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UNODC – Caminho da cocaína


Larissa Leite
Correio Braziliense

 

Segundo relatório divulgado pela ONU, a quantidade do entorpecente apreendida na Europa e que tinha origem brasileira cresceu mais de 300% em quatro anos. Com isso, o país virou um dos maiores centro de distribuição da substância

O Brasil amarga uma sombria posição no consumo de cocaína na América do Sul e na Central: no país, estão presentes 900 mil usuários da droga, o que representa 33% dos usuários da região. Os números nos conferem o título de maior mercado consumidor da droga, em termos absolutos. Com a divulgação do Relatório Mundial sobre Drogas 2011 apresentados ontem pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc), surge outra posição de "destaque". O país está se tornando um dos principais centros distribuidores de cocaína para a Europa. Em 2009, foram 260 apreensões da droga no continente com passagem pelo Brasil, que somaram 1,5t. Em 2005, foram 25 casos, somando 339 kg de cocaína. No relatório, o Brasil foi o único país  sul-americano citado como nação de saída da cocaína com destino à África .

Apesar de campeão em número de casos, o país perde para o Equador e para a Venezuela no volume da droga enviada ao velho continente. Os países foram responsáveis, respectivamente, pelo envio de aproximadamente 2,5t e 6,5t, no mesmo ano. O caso brasileiro é classificado de "microtráfico", segundo a Polícia Federal (PF). "Esse tráfico é caracterizado por muitos casos e pela pequena quantidade. As mulas, muitas vezes sem antecedentes criminais, levam a droga em voos comerciais nas mais variadas formas possíveis", afirmou o coordenador-geral de Polícia de Repressão a entorpecentes da PF Márcio Nunes.

O coordenador informou que a polícia faz um trabalho de investigação dos viajantes e, quando há indícios de porte de drogas, a pessoa pode passar por equipamentos como o body scan, que detecta inclusive a droga ingerida. No entanto, essa tecnologia só existe em quatro aeroportos do país — em Manaus, no Recife, no Rio de Janeiro (Galeão) e em São Paulo (Guarulhos), que concentra a maior quantidade de apreensões.

De acordo com Nunes, o governo pretende implantar outros seis escâneres corporais ainda neste ano. "Estamos terminando de priorizar quais serão os aeroportos, mas levaremos em consideração o fluxo e histórico de apreensões. Vamos adequar os aeroportos de forma padrão até por conta dos jogos olímpicos e da Copa." A aquisição dos equipamentos é feita em parceria com o governo norte-americano e, segundo a PF, eles estão em fase de entrega.

Fronteira

O coordenador reitera que a cocaína está presente no país em função, especialmente, do tráfico de drogas. Ele informou que a principal fragilidade do Brasil é a região fronteiriça, que abrange um território de 8 mil quilômetros em contato com os principais produtores de coca do mundo: Colômbia, Peru e Bolívia. "Ainda que colocássemos todos os policiais federais, estaduais e os agentes das forças nacionais lado a lado, não conseguiríamos cobrir toda a fronteira. O fluxo é muito grande, e também existem os acessos aéreos e fluviais", disse.

O representante do Unodc para o Brasil e o Cone Sul, Bo Mathiasen, reiterou que um dos motivos de o país ter se tornado um mercado consumidor foi a mudança da rota mundial: "Houve um deslocamento do consumo de cocaína da América do Norte, onde houve uma diminuição de 40% nos últimos anos. Os traficantes também estão buscando mercados mais próximos, como a Argentina, o Brasil e o Chile, que são interessantes porque têm uma parcela da população com bom padrão de vida e poder aquisitivo elevado".

O diretor de Assuntos Internacionais da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), Vladimir de Andrade, afirmou que o governo federal tem atuado em parceria com os dados fornecidos pela ONU e vem buscando tratar os usuários. "Começamos a habilitar 925 leitos em comunidades terapêuticas e estão sendo implementadas 23 casas de acolhimento transitório", citou.

Mais consumo de anfetaminas

Segundo o documento apresentado pelo Escritório das Nações Unidas sobre Drogas e Crime (Unodc), na América do Sul, a prevalência anual do uso de anfetaminas é próxima da média mundial, com estimativas entre 0,5% e 0,7% da população entre 15 anos e 64 anos, ou entre 1,34 milhão e 1,89 milhão de pessoas. Na região, o Brasil, a Venezuela e a Argentina são os países com a maior prevalência e o maior número absoluto de usuários — no Brasil, o percentual é de 0,7%, o maior da região. O relatório informa ainda que o uso dessas substâncias é mais comum entre mulheres "devido aos efeitos anoréxicos e a uma cultura predominante de uso de medicamentos para propósitos de perda de peso".

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