismo, como, aliás, a história nos vem demonstrando.